Ricardo Alexino Ferreira é professor na ECA e idealizador e apresentador do programa “Diversidade em Ciência” – Foto: Marcos Santos
O Diversidade em Ciência é um programa de entrevistas radiofônico voltado exclusivamente para a divulgação científica em áreas das ciências das diversidades e direitos humanos. Ele faz parte do projeto de pesquisa Diversidade em Ciência: divulgação científica, direitos humanos e ciências das diversidades no rádio, coordenado por mim, no Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP.
É um projeto interdisciplinar e tem aderência com os campos científicos Midialogia Científica e Etnomidialogia e também dialoga com a extensão universitária. Ou seja, trabalha com os princípios das ciências aplicadas (nesse caso, ciências da comunicação aplicada).
Tanto o projeto quanto o programa radiofônico surgem a partir da observação da lacuna na mídia em relação à cobertura sistemática das questões das diversidades e dos direitos humanos, sob um viés de divulgação científica.
Assim, o programa inaugural do Diversidade em Ciência foi ao ar em primeiro de junho de 2015.
O Diversidade em Ciência tem como formato ser jornalístico de entrevista. Por se tratar de programa de divulgação científica e voltado para a Etnomidialogia, utiliza-se do campo de estudos da Teoria Geral dos Sistemas para a sua construção, trabalhando dessa forma com contextualizações; com conexões de ideias; com localização do tema no tempo e espaço e com a síntese das argumentações gerais, que devem ser dialéticas.
Em sua estrutura, o programa é constituído também por música. A música no programa tem como papel enfatizar o tema da entrevista, buscando com isso a sua humanização e, principalmente, despertar a atenção do ouvinte.
Assim, a música não tem apenas um papel ilustrativo, mas é também mais uma narrativa da fala do entrevistado. A principal característica é a busca do diálogo possível. Tudo isso acontece em 60 minutos de veiculação de cada programa.
O programa inaugural do Diversidade em Ciência foi ao ar em primeiro de junho de 2015
Os entrevistados são especialistas, pesquisadores e cientistas que desenvolvem pesquisas no campo das ciências da diversidade (direitos humanos, questões étnico-sociais, diversidades sexuais, de gêneros, faixa etária e outras), sendo veiculado semanalmente (às segundas-feiras, às 13 horas e reapresentado aos sábados, às 14 horas) na Rádio USP (93,7 MHz/SP e Ribeirão Preto e também ao vivo pelo site http://www.radio.usp.br/?page_id=5404).
Até o presente momento foram levados ao ar 54 edições inéditas. O programa é contínuo.
A Rádio USP alcança toda a capital paulistana em um raio de cerca de 100 quilômetros, além de ter como retransmissora a cidade de Ribeirão Preto. Com isso, atinge um público amplo e diverso.
O tempo total despendido para cada programa feito (entrevista levada ao ar) é de aproximadamente seis horas de trabalho, distribuídas da seguinte forma: duas horas de preparação da pauta e do roteiro; duas horas para preparação do entrevistado e gravação da entrevista; duas horas para edição do áudio.
Todos os programas são gravados nos estúdios do Departamento de Comunicações e Artes/Educomunicação da ECA-USP e contam com profissional especializado em edição de áudio, o servidor técnico João Carlos Megale, formado em Rádio e Televisão.
O Diversidade em Ciência é o resultado dessa construção de pesquisas científicas, que vem provar que o rádio pode ser um eficiente divulgador de ciências
A criação e elaboração do Diversidade em Ciência não é aleatória. A proposição de criar um programa com o princípio de interagir ciência, diversidades e jornalismo se dá a partir de pesquisas acadêmicas que desenvolvi nas últimas décadas, envolvendo o mestrado, o doutorado e a livre-docência.
Desde 1993, com a defesa da dissertação A representação do negro em jornais no centenário da abolição da escravatura no Brasil (ECA-USP) percebi que um novo campo na área de Ciências da Comunicação se constituía, envolvendo aquilo que comecei a chamar de ciências das diversidades e direitos humanos.
Com o avanço da pesquisa de doutorado Olhares Negros: estudo de percepção crítica de afrodescendentes sobre a imprensa e outros meios de comunicação (ECA-USP, 2001), foi possível definir melhores metodologias que tivessem como interface o jornalismo e as questões da diversidade.
A consolidação dessa metodologia ocorreu na tese de livre-docência Os critérios de noticiabilidade da mídia impressa na cobertura de grupos sócio-acêntricos em abordagem etnomidialógica (ECA-USP, 2011), em que percebi que os campos das ciências das diversidades e direitos humanos tinham aderência com o jornalismo.
Porém, percebi também que não havia uma sistemática de cobertura para esse novo campo científico que surgia. Notava-se, ainda, que as coberturas envolvendo ciências das diversidades e direitos humanos eram fragmentadas, factuais e com pouca contextualização e conexão de ideias.
Ainda era uma temática mais presente na mídia impressa e quase não referida no rádio.
O Diversidade em Ciência é o resultado dessa construção de pesquisas científicas, que vem provar que o rádio pode ser um eficiente divulgador de ciências, além de democratizar o pensamento científico, colocando-o de maneira acessível ao público e ligado ao cotidiano.