Todos os anos, desde 2002, professores, alunos e funcionários da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP viajam mais de 3 mil quilômetros para realizar um projeto que une ensino, pesquisa e extensão no meio da Amazônia. Mas por que ir para outro Estado? E por que tão longe?
A história do Projeto FOB USP em Rondônia envolve outra unidade da USP. Em 1997, o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP montou em Monte Negro, Rondônia, um Centro Avançado de Ensino, Pesquisa e Extensão (o ICB-5) para estudo de doenças tropicais. A cidade tem cerca de 10 mil habitantes e está a 250 quilômetros ao sul da capital, Porto Velho.
De acordo com o professor José Roberto de Magalhães Bastos, coordenador do projeto de 2002 a 2006, o convite para a FOB fixar um projeto naquele estado ocorreu em 2002 e partiu do então reitor da USP, Adolpho José Melfi (2001-2005).
“O FOB USP em Rondônia surgiu então como um grande projeto de extensão universitária para fortalecer as bases do ICB em Monte Negro”, conta Bastos, do departamento de odontologia da FOB. Ele lembra que, entre outros docentes, a professora Suely Vilela, então pró-reitora de pós-graduação (e posteriormente reitora entre 2005 e 2009), assim como a professora Maria Fidela de Lima Navarro, da FOB, também foram fundamentais para a criação do projeto de extensão.
“A ideia era levar uma base de atendimento odontológico e fonoaudiológico ao ICB-5, coordenado até hoje pelo professor Luis Marcelo de Aranha Camargo”, explica. “Nossa missão é fortalecer as bases da USP em Rondônia. Lá as pessoas sabem o que é a USP e ficam aguardando ansiosamente a nossa chegada. Isso corre pelo restante do Estado e outras comunidades pedem a nossa visita, mas não temos como fazer”, destaca o professor.
No início, o projeto não contava com verba fixa e era preciso “passar o chapéu” pelas pró-reitorias. Mas isso mudou na gestão do reitor João Grandino Rodas (2009-2013). “Encaminhamos a documentação para que a proposta fosse incorporada ao Orçamento Geral da USP e conseguimos”, comemora o docente. “Graças aos nossos apelos a Universidade entendeu que o projeto era grande o suficiente para se tornar um marco dentro da extensão universitária da USP.”
Bastos ressalta que não se trata de assistencialismo. “Trazemos os alunos para que, dentro de um grande projeto de extensão, estejam alinhados o ensino de graduação e de pós-graduação e a extensão. O atendimento à população é decorrente disso.”
Graças aos nossos apelos a Universidade entendeu que o projeto era grande o suficiente para se tornar um marco dentro da extensão universitária da USP
Expedição Ribeirinhos
A verba fixa no orçamento permitiu então expandir os trabalhos para além de Monte Negro. Foi quando começou a Expedição Ribeirinhos, realizada na comunidade ribeirinha de Calama, um distrito de Porto Velho, com cerca de 3 mil habitantes, na margem direita do Rio Madeira e quase na divisa com o Estado de Amazonas. Não há dentistas nem fonoaudiólogos. A situação é tão precária que o distrito não tem uma farmácia sequer. Porém, há quatro anos, essa situação muda um pouco com a chegada da Expedição Ribeirinhos.
Na última expedição, em setembro de 2016, foram realizados, gratuitamente, extrações, restaurações e limpeza dentária, atividades de educação em saúde bucal, acompanhamentos e avaliações fonoaudiológicas e até a doação e adaptação de aparelhos auditivos, entre outras atividades. Foram 140 pacientes atendidos na odontologia e 106 na fonoaudiologia.
“Penso que esse projeto é uma oportunidade para o aluno aprender gestão, planejamento e administração. Você supervisiona e ele exercita aquilo que aprendeu durante a graduação na FOB. Em Calama, muitas vezes os alunos atendem, em 3 dias, o que não costumam atender no decorrer de um ano, na faculdade. A demanda é enorme”, destaca o professor Bastos.
Em Calama, muitas vezes os alunos atendem, em 3 dias, o que não costumam atender no decorrer de um ano, na faculdade. A demanda é enorme
Monte Negro
Já em Monte Negro a situação é melhor, quando comparada a Calama. A cidade conta com um centro de atendimento médico, mantido numa parceira entre a USP, a Prefeitura local e Faculdade São Lucas, uma instituição privada de Porto Velho.
No último dia 29 de agosto, o Centro Avançado de Ensino, Pesquisa e Extensão do ICB inaugurou em Monte Negro um Ambulatório de Oftalmologia. Único em um raio de 250 quilômetros da cidade, o local oferece serviços para auxiliar o diagnóstico de vícios de refração (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia), doenças na área externa dos olhos e catarata.
Acompanhe nas próximas semanas a série de reportagens sobre a 4ª Expedição Ribeirinhos do Projeto de Extensão Universitária FOB USP em Rondônia, que será publicado no Jornal da USP Especial, em novembro.
Leia mais sobre o projeto FOB USP em Rondônia na reportagem especial do Jornal da USP