A USP sediou, nos dias 20 e 21 de outubro, a conferência internacional Reduzindo as Desigualdades Sociais: O Papel das Universidades, que marcou o 28º aniversário da Magna Charta Universitatum, documento que se tornou referência para os valores e princípios fundamentais das universidades.
Cerca de 130 dirigentes e representantes de universidades, entidades e instituições governamentais nacionais e internacionais participaram do evento.
Todo ano, o Observatório Magna Charta Universitatum organiza um encontro para elencar desafios atuais em confirmação aos valores fundamentais das instituições de ensino superior. Esta foi a primeira vez que o evento foi realizado fora da Europa, com a coordenação da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani).
A Universidade de Bolonha, na Itália, fundada em 1088, é considerada a universidade mais antiga do mundo ocidental. Em setembro de 1988, quando comemorou 900 anos de fundação, 388 reitores assinaram a Magna Charta Universitatum, dentre eles, o então reitor da USP, José Goldemberg.
Na conferência promovida na USP, mais três instituições passaram a subscrever o documento – Universidade do Minho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Minas Gerais – que se somaram às mais de 800 universidades de 85 países que já constam no documento.
O reitor Marco Antonio Zago deu início ao evento, no dia 20 de outubro, comemorando o fato de a USP sediar a conferência. “As universidades representam as forças líderes para as mudanças sociais. São instituições que transcendem as fronteiras e influenciam a vida das regiões em que estão inseridas”, afirmou.
O presidente do Observatório Magna Charta Universitatum, Sijbolt Noorda, ressaltou os principais desafios do ensino superior no mundo atual: o acesso dos estudantes, a formação dos profissionais e a manutenção dos valores acadêmicos.
Para o reitor da Universidade de Bolonha, Francesco Ubertini, “a educação significa a criação de valores e não apenas a transmissão de conhecimento. Precisamos encarar esses desafios juntos para construir uma sociedade mais sustentável”.
Na ocasião, também foi realizado o rito de passagem da celebração do próximo aniversário da Magna Charta, em 2017, que será realizado na University of Pécs, na Hungria.
Acompanhe, a seguir, um resumo da programação da conferência.
Luta
A palestra que marcou a abertura da conferência teve como mote a educação e a luta contra as desigualdades e foi ministrada pelo ex-primeiro-ministro da Espanha e titular da Cátedra José Bonifácio da USP, Felipe González. Segundo ele, vive-se hoje uma crise mundial de governança da democracia representativa e as respostas aos desafios que se vislumbram diante desse cenário estão na educação. “As universidades devem preparar os jovens para as incertezas do futuro”, considerou.
Painéis
No dia 21, os trabalhos começaram com dois painéis, sobre universidade cidadã e igualdade de gênero, que contaram com a participação de pesquisadores da Universidade de Bolonha, via videoconferência. “O respeito ao gênero, à orientação sexual, à religião e aos direitos humanos deve ser buscado. A universidade deve ser um lugar de emancipação, inclusão e diversidade”, destacou a professora de História Contemporânea da Universidade de Bolonha, Patrizia Dogliani.
Paradigmas
A segunda palestra principal foi a da embaixadora do México no Brasil, Beatriz Paredes Rangel, que falou sobre a crise do paradigma da educação na América Latina. “A sociedade só conseguirá promover mudanças se cada vez mais jovens tiverem acesso ao ensino superior. A nova era demanda novas estratégicas de ação e de investigação. Na era do conhecimento, a América Latina não pode ficar fora da história”, afirmou.
Universidade 10.0
O reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Andrade, foi um dos convidados para a mesa-redonda que discutiu o futuro das universidades. “A universidade 5.0 já está entre nós: universidades sem limites e sem paredes, educação e pesquisa em larga escala, cursos técnicos e a pressão por transparência pela sociedade. Em 2038, será a vez da universidade 10.0”, avaliou.
Compromisso
Os desafios da autonomia universitária e da cooperação internacional foram o tema do terceiro painel da conferência, que contou com a presença do reitor da Universidade do Chile, Ennio Vivaldi. Segundo ele, a reforma universitária de 1918 [movimento estudantil que teve início na Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina, e se estendeu a outras instituições do continente] estabeleceu um novo modelo de autonomia e compromisso social para as universidades latino-americanas. “As instituições devem cumprir a dupla tarefa de estarem na fronteira do conhecimento e pertinentes para as necessidades regionais.”
Workshops
Os participantes da conferência tiveram a oportunidade de participar de dois workshops, em que foram discutidos dois temas: as perspectivas estudantis sobre o ensino superior, a desigualdade social e a Magna Charta Universitatum e a igualdade de gêneros. O primeiro foi conduzido pela vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Tamires Sampayo, e pelo membro do Conselho do Observatório da Magna Charta, Rok Primozic (foto). O segundo teve à frente a representante do Grupo Mulheres do Brasil, Denise Damiani.
Liberdade
A palestra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso marcou o encerramento da programação da conferência. “Sem a liberdade, a universidade não avança e, sem a universidade, a sociedade não avança. Não se trata de retórica. É um modo de vida contemporâneo que está ligado a essas instituições. Temos de pensar sobre as instituições políticas. A democracia representativa começa a ser posta em dúvida no mundo todo e não sabemos como atuar e a Universidade terá que começar a discutir essas questões, pois ela mesma está em jogo”, afirmou.
Da Assessoria de Imprensa da USP