Arte sobre foto/Pixabay David Ferrari
Projeto usa o cinema para falar de geopolítica e relações internacionais
Capitão América, Tropa de Elite 2 e Parasita são algumas das produções analisadas pelo projeto CineGRI, que faz podcast, webcineclube, blog e revista para contribuir com debates
15/10/2020
David Ferrari
Capitão América, Tropa de Elite 2 e Parasita são filmes diferentes em muitos aspectos. O primeiro fala sobre heróis, o segundo traz a tênue relação entre policiais e milicianos e o terceiro destaca a desigualdade social na Coréia do Sul. Apesar de temáticas distintas, eles podem contribuir para análises de âmbito político e social dos contextos retratados, segundo o CineGRI. O projeto de extensão da USP relaciona cinema com geopolítica e relações internacionais a partir da produção de vídeos, podcasts e textos, além de webcineclubes.
A ideia do projeto surgiu em 2015 a partir de três alunas da USP – de Geografia, História e Relações Internacionais – apaixonadas por cinema e interessadas em aprofundar o debate público sobre política internacional por meio da linguagem audiovisual. Ainda que hoje haja homens participando, o grupo é predominantemente de mulheres que utilizam o seu conhecimento acadêmico para discutir sobre poder, segurança, direitos humanos, desigualdade espacial, identidade e cotidiano através das produções cinematográficas. Atualmente, são 12 participantes de diversos institutos, como Instituto de Relações Internacionais (IRI), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e Faculdade de Direito (FD).
“O projeto foi criado para cobrir uma lacuna que existia de levar um pouco de cinema vinculado à Universidade para a sociedade”, justifica Rafael Duarte Villa, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP e coordenador do grupo que é vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI) da USP.
Luz, câmera e ação
Entre as atividades do projeto está a TV CineGRI. Um canal no YouTube que relaciona questões dos filmes e os compara com situações contemporâneas. “Produzimos vídeos curtos com abordagem descontraída, pois queremos democratizar o ensino acadêmico através de uma linguagem dita ‘mais acessível’”, destaca Larissa Santos, voluntária e cofundadora do grupo de extensão.
De acordo com Marcela Sayuri, integrante do CineGRI, muitos dos filmes escolhidos para serem analisados pelo canal têm relação com a popularidade dele. “Buscamos os filmes que estão em maior evidência para que possamos relacionar os conteúdos mainstream (‘populares’) com geopolítica e relações internacionais”, explica.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2019/03/aspas_cinza.png)
Apesar das correntes ou senzalas terem deixado de figurar o padrão normal das relações humanas há alguns bons anos, hoje são inúmeros os relatos de pessoas em condições de trabalho que remetem a uma escravidão contemporânea. O filme Parasita (2019), do diretor Bong Joon Ho, recente vencedor do Oscar-2020 na categoria de melhor filme, pode nos ajudar a compreender melhor o porquê desse fenômeno
Trecho de análise feita pelo CineGRI do filme sul-coreano Parasita.
TV CineGRI
No YouTube, o grupo CineGRI apresenta os debates sobre produções cinematográficas de sucesso que trazem questões sobre geopolítica. O objetivo é ampliar a discussão ao público geral por meio da linguagem cinematográfica, que apresentam mensagens importantes e de reflexão de modo mais dinâmico e agregador.
Um, dois, três...
testando, som
O CineGRICast é o podcast do grupo. O propósito do formato em áudio é abordar as questões de geopolítica e relações internacionais inseridas no filme de maneira mais aprofundada. As produções têm em média 50 minutos de duração e a praticidade é o principal diferencial.
“Queríamos nos aprofundar nos temas. Como o podcast nos dá essa possibilidade, adotamos esse formato. Trazemos estudantes da graduação e pós-graduação, e também professores, quando possível”, diz Marcela.
Webcineclube
Antes da pandemia, o grupo promovia os cineclubes, eventos presenciais abertos à comunidade que tinham uma sessão de um filme seguido de uma roda de conversa. Com a paralisação das atividades presenciais, o grupo criou a edição virtual, chamada de Webcineclube.
“Marcamos um horário para todos darem o play ao mesmo tempo e, depois que assistimos, nos encontramos no Google Meet para fazer o debate”, explica Larissa Santos. Os eventos são organizados através das redes sociais do CineGRI.
Material de divulgação do Webcineclube
nas redes sociais do CineGRI.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2020/10/20201014_webcineclube_cinegri.jpg)
Blog
Uma das áreas mais atuantes do grupo é o Blog do CineGRI. Pelo site, os integrantes produzem análises sobre diversos filmes e relacionam com temáticas de geopolítica e relações internacionais. Segundo Larissa, “o blog é um eixo histórico do CineGRI. Desde o começo, publicamos textos curtos com análises de filmes e perspectivas de críticas.”
Escravidão, desigualdade social, aquecimento global e questões religiosas são alguns dos temas abordados pelo grupo.
Revista CINEstesia
O projeto mais recente do grupo é a revista CINEstesia, que teve a sua edição piloto publicada no último mês de setembro. De acordo com Larissa, o periódico é um espaço voltado para que graduandos possam veicular suas produções. “A CINEstesia é uma publicação estudantil, composta por produções de alunos da graduação. A primeira edição tem o tema de cinema latino-americano e subdesenvolvimento. Temos algumas produções textuais ditas ‘tradicionais’, como artigos científicos, como também de cunho artístico, como ensaio fotográfico”.
A revista é anual e pode ser acessada através do site da Revistas USP.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2020/10/20201014_revista_cinestesia.png)