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Um acordo técnico de cooperação entre a USP e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paul tem capacitado engenheiros agrônomos para mapear as áreas aptas para o reúso de água da agroindústria na agricultura do Estado. Os treinamentos ocorreram entre agosto e setembro e os temas desenvolvidos fazem parte de projetos de pesquisadores de pós-doutorado pelo Programa USP Sustentabilidade (USPSusten), coordenado pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP. Entre estes está o mapeamento da aptidão agrícola para reúso da água na agricultura para disseminar práticas para um uso mais sustentável e eficiente da água no setor.
“Além de entender que a prática do reúso é sustentável e muito promissora para os próximos anos, temos que compreender também qual a região que permite esse reúso. Esse acordo vislumbra mostrar para os gestores as regiões aptas para fazer o reúso de água na agricultura. Muitas regiões têm esse potencial”, explica a engenheira ambiental Ana Paula Pereira Carvalho, pesquisadora do USPSusten.
Os cientistas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP propuseram uma metodologia para que os profissionais estejam capacitados para avaliar essas áreas de reúso. Foram analisadas duas regiões hidrográficas do Estado de São Paulo: a bacia do Rio Mogi-Guaçu, tecnicamente conhecida como UGHRI-09, e a bacia do Rio Piracicaba, que compõe a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ou UGRHI-05.
Ao todo, 15 engenheiros agrônomos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) participaram da capacitação no campus de Pirassununga da USP e estão habilitados para mapear outras bacias hidrográficas do estado. Mas nem todas as regiões têm o mesmo potencial para receber água de reúso da agroindústria na agricultura: isso depende de fatores ambientais e características físicas de cada região, que vão desde as propriedades do solo e do relevo até a configuração do uso e cobertura do solo. “Tem uma questão de logística. Nem sempre a produção desse efluente está próxima de uma área agrícola apta a receber. Há uma questão de viabilidade econômica da produção”, ressalta Tamara Maria Gomes, professora da FZEA da USP.
Considerando esses critérios, o mapeamento da USP apresentado aos técnicos da Cati mostrou que a bacia hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu tem alta aptidão para o reúso de água na agricultura. Como a região é predominantemente agrícola, a água de reúso pode ser aplicada principalmente nesse setor.
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Reúso de água na agricultura
A prática de reúso de água para irrigação na agricultura é comum em outras partes do mundo. No Kuwait, por exemplo, cerca de 32% da água do setor de irrigação vem de reúso. Em Israel, esse número está em 24%. A prática se destaca em regiões com escassez de água e, assim, é uma possibilidade para São Paulo enfrentar períodos de estresse hídrico.
“Seria uma prática eficiente e com maior sustentabilidade dentro daquela cadeia, porque pega algo que era um problema, o efluente, e transforma em um novo negócio. Abre-se uma possibilidade do ponto de vista econômico”, diz Patrícia Iglecias, superintendente de Gestão Ambiental da USP e responsável pelo acordo técnico com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
O projeto de reúso de águas da agroindústria na agricultura está em sintonia com o Plano Estadual de Irrigação. Segundo este plano, São Paulo deve chegar a 2030 com 30% de suas áreas agrícolas irrigadas, aumentando os atuais 6%. “A irrigação é uma ferramenta poderosa para o aumento de produtividade, mas ela demanda água. Podemos melhorar a sustentabilidade com água de reúso”, ressalta a professora Tamara.
Por conta da irrigação, a agricultura é o setor que mais consome água no Brasil: 50,5% do volume total, se comparado com outras demandas, como o abastecimento humano com água potável e o uso na indústria, segundo o Relatório da Conjuntura de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.
Guia agrícola
O Guia da Aptidão Agrícola para o Reúso da Água em Regiões Hidrográficas, de autoria das pesquisadoras do USPSusten Ana Paula Pereira Carvalho e Tamara Maria Gomes, já está disponível para download gratuito, e apresenta os dois casos estudados. Segundo Guilherme Piai, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a publicação apresenta uma opção metodológica de reúso de águas residuárias das agroindústrias, como alternativa para os produtores rurais nos processos de irrigação, sobretudo em períodos de estiagem.
“Aos gestores públicos das municipalidades paulistas, oferecemos métodos e estratégias para mapear as regiões hidrográficas que possuem aptidão agrícola para irrigação por efluentes oriundos das agroindústrias, colaborando potencialmente com o desenvolvimento regional e na melhoria da qualidade das produções agropecuárias de nosso Estado em todos os seus elos, chegando ao consumidor final produtos ambientalmente responsáveis em todas as fases de produção.”
Para ele, “a união de esforços com a USP, para subsidiar as gestões municipais com esta publicação, ratifica o compromisso de nossa gestão no exercício da transversalidade e intersetorialidade para efetivação de políticas públicas para o estado de São Paulo, consolidando exemplos de boas práticas de governança e gestão públicas”.
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*Texto adaptado da matéria da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo