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Arte sobre foto do álbum Tropicália – 1968 / Philips Records – Jornal da USP
Movimento Tropicalista ressignificou características brasileiras
Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostra engajamento político por trás de ações artísticas
Com ideais de nação, o Tropicalismo, ou Tropicália, foi um movimento que embalou artistas brasileiros em diferentes setores. Embora a música possa ser o mais conhecido entre eles, as artes plásticas e literárias também sofreram influências. Hélio Oiticica na pintura e Glauber Rocha no cinema são exemplos de artistas influenciados pela Tropicália fora da música.
A busca desses artistas por ressignificação de características brasileiras, por vezes consideradas razão de atraso para o País, integra as pesquisas de Rafael Marino na tese Da Tropicália à Verdade Tropical: um estudo sobre as ideias político-culturais do Tropicalismo. O doutorado é desenvolvido no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em São Paulo. A previsão é de que a pesquisa seja defendida no primeiro semestre de 2023.
Em conversa com o Ciclo22, o pesquisador falou sobre ideias nacionalistas por trás do movimento artístico e de que maneira alguns artistas demonstraram tal influência em suas produções.
A política na cultura
A Tropicália ficou conhecida no país por ter entre seus representantes artistas musicais como Caetano Veloso. Para Marino, o cantor é, inclusive, um dos artistas que mais representam as ideias políticas por trás do movimento.
Foi durante o período de exílio, entre 1969 e 1971, fugindo da repressão imposta pela ditadura militar que o cantor desenvolveu maneiras de ressignificar “brasilidades”. As características exaltadas na música destacam a miscigenação e uma maior sociabilidade do povo brasileiro comparada a outros povos, muito mais tecnicistas na visão do cantor. A lusofonia é outra das características que tornam o País peculiar e diferente dos demais para tropicalistas como Caetano.
“Ele [Caetano Veloso] vai dizer que o Brasil é como se fosse uma espécie de farol para mostrar que o mundo não precisa ser materialista, não precisa ser mecânico. Ele pode ser ideal e sensual”, comentou Rafael Marino.
Para firmar, então, a ideia fixa de nação, os artistas do movimento usaram de diversos símbolos nacionais. Características sobre o clima e as frutas tropicais, como a banana, por exemplo, foram fortemente exploradas como símbolos de riqueza do País, disse o pesquisador.
Para ele, a cultura é uma boa forma de entender o pensamento político de um país. Por vezes, as paixões políticas se traduzem mais nas artes que na contagem de votos, conforme defendeu.

Rafael Marino, pesquisador da FFLCH - Foto: Arquivo pessoal
“Dentro desse estudo do Tropicalismo há um arcabouço de imagens, ideias e discursos que a gente pode chamar de tropicalidade. É quase um orientalismo que moveu e move muitos agentes e estados, inclusive a própria construção do Brasil enquanto Estado Nacional independente”, destacou o pesquisador.
Dentro das diversidades de paisagens e constituição do povo, mostra o estudo de Marino, os tropicalistas encontraram características únicas que definiram o território como nação.
O pesquisador e a pesquisa
Rafael Marino é cientista político e animador cultural no Sesc (Serviço Social do Comércio). Além de analisar fontes bibliográficas e documentos, o pesquisador explora materiais como cartas que mostram o contexto vivido pelos artistas que fizeram parte do Tropicalismo.
Por meio do seu estudo, ele busca encontrar diferentes maneiras de olhar para o comportamento político. “Quando você junta cultura e política para fazer um estudo, isso dá um sentido interessante para as coisas. Você consegue enxergar a longo prazo e consegue ter uma possibilidade de estudo comparado de ideias de comportamento político”, afirmou.

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