Foto: Marcos Santos/USP Imagens

FEA contribui com debate político, econômico e social do País há 75 anos

Professores e ex-alunos da unidade da USP, em São Paulo, ocuparam cargos em ministérios; programação comemorativa terá série de aulas magnas com personalidades do cenário político, científico e acadêmico

 30/09/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 07/10/2021 as 12:24

Da Redação

Um mundo pós-guerra, com países e economias a serem reconstruídas. No Brasil, um ideário nacional-desenvolvimentista demandava profissionais para estudar as perspectivas e projeções econômicas. Esse era o cenário quando foi criada a então Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA) da USP. O ano era 1946, e ela começou a funcionar com os cursos de Ciências Econômicas e o de Ciências Contábeis e Atuariais. 

Em 75 anos de história, a atual Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, acompanhou e participou ativamente das profundas transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas no País. Seja com pesquisas, produção de indicadores, formação de profissionais que atuam em empresas e, sobretudo, na administração pública, seja com ações para a sociedade que influenciam as políticas públicas do País.

Celeiros de economistas ilustres, a FEA é marcada pela coexistência de várias correntes de pensamento e pluralidade ideológica. Docentes, ex-alunos e pesquisadores formados na faculdade têm sido responsáveis por ditar os rumos da economia brasileira.  

O professor Antonio Delfim Neto foi ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento em diferentes governos do regime militar. O professor João Sayad (1945-2021) foi ministro do Planejamento de Sarney; já o professor Luiz Carlos Bresser Pereira foi ministro da Fazenda do mesmo governo.

A ex-estudante e ex-professora Zélia Cardoso de Mello foi ministra da Economia no governo Collor. O ex-aluno de Economia Guido Mantega foi ministro do Planejamento e da Fazenda nos dois mandatos do presidente Lula e da Fazenda no primeiro governo Dilma. 

Clique no player abaixo e confira o programa Desafios sobre o futuro do ensino de economia, administração e contabilidade, com Fábio Frezatti e José Afonso Mazzon, dirigentes da FEA-USP

Esses são apenas alguns exemplos, a lista é longa e inclui o professor Paul Singer (1932-2018), um dos pioneiros a trabalhar no Brasil o conceito de economia solidária, baseada na produção com autogestão, sem patrões e empregados. De  2003 a 2016, ele foi secretário nacional de Economia Solidária nos dois governos Lula e Dilma. 

Ainda que a faculdade tenha sido criada com foco nas ciências econômicas, ao longo dos anos, as outras áreas do conhecimento em Administração e Ciências Contábeis e Atuariais também ganharam destaque.

Antonio Delfim Neto, João Sayad, Zélia Cardoso de Mello, Luiz Carlos Bresser Pereira, Guido Mantega e Paul Singer: ministros e personalidades políticas que passaram pela FEA - Fotos: Wikipedia e Marcello Casal Jr/Agência Brasil

“A influência da FEA em todas as dimensões dos pilares é percebida nos mais variados rincões do País, onde encontramos profissionais que passaram pela FEA. As contribuições nas áreas de economia, administração, contabilidade e atuária mostram que o investimento feito pela sociedade paulista teve e tem benefícios muito mais amplos do que se poderia sonhar 75 anos atrás. Olhando a trajetória das pessoas que passaram pela faculdade, temos destaques nas mais variadas dimensões, seja em entidades governamentais, na iniciativa privada ou mesmo nas entidades sem finalidades lucrativas”, destacam os professores Fábio Frezatti, diretor da FEA, e José Afonso Mazzon, vice-diretor da FEA, em mensagem de comemoração dos 75 anos da faculdade.

Aulas magnas

Para comemorar o aniversário da faculdade, será realizada a série de aulas magnas FEA 75 – a Nova Era em construção. Todas serão on-line e abertas ao público, os links de transmissão estão disponíveis clicando aqui. Elas começam dia 4 e vão até 8 de outubro. Entre os convidados estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a dar aulas na faculdade por um ano, e a deputada federal Tabata Amaral. 

Um dos destaques da programação é a palestra 75 anos de CAVC: uma reflexão sobre o futuro da educação. Ela será no dia 7 de outubro, às 17h45, e terá a participação do diretor da FEA, o professor Fábio Frezatti, e a atual presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), Fabiana Martins do Rego. 

Clique nos nomes abaixo para ter acesso aos links de transmissão:

04/10 às 11h15 – Fernando Henrique Cardoso
05/10 às 17h45 – Patricia Ellen da Silva
06/10 às 17h45 – Sergio Gusmão 
07/10 às 11h15 – Carlos Henrique de Brito Cruz
07/10 às 17h45 – Fabiana Martins do Rego
Tabata Amaral  (data a definir)

Como tudo começou

Em 1945, o governo de Getúlio Vargas tinha estabelecido os padrões oficiais para os cursos de economia, administração de negócios, contabilidade e ciências atuariais, com o Decreto-Lei nº 7.988. Até então, o ensino de economia ocorria dentro de outras formações como direito, engenharia e comércio e tinha um caráter mais complementar, direcionado à formação cultural do aluno. 

Enquanto isso, no Estado de São Paulo, a intensa industrialização principalmente da capital paulista gerou profundas transformações. A criação da FCEA, em 1946, veio para atender às necessidades de ensino e pesquisa nas áreas econômicas tanto para o Estado quanto para o País.

O Departamento de Economia surgiu junto com a faculdade a partir de seu curso de Ciências Econômicas, implementado com o nome de Ciências Econômicas e Administrativas em 1946.

Aula em 1947, com o professor Attílio Amatuzzi

Aula Magna com Antonio Ferreira Cesarino em 1955

Recepção de calouros em 1965

Presidente Médici inaugura prédio da FEA em 1971

Fotos: Divulgação / FEA-USP

Entre 1958 e 1964, uma comissão começou a estudar e propor mudanças no curso, como a criação de disciplinas de natureza aplicada e a ampliação do campo de atuação das cadeiras já existentes, oferecendo disciplinas relacionadas com problemas da atualidade econômica internacional e brasileira.

O Departamento de Administração surgiu em 1964, mas sua semente foi plantada em 1946, com a criação do Instituto de Administração (IA) no âmbito da faculdade. O Professor Emérito da FEA Sérgio Baptista Zaccarelli (1931-2013) e seu mestre e mais tarde colega, o professor Ruy Leme (1925-1997), juntos, desenharam as bases, com outros professores da EAESP/FGV e da Michigan State University, de um futuro curso de Administração de Empresas no Brasil.

Uma reforma estrutural interna, em 1964, reorganizou a faculdade em cinco graduações: Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Ciências Atuariais, Administração de Empresas e Administração Pública. 

Já em 1969, a Reforma Estrutural da USP mudou o nome de FCEA para Faculdade de Economia e Administração (FEA), com a divisão dos departamentos em Economia, Administração e Contabilidade.

Até então, as aulas da faculdade ocorriam na Rua Doutor Vila Nova, na Vila Buarque, na capital paulista. Em 1970, ela se transfere, assim como outras unidades da USP, para o seu atual endereço: o campus Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira, no bairro Butantã. 

Em 1990, a FEA foi nomeada oficialmente Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Dois anos depois, foi fundada a extensão da FEA na cidade de Ribeirão Preto, oferecendo os cursos de Economia, Administração de Empresas e Contabilidade. Inicialmente subordinada à direção da FEA da capital, a unidade do interior adquiriu autonomia administrativa em 2002.

Prédio da FEA-USP na Cidade Universitária - Fotos: USP Imagens

75 anos do CAVC

Assembleia de estudantes da FEA liderada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu - Foto: Reprodução / Facebook CAVC

Quando a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, que hoje é a FEA, foi criada em 1946, também nascia ali o corpo representativo dos alunos na faculdade: o Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC). O nome é uma homenagem ao ministro das finanças de Dom João VI, um dos responsáveis pela abertura dos portos e leis de liberalização. 

O histórico do CAVC passa por várias lutas estudantis, como a greve de 1947 contra os professores que eram contratados sem concurso público, ou a de 1956, contra irregularidades na constituição e formação do corpo docente. 

Durante o período militar, um movimento de alunos conservadores tentou fechar o centro acadêmico, e uma intervenção da diretoria da faculdade e de um grupo de estudantes permitiu que ele permanecesse, mas foi necessário que uma diretoria menos representativa assumisse.

Após a decretação do AI-5, a repressão tornou-se maior e várias entidades estudantis foram desmanteladas. O CAVC tentou resistir, e o ano de 1969 foi marcado por alta perseguição aos alunos, que culminou na prisão e tortura do presidente do centro acadêmico na época, Paulo Beskow.

Além de debates e seminários políticos, acadêmicos e conjunturais, o CAVC também estimula a formação de grupos de estudos e a publicação de artigos dos alunos, possui um projeto de apoio à iniciação científica, o Controversa, e organiza outros eventos para estimular a integração, como as festas, ou para incentivar as manifestações culturais e descobrir novos talentos, como ações em teatro, coral e publicações de jornais, como o Visconde e revistas. É o Centro Acadêmico também que organiza as semanas temáticas, como o Festival de Arte da FEA-USP, ou o FEAmbiental. 

Atualmente, sua principal fonte de renda vem do curso de idiomas, o CAVC idiomas, que foi criado em 1989 e desde então vem crescendo. Ele é um dos maiores cursos de idiomas administrado por um centro acadêmico da USP. Assim, o CAVC pode apoiar, principalmente financeiramente, diversas outras entidades da FEA, como a Bateria S/A, o Alfa USP e o Cursinho da FEA-USP.

Siga o CAVC nas redes sociais: https://www.facebook.com/cavcfea

As fundações Fipe, FIA e Fipecafi

Quem já comprou um carro usado ou o vendeu já deve ter ouvido falar da chamada Tabela Fipe, que traz preços médios de veículos anunciados pelos vendedores, no mercado nacional, servindo como um parâmetro para negociações ou avaliações. Esse é apenas um dos vários índices e indicadores econômicos e financeiros produzidos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a Fipe.

Ela é uma organização de direito privado, sem fins lucrativos, criada em 1973 por professores da USP, para apoiar instituições de ensino e pesquisa, públicas ou privadas, em especial o Departamento de Economia da FEA. 

A Fipe analisa os fenômenos econômicos e sociais com base no instrumental teórico e metodológico da Economia, para contribuir para o debate dos problemas econômicos e sociais do Brasil e a expansão do conhecimento econômico. 

Entre os índices produzidos pela Fipe estão:

  • Índice de Preços do Setor de Asseio e Conservação (IPAC)
  • Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
  • Índice de Preços de Obras Públicas (IPOP)
  • Índice de Preços Regionais
  • Índice Fipezap
  • Índices de Consumo em Supermercados 
  • Índice de Consumo em Restaurantes

Indicadores produzidos pela Fipe:

  • Indicador de Liquidação Antecipada (ILA)
  • Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
  • Preço Médio de Veículos (Tabela Fipe)
  • Salariômetro
  • Indicadores Abrainc/Fipe
  • Radar Abrainc/Fipe
  • CEMEC-Fipe
  • Indicadores do Registro Imobiliário
  • Indicador Antecedente do Mercado Imobiliário

Um ano depois da Fipe, em 1974, professores do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA criaram a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). A entidade fomenta o conhecimento em contabilidade, atuária e finanças, além de oferecer ao mercado serviços para a formação de profissionais e capacitação contábil, atuarial e financeiro e em campos multidisciplinares.

Uma das iniciativas realizadas pela fundação foi a elaboração do primeiro Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações (1978), referência para estudantes e profissionais ligados ao setor. Dessas iniciativas seguiram-se muitas outras, como a contratação de cursos por empresas estatais como Eletrobrás, Banco Central do Brasil, CVM, Petrobrás, Banco do Brasil, Vale do Rio Doce (atual Vale S.A.) e de outras centenas de cursos por empresas privadas que precisavam conhecer, em maior profundidade, as novas normas contábeis e a sua aplicação.

Projetos de treinamento de executivos e consultoria para empresas públicas e particulares, além de estudos e pesquisas. Esses são alguns dos campos de atuação da Fundação Instituto de Administração (FIA). Ela foi criada em 1980 e é uma entidade privada criada por professores da FEA. Sua origem está ligada ao Instituto de Administração (IA) e ao Fundo de Pesquisa do Instituto de Administração (Funad), criado em 1959.

Com interesse social, sendo órgão de utilidade pública desde 2005, a FIA desenvolve projetos de treinamento de executivos e consultoria para empresas públicas e particulares, além de estudos e pesquisas. São projetos dirigidos por professores da FEA e também auxiliados por consultores e pesquisadores.

Desde sua origem, a fundação já desenvolveu mais de 3.000 projetos, realizados em todo o país e atingindo áreas econômicas de grande relevância, como saúde, previdência, segurança pública, meio ambiente, terceiro setor e outras.


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