Ciência e arte orientam debates on-line sobre condições de vida da população negra

Série de encontros durante o mês de outubro pretende contribuir para questões de saúde pública e terá a filósofa Lélia Gonzalez como homenageada

 05/10/2020 - Publicado há 4 anos
Evento terá encontros durante o mês de outubro – Foto: Reprodução/FSP

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Perspectivas e desafios na vida e na saúde da população negra brasileira estarão em debate no evento Outubro Negro Amefricanidades: Potências Negras no Brasil, nos dias 7, 14, 21 e 27 de outubro, numa parceria entre a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e o Coletivo Negro Maria Carolina de Jesus, que ocorre todos os anos para colocar estudantes e pesquisadores da saúde em contato com a produção intelectual negra e suas contribuições para os campos científico, político e cultural.

Este ano o evento será on-line, com transmissão pelo canal da FSP-USP no YouTube, e terá a participação de professores, pesquisadores e ativistas negras e negros que também vão falar dos efeitos do racismo e da luta antirracista no Brasil. A edição deste ano terá como homenageada Lélia Gonzalez, filósofa, antropóloga e ativista social que se destacou no feminismo negro brasileiro e nas questões da identidade “amefricana”.

“O Outubro Negro foi criado a partir da constatação da lacuna de debates sobre condições de vida e saúde da população negra, lacuna que, ainda hoje, está presente nos currículos dos cursos de graduação e pós-graduação, nas atividades de pesquisa e de extensão, nos eventos que são realizados e no corpo docente, quase exclusivamente composto por professores brancos em instituições públicas e privadas que oferecem formação em saúde no Brasil”, explica Érica Peçanha, que foi professora da FSP, idealizadora do Outubro Negro e parceira do Coletivo Carolina de Jesus na organização do evento desde 2018.

Érica destaca que o evento tem cumprido o seu papel em apresentar ativistas e intelectuais negras e negros para os estudantes, funcionários, pesquisadores e docentes da instituição, mas também para um público externo que tem sido bastante expressivo desde a primeira edição. “Já homenageamos a escritora Carolina de Jesus, a socióloga e psicanalista Virginia Bicudo e, neste ano, vamos celebrar a filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez”, conta. “Com isso, damos visibilidade às suas trajetórias, produções artístico-intelectuais e ativismos, e cumprimos o papel de situar negras e negros como produtores de conhecimento em diferentes áreas do saber, para além serem denunciantes das desigualdades sociais, porta-vozes de demandas ou protagonistas da luta antirracista”,  explica Érica, enfatizando que o evento tornou-se tão importante que entrou para o calendário regular da FSP.

A edição virtual terá mesas de debate e entrevistas, além de apresentações artísticas, com a participação de mulheres ligadas a temas que dialogam com o pensamento de Lélia Gonzalez.

Evento faz homenagem à filósofa e ativista Lélia Gonzalez – Foto: Wikimedia Commons

No dia 7 de outubro, às 19 horas, a mesa O pensamento e o legado de Lélia Gonzalez vai abordar a trajetória da homenageada e tratar das suas contribuições intelectuais e políticas para os estudos raciais e de gênero no Brasil. A apresentação será da socióloga Elizabeth Viana, cofundadora da Ação Negra de Nilópolis, ex-aluna e pesquisadora da obra e do legado de Lélia Gonzalez. O evento terá a apresentação de Nega Duda, cantora que dedica-se à preservação da cultura afro-brasileira e dos cantos dos orixás.

Na roda de entrevista Trajetórias inspiradoras no Brasil, dia 14 de outubro, às 19 horas, a historiadora Giovana Xavier falará sobre sua trajetória como acadêmica e ativista, trazendo a contribuição de outras mulheres negras que se constituíram como fontes de inspiração. Giovana também é idealizadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras Visíveis e autora do livro Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando as suas próprias histórias.

No dia 21, também às 19 horas, a mesa Travessias Literárias Afro-Diaspóricas vai tratar da produção e da circulação das obras artísticas e intelectuais de autoria negra na diáspora com Denise Carrascosa, professora e líder do Grupo de Pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro, e Maria Nilda Mota, a Dinha, pós-doutoranda no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, professora da rede pública, escritora e editora da MeParió Revolução.

No última atividade do Outubro Negro, a roda de entrevista Potências Negras e Bem Viver, às 19 horas, terá a psicóloga Clélia Prestes, do Instituto AMMA Psique e Negritude, e a jornalista Sueide Kintê, criadora de conteúdo que dissemina conhecimento acerca de asè, autocuidado e bem viver. Ambas vão falar sobre saberes, cuidados, potências e formas de bem viver ancestrais.

O encerramento será às 20h30 com a apresentação da cantora e dançarina Nara Couto, pesquisadora das culturas africana e afro-brasileira.

 

Sobre o Coletivo Negro Maria Carolina de Jesus

Formado por estudantes de saúde pública, o Coletivo Negro Maria Carolina de Jesus foi criado para pautar e discutir a questão racial na USP. Também é um espaço de acolhimento para alunos negros e negras da FSP e de estudos sobre o tema. Saiba mais sobre o coletivo em: www.facebook.com/coletivonegrofsp

III Outubro Negro
Amefricanidades: Potências Negras no Brasil
Dias 7, 14, 21 e 27 de outubro
Transmissões a partir das 19 horas no canal da FSP no YouTube, neste link.


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