Análise do desempenho de estudantes revela desigualdade entre escolas da mesma rede

Estudo da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, da USP em Ribeirão Preto, foi utilizado no desenvolvimento de ações para melhorar a qualidade da educação no interior do estado

 17/01/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 19/01/2022 às 16:57
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Secretaria Municipal de Educação de Ribeirão Preto utilizou artigo da Cátedra para traçar ações que tragam maior igualdade ao desempenho das escolas no município. Foto: Reprodução/Prefeitura da cidade de Ribeirão Preto.

 

Uma análise produzida pela Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP, está ajudando a promover mudanças positivas na rede de ensino do município. As modificações refletem a concretização do objetivo deste primeiro ciclo da Cátedra, que é justamente contribuir com políticas públicas que gerem melhoria na qualidade da educação brasileira.

Em 2020, o titular da Cátedra, professor Mozart Neves Ramos, e o coordenador do IEA-RP, Antônio José da Costa Filho, analisaram indicadores do aprendizado escolar em escolas municipais da cidade com o objetivo de identificar padrões de comportamento na proficiência, ou seja, nas habilidades dos estudantes em língua portuguesa e matemática. Foram utilizados o percentual de alunos com aprendizado adequado nessas disciplinas e dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do 5° e 9° anos do Ensino Fundamental para os anos de 2013, 2015 e 2017. A análise gerou um artigo publicado no Portal Nova Escola em maio de 2020.

O coordenador do IEA-RP, Antônio José da Costa Filho, e o professor Mozart Neves Ramos identificaram padrões de aprendizagem distintos em escolas da mesma rede. Fotos: IEA e Fapesp.

O trabalho revelou que dentro de uma mesma rede de ensino podem existir desigualdades entre as escolas. No 5º ano, por exemplo, há sete padrões diferentes de comportamento na proficiência. No 9º ano, são essencialmente dois. Enquanto há escolas com dificuldades em atingir os padrões esperados de aprendizagem, outras apresentam excelente desempenho, inclusive em matemática, que é o maior desafio da rede municipal de Ribeirão Preto.

“Assim como a rede escolar de Ribeirão Preto tem escolas com desempenho exemplar em Matemática, todo o Brasil conta com escolas que apresentam resultados consistentes e que podem compartilhar seus aprendizados, ajudando a alavancar os resultados das escolas com baixa proficiência. É possível, assim como faz o estado do Ceará, estruturar uma política de colaboração por pares entre escolas de maior proficiência com aquelas de menor proficiência. A experiência mostra que as soluções podem estar em nossa própria rede”, diz Mozart no artigo.

Posteriormente, o trabalho gerou um novo artigo, desta vez fazendo uma análise estatística multivariada da rede municipal de Ribeirão Preto. Ele foi publicado em outubro do ano passado na Revista Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação, da Fundação Cesgranrio.

Resultados práticos

Diante disso, a Secretaria decidiu promover uma série de mudanças que começaram a ser desenhadas e planejadas em 2021 com o objetivo de serem implantadas em 2022. Uma delas foi alterar a organização do trabalho pedagógico e de gestão, que agora passa a ser regionalizado e territorializado. 

“A perspectiva de territórios e regiões foi adotada por conta do entendimento de que esses espaços compartilham condições socioeconômicas, culturais e de acesso a aparelhos públicos semelhantes, que permitem uma reflexão mais consistente sobre suas possibilidades a partir da experiência do outro. Ocorrerão, claro, momentos de compartilhamento e aprendizagem colaborativa mais amplos, para que diferentes territórios e regiões se conheçam e se reconheçam nas possibilidades educadoras e educativas”, explica o secretário municipal de Educação de Ribeirão Preto, Felipe Elias Miguel.

Segundo ele, já em 2021 foram realizadas algumas ações com foco no compartilhamento de experiências e boas práticas, como um seminário específico e reuniões regionalizadas envolvendo equipes gestoras e de professores, mesmo durante a fase de atividades remotas no período agudo da pandemia. 

Outro impacto trazido pela análise foi na formação de professores. Para profissionais dos anos iniciais do Ensino Fundamental, ela será feita de forma regionalizada, trazendo para o mesmo espaço formativo professores de escolas localizadas na mesma região. A medida, segundo a Secretaria, contribui para estimular e formalizar a troca de experiências, que será feita a partir de pautas direcionadas pelos formadores da própria Secretaria e pelos coordenadores pedagógicos de cada escola.

“Essa formação para os anos iniciais está fundamentada no Programa Municipal de Alfabetização e Letramento, elaborado em 2021. A Divisão do Ensino Fundamental vai agregar as pautas administrativas e pedagógicas no processo de formação e orientação dos gestores educacionais, promovendo assim o fortalecimento das unidades pelo compartilhamento de experiências e consolidando a aprendizagem como centro de todas as práticas e seus objetivos”, diz Miguel.

Já nos anos finais do Ensino Fundamental, a formação de professores voltará a ser por componente curricular e terá como referências o desenvolvimento curricular, as metodologias de ensino e as metas de recuperação e aprofundamento da aprendizagem. Além dos professores, os coordenadores pedagógicos também receberão formações focadas nos componentes curriculares dos anos finais, permitindo que compreendam melhor as especificidades das áreas de conhecimento e recebam mais subsídios para o acompanhamento pedagógico nas escolas.

Comportamento do aprendizado escolar no Brasil no 5° e no 9° anos do Ensino Fundamental e no 3° ano do Ensino Médio de 2007 a 2017. Na última etapa do ensino médio, a aprendizagem de matemática não ultrapassa os 11%. Fonte: Uma análise do aprendizado escolar nas escolas municipais de Ribeirão Preto. Nova Escola, 2020.

 

Ensino Infantil

Embora o artigo produzido pela Cátedra esteja concentrado nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, a análise também inspirou mudanças na Educação Infantil. Tendo em mente a máxima “o município precisa aprender com o município”, defendida pela análise da Cátedra, a Secretaria vai adotar para essa etapa uma organização em territórios educativos, ou seja, os diferentes locais em que a criança pode adquirir conhecimento seja dentro ou fora da escola.

“Para isso, desenvolvemos o projeto ‘Criança: sujeito de direitos e desejos’. Nele, a trilha formativa é realizada dentro desses territórios educativos e tem a mediação de um professor articulador ligado àquele território específico e também vinculado à Secretaria. Ele desenvolve as ações formativas de maneira personalizada e por metodologia colaborativa entre as escolas que acompanha”, explica o secretário.

Melhorias físicas e administrativas

Segundo Miguel, para reduzir a desigualdade na aprendizagem dos estudantes da rede e avançar na qualidade da educação, a Secretaria também vai investir em melhorias físicas, como climatização de todas as salas de aula do município, expansão da rede de internet, instalação de kits multimídia, distribuição de materiais pedagógicos e reformas nas escolas, além da ampliação do tempo de aula no Ensino Fundamental.

Ele destaca ainda que o quadro de pessoal da Secretaria também foi reorganizado em seções e divisões, aumentando a integração e melhorando os fluxos de informação e de comunicação internos.

“Acreditamos que a rede municipal de ensino de Ribeirão vai vivenciar um novo panorama educacional a partir de 2022, planejado e a ser desenvolvido a partir da séria e comprometida reflexão sobre suas necessidades e potenciais, sobre a qual a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira deu grande contribuição por meio do estudo dos professores Mozart e Antônio”, finaliza.

“Além de cumprir um objetivo específico da Cátedra, que é gerar políticas públicas para Ribeirão Preto, identificar esses indicadores nas escolas municipais também cumpriu um objetivo mais geral: a produção de conhecimento multidisciplinar conectando sociedade e universidade”, destaca o coordenador do IEA-RP, Antônio José da Costa Filho.


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