Foto: Reprodução / University of South Wales

Alunos da USP se unem a especialistas do mundo para analisar eleições dos EUA

Universidade foi a única representante da América Latina no Decision 2020, iniciativa da University of South Wales (USW)

18/12/2020

Karina Tarasiuk

Junto com especialistas e universitários do Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Índia, sete estudantes de graduação e três de pós-graduação da USP participaram de um programa on-line para analisar e debater os impactos das eleições presidenciais dos Estados Unidos realizadas no último dia 3 de novembro. O Decision 2020 – Academic Live Review (Decisão 2020 – Avaliação Acadêmica Ao Vivo, tradução livre) foi organizado pela University of South Wales (USW), da Grã-Bretanha, e teve 24 horas de transmissão. 

A iniciativa coordenada pela professora Bela Arora, da USW, tinha como proposta proporcionar uma experiência de trabalho em um programa de análise política ao vivo. Cada universidade teve 90 minutos de espaço para abordar um determinado aspecto das eleições norte-americanas ou de seu impacto no mundo.

As instituições britânicas, por exemplo, comentaram sobre a política externa dos Estados Unidos e a Otan, o papel da religião nas eleições, segurança global, poder, privilégio, raça e etnia. Os acadêmicos da Austrália examinaram o funcionamento da votação e a cobertura das eleições pela mídia. Como únicos representantes da América Latina, os especialistas da USP examinaram o impacto da eleição norte-americana no Brasil e nos países latino-americanos. Assuntos como racismo e a destruição da Floresta Amazônica e do Pantanal foram abordados pela equipe brasileira, considerando os impactos sobre as relações Brasil-EUA.

Os nossos representantes foram Débora Tunes, Geisiele Carvalho, Heitor Borges, Isabela Barbosa, Jonelle Willis, Leonardo Derenze, Lúcia Puglia, Luah Thomas, Thaís Donega e Vinicius Dalbelo. Todos liderados pelo professor Felipe Loureiro, coordenador do curso de Relações Internacionais (IRI) da USP. O projeto começou no dia 17 de agosto e se encerrou em 6 de novembro.

A escolha do tema foi sugerida pelo professor, mas o trabalho de pesquisa e construção dos argumentos foram realizados pelos estudantes. “Era importante que eles se sentissem donos e donas do projeto, em todos os aspectos. Eu estaria ali para ajudá-los, recomendar leituras, ler as considerações, mas a decisão sobre o que falar seria fundamentalmente deles”, conta Loureiro.

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Felipe Loureiro, professor do IRI e coordenador do projeto Decision 2020 na USP - Foto: Arquivo pessoal

Trechos da transmissão durante o Decision 2020 - Academic Live Review - Foto: USW

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Participantes do projeto Decision 2020 - Academic Live Review - Foto: Arquivo pessoal

Jonelle Willis, que vem da Jamaica, gostou da oportunidade. “Fiquei muito animada, não só por aplicar o conhecimento que adquiri nos últimos três anos e meio como estudante de Relações Internacionais, mas feliz também porque, como aluna estrangeira, eu teria a chance de representar a USP.”  Durante o evento, ela discutiu as diferenças entre o racismo brasileiro e norte-americano, comparando o chamado mito da democracia racial brasileira, com a segregação camuflada e violência que a população negra vive no Brasil, com a realidade nos EUA. Também, como mudanças nos Estados Unidos pós-eleições podem impactar no Brasil e na América Latina com relação a minorias.

Thaís Donega, doutoranda em Sistemas de Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, teve a função de local executive producer, responsável pela conexão com toda a parte técnica e de mídia da Universidade de South Wales por comandar os vídeos, as edições, os tempos de fala, entre outros. “Era muita gente, de muitas nacionalidades, falando sobre o mesmo assunto e discutindo os mesmos problemas. Ver o ponto de vista de cada uma dessas pessoas, com as suas particularidades culturais e vivências, foi bastante enriquecedor”, destaca a pós-graduanda.

De acordo com Loureiro, os alunos tiveram a capacidade de conectar conteúdos básicos obrigatórios e complementares das disciplinas do IRI com a análise de conjuntura, fazendo uma ponte entre teoria e prática.

As estudantes Jonelle Willis, Lúcia Puglia e Thaís Donega que participaram da iniciativa global - Fotos: Arquivo pessoal

“O desempenho dos alunos foi excepcional, falaram com muita propriedade, em inglês, tendo, muitas vezes, que discutir questões que estavam acontecendo ao vivo. Eu recebi elogios gigantescos da professora Arora pelo nosso engajamento, pela qualidade da discussão, da pesquisa que foi feita pelos alunos”, conta o professor. 

Lúcia Puglia, por exemplo, já havia realizado pesquisas sobre os Estados Unidos, principalmente com um enfoque na extrema direita, representada pelo trumpismo. Ela tem interesse pelo mundo acadêmico, e enxerga o projeto Decisão 2020 como um teste. “Eu queria entender um pouco mais sobre como é fazer pesquisa, principalmente em conjunto, algo que me falta na USP. Então é legal participar desses projetos mais pontuais e que são mais interativos.”  Durante a apresentação no Decision 2020, Lúcia comparou as trajetórias de Kamala Harris e Marielle Franco, discutindo o significado de ambas para a participação de mulheres negras na política, apesar das diferenças ideológicas e sociais entre elas.

Enquanto estudava e pesquisava para o evento, Jonelle percebeu “a maneira como o futuro é moldado pelo passado e como os líderes que selecionamos refletem princípios históricos e, às vezes, as crenças pessoais que carregamos.”