Redução de verba da Fapesp pode significar “baque brutal” no apoio à pesquisa do Estado de São Paulo

Hernan Chaimovich explica que a redução do orçamento da instituição já foi contestada anteriormente pela comunidade científica, mas medida sofre hoje uma reação vinda de camadas mais amplas da sociedade

 13/05/2024 - Publicado há 1 mês
A economia de São Paulo seria muito diferente sem o investimento na Fapesp – Foto: fapesp
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O governo de São Paulo propõe orçamento com brecha para reduzir verba da Fapesp e a perda estimada é de até R$ 600 milhões. A gestão atual diz que desvincular verbas é prática reconhecida e dá flexibilidade à gestão financeira do Estado. O Professor Emérito Hernan Chaimovich, do Instituto de Química da USP, foi presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e fala sobre a questão.

Hernan Chaimovich

O professor explica que o discurso não começou hoje. Quatro anos atrás, o docente publicou um artigo sobre o tema no Jornal da USP, explicando os impactos da medida no âmbito das pesquisas. “Basicamente, o artigo dizia que desvincular 30% do dinheiro que a Constituição estadual destina à Fapesp pode significar um baque brutal no apoio à pesquisa do Estado de São Paulo. Inclusive, se mudarmos apenas o nome do governador naquele artigo de quatro anos atrás, ele se mantém atual”, conta.

Para o especialista, a principal diferença entre a situação hoje e em 2020 é a recepção da sociedade paulista em relação ao possível corte de verbas na Fapesp. “ Veja, a defesa do orçamento da Sabesp não pode estar reduzida àqueles que são beneficiários da ajuda à pesquisa da Fapesp. Isto é a sociedade científica e as academias de ciência, os pesquisadores etc. Em 2020, essa defesa esteve restrita a essa comunidade. Em 2024, entidades empresariais e jornais importantes reagiram fortemente contra a intenção de desvincular 30% do orçamento. Isso é novo, reflete a crescente compreensão da sociedade paulista do efeito brutal do investimento” , afirma.

Fapesp na economia paulista

Hernan Chaimovich entende que a economia de São Paulo seria muito diferente sem o investimento na Fapesp. “Um dos vários exemplos que poderiam ser citados é a agricultura e a pecuária paulista. O Estado de São Paulo é um dos contribuintes mais importantes na produção de alimentos e proteínas do Brasil. Em boa parte, isso se dá pela existência de institutos de pesquisa como o Instituto Agronômico, faculdades da USP como Esalq e outras que contribuíram com sua pesquisa na agricultura do Estado”, explica.

“Vamos lembrar também que uma das poucas indústrias que têm o mundo como o mercado no Brasil é a Embraer. Um exemplo nesse meio, alguns estudos da Fapesp permitiram que os aviões da companhia fizessem aterrissagem em terrenos cobertos com água. Outro exemplo? Startups financiadas inicialmente pelo instituto, que hoje faturam no mundo bilhões de reais. Podemos falar também do incentivo a núcleos de estudos, como o Núcleo de Estudos sobre a Violência, que vem contribuindo para políticas de segurança pública. É possível falar horas sobre isso, as contribuições são diversas” , finaliza o professor.

Cientistas se mobilizam com abaixo-assinado

A professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Célia Regina da Silva Garcia, e o diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Ricardo Trindade, lançaram um abaixo-assinado de apoio à manifestação do Conselho Superior da Fapesp a propósito da LDO.

No dia 8 de maio, o Conselho Superior da Fapesp divulgou um comunicado em que ressaltou que recebeu “essa notícia com grande surpresa e extrema preocupação. Surpresa porque a redução do financiamento da ciência, tecnologia e inovação não fez parte, até o momento, de qualquer plano ou manifestação da atual administração do Estado; pelo contrário, o governo paulista, até o momento, tem expressado pleno apoio à Fapesp e a todo o sistema de ciência e tecnologia do Estado de São Paulo, que se destaca no panorama nacional pela qualidade e eficiência, resultante, em parte, da estabilidade do financiamento da Fapesp por 62 anos. Preocupação, porque desnecessário reiterar o papel essencial da Fundação no Estado e no país”.


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