IA foi destaque na premiação do Nobel

Talvez a premiação de 2024 leve os centros de pesquisa a dobrarem seu investimento nas redes e nas equipes multidisciplinares e estimule uma reflexão nas universidades, diz Glauco Arbix

 Publicado: 22/10/2024 às 10:08

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De acordo com o professor Glauco Arbix em sua coluna, a inteligência artificial entrou de corpo e alma no universo do Nobel. Na edição deste ano, o prêmio mais famoso do mundo na área de Física foi para dois cientistas que levaram os computadores a “aprender” de uma maneira que lembra o modo como os humanos aprendem. O mesmo prêmio no campo da Química ficou com três pesquisadores que conseguiram criar e revelar a estrutura de proteínas em minutos, abrindo as portas para a resolução de um problema que desafia os biólogos há décadas. O intrigante, segundo o colunista, é que os dois laureados em física trabalham, na verdade, no campo da ciência da computação e, dos três premiados em química, dois são cientistas da computação e apenas um trabalha na área de biologia.

“O reconhecimento do peso da IA para a ciência teve importância enorme para todos nós, mas o que chamou atenção é que a decisão da academia sueca revelou muito sobre a natureza da ciência contemporânea: a visão romântica do cientista herói, o gênio que trabalha isolado no seu laboratório, pouco tem a ver com a realidade de hoje. Os grandes problemas da humanidade, como as mudanças do clima, a insegurança alimentar, a proliferação de doenças como câncer e diabete e a própria inteligência artificial não têm o menor respeito pelas fronteiras entre disciplinas”, constata o colunista.

“Longe de tirar o mérito de Demis Hassabis e John M. Jumper, cientistas da computação que dividiram a láurea com o bioquímico David Baker, John Hopfield e Geoffrey Hinton, que levaram o prêmio de física para o seu trabalho pioneiro em redes neurais, que lembram vagamente o modo como a gente imagina que os neurônios funcionam – na verdade, eles deram um passo importante para evolução do que se chama machine learning e deep learning, que predomina na IA de hoje –  longe de tirar o mérito deles, na verdade toda ciência ganhou com esse cruzamento. O Nobel  também foi para três economistas: James Robinson, Daron Acemoglu e Simon Johnson por suas  pesquisas sobre desigualdades sociais, mas, repare, Acemoglu e Johnson, como uma espécie de contraponto, têm uma visão muito crítica sobre a evolução da IA atualmente; segundo eles, está cada vez mais humanizada e orientada para substituir os humanos e não para ampliar as nossas capacidades.”

Arbix conclui: “Talvez a premiação de 2024 leve os centros de pesquisa a dobrarem seu investimento nas redes e nas equipes multidisciplinares. Talvez estimule uma reflexão nas universidades sobre as estruturas que herdamos do passado, de outra época, como os departamentos, com sua terminologia cifrada e fechada. Vocês já pensaram como seria fantástico se esse debate de fato avançasse na universidade?”.


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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