O Outubro Rosa é um mês marcado pela campanha de conscientização sobre o câncer de mama e o câncer do colo de útero, a prevenção e a importância do diagnóstico e do tratamento precoce. O caminho para a cura envolve cirurgia, quimioterapia e radioterapia, a qual pode, no longo prazo, levar a eventos cardíacos tardios, como o infarto.
A mama esquerda, que fica perto ao coração, recebe uma dose de radiação excessiva, que atinge também o órgão. Pensando nesse risco, uma equipe multidisciplinar, em conjunto ao Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas FMUSP (InRad), criou um dispositivo simples e de baixo custo que monitora a respiração das pacientes.
Ao respirar, o ar se acomoda entre o tórax e o coração. Essa “barreira de ar” consegue proteger o órgão das radiações provenientes do tratamento. “Existem dispositivos no mercado que fazem esse controle respiratório do paciente para a gente avaliar o quanto esta inspiração ajuda nessa proteção. Mas eles são caros”, diz a médica e coordenadora do serviço de radioterapia do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Heloisa Carvalho.
A partir disso, criou-se então o dispositivo. Trata-se de acompanhamento da respiração por meio de uma câmera com detector infravermelho que visualiza uma esfera refletora. Ele fica entre o abdômen e o peito e, por meio dele, é possível que o sistema detecte o movimento. Depois, um programa de computador traduz isso para um monitor, no qual é possível visualizar a respiração.
O aparelho já está sendo usado no InRad, mas a equipe batalha para colocá-lo no mercado. “Ainda estamos batalhando para tentar colocar no mercado. Agora que nós finalizamos os resultados clínicos com sucesso, em dias pode ser colocado no mercado, se a gente conseguir patentear e alguma empresa quiser investir”, diz a médica.
Ele foi construído em conjunto a Ricardo Yamamoto, matemático especializado em Programação e Marco Vinícius Saad Rodrigues, físico e médico. O projeto busca evitar eventos cardíacos tardios, que podem surgir em até 30 anos. Heloísa ressalta que, depois do tratamento, é importante cuidar da saúde dessas mulheres, para que elas vivam uma longa vida e com qualidade.
Diagnóstico precoce salva vidas
Não só a radioterapia impõe esse risco, alguns remédios da quimioterapia e de monoterapias muito utilizados no tratamento de câncer de mama são cardiotóxicos. Heloísa ainda ressalta que o medicamento e a radiação, pessoas que fumam, que estão acima do peso e que não praticam atividade física aumentam o risco para essas complicações.
Uma porcentagem muito pequena, de 6% a 7%, de acordo com a médica, desenvolve problemas cardíacos no longo prazo, porém, aumenta ao combinar o tratamento com os hábitos das pacientes.
O diagnóstico precoce continua sendo o melhor tratamento possível, porque a maioria dos casos de câncer de mama é curável. Ele permite fazer intervenções enquanto a doença ainda é tratável. A prevenção também se constitui como uma das principais etapas do tratamento.
“A doença traz um estigma muito forte para as pessoas. Isso gera medo de buscar o diagnóstico, mas isso tem que ser vencido, porque o diagnóstico precoce é a melhor estratégia para a gente poder lidar e curar a doença. Isso é o mais importante: desmistificar o diagnóstico e a doença”, ressalta Heloisa.
A médica lembra que o câncer de mama não atinge apenas as mulheres, mas homens também podem ser acometidos pela doença. Isso aumenta a importância da busca por um diagnóstico precoce e um tratamento efetivo que garanta saúde e bem-estar muito depois de o tratamento terminar.
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