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Depressão pós-parto necessita de diagnóstico precoce e psicoterapia
Segundo Joel Rennó Júnior, hoje as causas da depressão pós-parto são mais claras, um fator que contribuiu para o desenvolvimento do primeiro medicamento oral contra a doença, já aprovado nos EUA
Entre 10% a 15% das mulheres são acometidas por depressão pós-parto e a doença é considerada até o período de um mês após o nascimento da criança – Foto: Flickr
Zuranolona é o primeiro comprimido contra a depressão pós-parto. O medicamento já existia em sua forma injetável, nos Estados Unidos, mas era pouco acessível devido ao seu alto custo. Dados do estudo clínico do produto já apontam que ele age mais rapidamente para amenizar a depressão em relação a outros antidepressivos, mas ainda não há previsão para sua chegada no Brasil.
Entendendo a doença
Entre 10% a 15% das mulheres são acometidas por depressão pós-parto e a doença é considerada até o período de um mês após o nascimento da criança. Segundo Joel Rennó Júnior, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do programa Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HCFMUSP), existem alguns fatores de risco para esse tipo de depressão: “60% dos quadros de depressão pós-parto são oriundos de depressão não diagnosticada ou abandono de tratamento já durante o período da gravidez”.
O professor também explica que existem diferentes tipos de depressão pós-parto. O mais comum deles, o baby blues, ocorre em cerca de 70% das mulheres, mas tende a ser um quadro mais leve. “O blues é um quadro autolimitado e que dura em média cerca de dez a 14 dias e cessa espontaneamente apenas com algumas medidas de suporte a essa mulher.”
No entanto, alguns quadros de blues podem evoluir para depressão pós-parto, mais grave e persistente. “A depressão pós-parto preenche critérios do que nós chamamos de depressão maior, que tem dois sintomas cardinais: humor deprimido e também a anedonia, que seria a perda de prazer ou interesse por atividades habituais acompanhada de outros sintomas, como alterações do padrão de sono, apetite, pensamentos de conteúdo negativo, alterações de atenção, concentração, memória, energia, disposição, uma série de sintomas que persistem por pelo menos duas semanas”, elucida Rennó.
Causas e ação do medicamento
Rennó explica que hoje as causas da depressão pós-parto são mais claras, fator que contribuiu para o desenvolvimento do remédio. “Hoje a gente sabe que há uma molécula chamada alopregnanolona, que é um derivado metabólico da progesterona, o hormônio feminino. Essa alopregnanolona está envolvida na questão da depressão pós-parto. A alopregnanolona atua no sistema nervoso central em um receptor chamado Gaba, esse receptor gabaérgico é um receptor que é depressor do sistema nervoso central”, afirma.
O medicamento, embora aprovado pela FDA, ainda não tem um custo definido, mas o que se sabe é que o seu efeito é muito rápido. “Os antidepressivos atuais de uma forma geral começam a fazer efeito entre 15 dias a 30 dias. Esse antidepressivo específico para depressão pós-parto em três dias já começa a fazer efeito e a duração do tratamento tem em torno de 15 dias.” Vale ressaltar que o medicamento é específico para depressão pós-parto e não funciona para depressão em outros períodos de vida do ciclo reprodutivo feminino.
Estudos contínuos
Os testes feitos sobre esse medicamento não incluíram mães em período de amamentação, então novos estudos precisarão ser feitos para comprovar a compatibilidade do comprimido com a amamentação. “Como é um tratamento de curto prazo e o efeito dele ocorre já nos primeiros três dias, a ideia é que nos quadros mais graves depois você continue com os antidepressivos comuns que nós temos hoje e que são eficazes também na depressão pós-parto. Esses antidepressivos comuns, a maioria deles é totalmente compatível com a amamentação”, diz Rennó.
Diagnóstico precoce
O professor aponta que a vulnerabilidade no período da gestação pode ocorrer mais de uma vez na vida da mulher. “Há um subgrupo de mulheres que pode ter outros episódios futuramente, se tornam mais vulneráveis inclusive a terem quadros de depressão em outras gravidezes ou períodos de pós-parto, e também até lá na frente, no que a gente chama de perimenopausa, que antecede de cinco a sete anos o início da menopausa. São esses períodos de flutuação hormonal onde a mulher é mais vulnerável”. O ideal, nesses casos, é um diagnóstico precoce. “Quando você diagnostica precocemente o quadro é leve e muitas vezes só com a psicoterapia você resolve o quadro.”
Além disso, é necessário diminuir os estigmas em relação à depressão pós-parto, para que mais mulheres procurem ajuda nesse período. “No pré-natal é importante que se faça uma avaliação também da saúde mental. (…) Essas mulheres muitas vezes são infelizmente diagnosticadas tardiamente e, quando não diagnosticadas corretamente, 20% delas podem ter um risco aumentado de suicídio, então é importante o diagnóstico precoce e o tratamento, já que a depressão pós-parto ainda é alvo de muitos preconceitos. Quanto mais a gente for falando sobre o tema, menos estigma essas mulheres vão tendo em relação a essa doença”, conclui Rennó.
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