“Dalmo Dallari sempre se destacou pela defesa do direito das pessoas”

É o que afirma o colunista Renato Janine Ribeiro, relembrando a trajetória do professor da USP e jurista que morreu no último dia 8

 13/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 14/04/2022 às 12:54

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atualizado em 14/04/22, 8h07

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No último dia 8, o professor da USP e jurista Dalmo de Abreu Dallari morreu, aos 90 anos. Nome importantíssimo na história recente do Brasil, o professor Dallari recebeu inúmeras homenagens, entre elas a do professor Renato Janine Ribeiro, em sua coluna desta semana. “A morte do professor Dalmo de Abreu Dallari é uma notícia triste. Ele dedicou seus 90 anos de vida a causas importantes. Desde seus tempos na Faculdade de Direito, curso que ele terminou há mais de 60 anos, ele sempre se destacou na defesa dos direitos da pessoa. Logo depois do golpe militar de 1964, ele já começou a atuar, participando da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Ele era um homem muito católico e entendia que a religião não é simplesmente um conjunto de rituais vazios, mas que ela significa realmente conteúdo.”

“Afinal, é importante lembrar que o cristianismo nasce de um amor pelos humildes e pelos miseráveis”, relembra Janine. “Mas, depois que o cristianismo se tornou religião de Estado, nós tivemos quase 2 mil anos em que o cristianismo mudou de lado e, em vez de abrir espaço para os pobres, abriu espaço para os poderosos. É interessante pensar que a vida adulta de Dalmo Dallari confunde-se com essa reabilitação do cristianismo. Isso se deve muito ao papa João XXIII, ao convocar o Concílio Vaticano II, por volta de 1960, fazendo uma opção pelos pobres, o que vai repercutir, por exemplo, nas comunidades eclesiais de base, que terão um papel importante contra a ditadura militar e na defesa dos direitos humanos. Dalmo Dallari sempre esteve desse lado, sempre esteve defendendo as pessoas que necessitavam”, explica o colunista. “Quando o papa João Paulo II esteve no Brasil, Dalmo Dallari deveria fazer uma leitura durante a missa rezada pelo papa, mas foi sequestrado na véspera e agredido por pessoas que eram inimigas dos valores que ele defendia”, conta o professor.

Para o colunista, Dalmo Dallari merece todas as homenagens por sua rica história de vida. “Ele vai fazer falta. Mas ele deixou uma obra muito importante, tanto uma obra escrita quanto sua própria atuação”, afirma Janine. “É bom lembrarmos também que Dalmo Dallari foi eleito reitor da USP, em uma eleição direta no final da ditadura, que não foi reconhecida pelo então governo estadual. Mais tarde, ele seria diretor da Faculdade de Direito da USP, onde também teve um papel relevante, uma vez que sua militância progressista, em um meio conservador como o jurídico, sempre se destacou, sempre teve importância. Dalmo Dallari deixa um legado muito importante”, conclui o colunista.


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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