Um estudo polêmico da ONG norte-americana Center for Climate Integrity mostrou que apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado. No Brasil, a porcentagem é ainda mais preocupante: apenas 1,3% do plástico passa pelo processo.
A professora Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica (Poli) da USP, explica por que o plástico é tão difícil de reciclar e por que essa porcentagem é tão baixa.
O plástico não é um grande vilão
Embora frequentemente associado à poluição dos oceanos e ao consumo de micro plásticos, a professora explica que o material não é totalmente negativo. Na verdade, o consumo do plástico perpassa todos os aspectos da vida contemporânea: “O plástico tem aspectos negativos e aspectos positivos muito grandes. Por exemplo, quando eu era criança, a gente tomava injeção em seringa de vidro. A seringa de plástico viabilizou acessibilidade de medicina, de remédios, a uma gama da população muito maior”, conta Tereza.
Plásticos misturados e de uso único
Contudo, o que dificulta muito o processo de reciclagem, segundo indica a professora, é a maneira como o plástico é misturado com outros materiais na produção: “Vamos pensar numa embalagem de batata frita, por exemplo. Geralmente é uma embalagem plástica e misturada com metal alumínio, e isso é de muito difícil reciclagem, porque é muito difícil separar os materiais. Tecnicamente, mesmo que seja possível, é tão caro que não faz sentido”.
A professora conta que, hoje em dia, boa parte dos produtos plásticos produzidos é de uso único, não é pensada para ser reciclada ou reutilizada, mas descartada após o uso. “A questão do sintético que vai na roupa, isso também é considerado plástico. Então, vamos imaginar o maiô de quem pratica natação: muitas vezes o maiô dura apenas um mês. Não existem ainda soluções viáveis para esse tipo de coisa,” explica a professora.
Regulação
Outro desafio imenso ao pensar na reciclagem do plástico é a má identificação do tipo de plástico utilizado nos produtos. Os diferentes tipos de plástico, com diferentes densidades, não podem ser reciclados da mesma forma e é papel das produtoras identificar quais plásticos foram utilizados nos produtos. Contudo, é comum que essa identificação seja feita de maneira errônea: “Na hora de fazer a mistura, você perde todo o material. Então, isso sim, a regulação e identificação do plástico de maneira correta, seria um primeiro passo para facilitar sua reciclagem” expõe Tereza Cristina.
Há ainda grandes desafios para alcançarmos o uso sustentável do plástico, mas a professora se mostra otimista: “Paulatinamente o plástico foi crescendo em diversos setores da economia e nunca a humanidade teve tanta preocupação com a sustentabilidade e o descarte correto. A gente tem que viver processos. Mas me parece uma consequência natural da evolução do uso do plástico, porque se descobriu que o plástico possui grande versatilidade e flexibilidade. Algumas coisas vão ser mantidas usando os procedimentos mais apropriados de descarte, outras têm que ser banidas, como esse caso do saquinho dos salgadinhos, por exemplo”, conclui a professora Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho.
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