Os acidentes de trânsito no Brasil continuam a apresentar números alarmantes, causando perda de vidas e sequelas que exigem tratamento de traumas de acidentes graves. Segundo Jorge dos Santos Silva, diretor clínico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, a maioria das vítimas fatais e hospitalizadas são homens jovens, entre 25 e 40 anos. “São pessoas que estavam em plena atividade, trabalhando, muitas vezes eram as responsáveis pelo sustento das suas famílias, então isso gera um impacto social, além de pessoal e familiar, muito grande”, afirma. Em 2023, cerca de 34 mil óbitos foram registrados em acidentes no trânsito brasileiro.
Entre as principais causas de morte, ele cita o traumatismo cranioencefálico, que predomina em acidentes envolvendo motociclistas, e as múltiplas lesões. “A gente precisa entender qual foi o tipo de acidente. Nos passageiros de automóveis, o trauma de crânio também tem uma prevalência importante, mas as múltiplas lesões passam a desempenhar um papel mais relevante. E pedestres, quando são atropelados e morrem, em geral têm associação de coisas além de múltiplas lesões ou trauma craniano.” Esses eventos, que são rotina nas emergências hospitalares, não se restringem às grandes cidades, permeando também o interior do País.
Dia a dia dos hospitais
O atendimento emergencial em acidentes graves, no entanto, tem apresentado avanços significativos nos últimos 20 anos, principalmente no âmbito do atendimento pré-hospitalar. “Muitas vezes, é o que salva a vida do paciente. Nós temos uma rede de atendimento pré-hospitalar muito boa, seja pelos bombeiros, seja pelo Samu, e obviamente depois, quando ele adentra uma unidade de emergência hospitalar, há o concurso de vários especialistas. Do emergencista, que cuida de contornar todos os problemas mais graves que o paciente apresenta, e depois os especialistas nas suas áreas”, ressalta.
Ainda assim, sobreviver a um acidente grave pode trazer desafios prolongados. “Um paciente que sofre, única e exclusivamente, um traumatismo craniano grave, muitas vezes vai necessitar de acompanhamento de um hospital de longa permanência, com cuidados especiais, e muitas vezes ele não retorna para a sua atividade, fica internado em um estado de coma vegetativo. Temos também os pacientes que não sofrem lesões tão graves do ponto de vista de comprometimento da sua vida, mas sim do comprometimento da função, com uma série de problemas decorrentes de paraplegia ou de uma tetraplegia. E temos também pacientes que têm uma lesão isolada e que leva à amputação”, explica o médico. Além disso, os impactos psicológicos, como o estresse pós-traumático, também são comuns e exigem acompanhamento especializado.
Como diminuir acidentes?
Apesar de todos os avanços, Jorge dos Santos Silva enfatiza que a maioria dos acidentes poderia ser evitada. “A questão fundamental é a educação para o trânsito e educação no trânsito. Educação para o trânsito tem que começar na pré-escola ou no ensino fundamental. Os nossos filhos têm que entender que trânsito é uma coisa séria. Dirigir e se comportar bem no trânsito é uma responsabilidade de todos nós, para a gente diminuir esses números. Um automóvel é uma arma, uma motocicleta é uma arma, uma bicicleta, guardadas as devidas proporções, pode ser uma arma que atinge o ciclista sozinho. E as regras de trânsito existem aí para serem cumpridas, para que nós possamos ter uma convivência pacífica, harmônica e boa no trânsito”, declara.
O especialista ainda reforça a importância da boa educação no trânsito. “Eu não vejo outra saída a não ser a conscientização de que cada um tem que fazer a sua parte. Tem que ser mais tolerante no trânsito e minimizar a violência que está embutida nesse trânsito brutal e, eventualmente, até selvagem que a gente vive nas grandes cidades.”
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