Sociedade em Foco #195: Polarização política prejudica a formação de políticas públicas

José Luiz Portella explica que, no cenário atual, as políticas públicas não estão resolvendo problemas da sociedade brasileira, principalmente por conta da polarização, imediatismo e concretização de privilégios

 Publicado: 11/06/2024
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #195: Polarização política prejudica a formação de políticas públicas
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Em um processo mundial, a polarização política é algo que está acontecendo, de forma estimulada, em vários locais do mundo. Na Europa central, há o crescimento da direita, enquanto nos países nórdicos há o crescimento da esquerda. José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo, explica que esse fenômeno está prejudicando muito as políticas públicas, já que faz muitas pessoas, antes em centros políticos, migrarem para os polos.

“Isso é um processo de destruição de ideias, mesmo que aquilo tenha algo razoável, é impossível você construir uma coisa assim, porque, se vem de um lado ou vem do outro, ela recebe uma imediata rejeição, exatamente por vir do lado oposto. Então é esse o processo que nós estamos vivendo e muitas vezes sem perceber. E o Brasil sofre ainda mais porque ele tem um erro brutal, que é na área da implementação das políticas, então esse erro fica escondido por essa polarização”, acrescenta.

No Brasil, o especialista afirma que, além de acompanhar o processo mundial, também ganha um novo desafio: a luta pelo imediatismo. Nesse sentido, as políticas públicas se tornam apenas políticas de intenções: “Hoje nós temos as políticas públicas baseadas em intenções, o sujeito não está apresentando uma política pública para implementar, para dar certo, ele está apresentando aquilo que é uma intenção dele, sem nenhum respaldo técnico para a sua concretização, ou ele responde ao marketing e faz uma política para responder aquilo de uma maneira bem vazia”.

Sem um plano conjunto e de ação, o sistema político e social brasileiro causa a falta de coletivismo e a fragmentação da sociedade. Segundo Portella, elas não concluem seus verdadeiros propósitos, sem auxílio na distribuição de renda ou correção de outros problemas não explorados por essas políticas. “Eles não entram no que seria uma maneira mais correta de verificar os problemas e fazer um estudo dos pontos de estrangulamento e os pontos de germinação, aquilo que pode ser plantado para dar uma nova fronteira de desenvolvimento. Então nós estamos desconstruindo e caindo no generalismo”, conclui.

Na verdade, o pesquisador explica que, cada vez mais, as políticas públicas estão se tornando a principal forma de concretização de privilégios, principalmente para membros do Estado, com alguns grupos de interesse assumindo as políticas e se apropriando do governo para seu benefício próprio. “Nós estamos vivendo um momento muito ruim, em que as políticas públicas estão mais desconstruindo do que construindo”, finaliza.


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