O discernimento da alegria coletiva como elemento fundamental da herança africana é o projeto político do canto de Daniela Mercury. A influência brechtiana está no gesto, em que a Daniela articula sua corporalidade negra performática contra o hetero patriarcalismo eurocaucasiano. Com uma estética miscigênica, Daniela faz uma crítica ácida ao autoritarismo monocultural, limitado ao sentimento escravista do sobrado, observado em Gilberto Freire. Com a irreverência acadêmica da baianidade do arranjo de Alexandre Vargas, que se soma a militância pelo respeito à diversidade de Daniela Mercury. A cantora sugere uma carnavalização bakhtiniana, trazendo a inversão da ordem social. Com as festas carnavalesca, onde a musicalidade africana é tom da alegria, superando a tristeza. Alegria negra civilizatória com amplitude holística da corporalidade ubuntu cuja humanidade da alegria é para todos. Razão pela qual o canto carnavalesco de Daniela Mercury é miscigênico.
A cantora Margareth Menezes traz a originalidade criativa afrodiaspórica com seu afro pop. Comportamento musical no qual o arranjo indica intensidade nas frases, que são desenvolvidas no teclado sintetizador. Margareth articula uma espécie de tamboralidade contemporânea, que é transversal na sua musicalidade. Torna-se inegável a criação de novo estilo musical, considerando que ela se distancia do tradicionalismo do motivo percussivo. Por outro lado, a instrumentação dessa criatividade não lhe afasta da essência negra, na medida em que os instrumentos da banda pop estão adaptados na consciência de africanidade. A Margareth Menezes tem um canto de afirmação da imagem positiva da negritude, demonstrando a multiplicidade da música negra, que encontra nas ruas carnavalescas do cotidiano soteropolitano, o seu lócus. Ela se ocupa de consciência inclusiva que é estrutural na liberdade da rua. Ação que demonstra a música negra, como a polissemia da alegria da capital baiana.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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