Praticamente toda a terça (8) foi tomada por uma reunião entre a administração da USP e representantes dos estudantes que ocuparam a Reitoria no último dia 3.
A reitora Suely Vilela concordou em não punir os estudantes que participaram do movimento, garantiu a construção de novas vagas de moradia estudantil nos campi de São Paulo, São Carlos e Ribeirão Preto e afirmou que as reformas em unidades de ensino serão encaminhadas.
Apesar da proposta de acordo, a assembléia dos estudantes decidiu pela permanência da ocupação e propõe continuidade das negociações.Em relação aos decretos sobre ensino superior publicados em janeiro pelo governador José Serra – que na visão dos estudantes ferem a autonomia universitária, sendo um dos principais alvos do protesto do movimento –, a reitora afirmou que só manifestará uma opinião oficial após o assunto ser apreciado pelo Conselho Universitário (Co). “Posição institucional é a posição do Conselho”, disse Suely Vilela.
A próxima reunião do Co está marcada para o dia 29 de maio. Antes disso, a reitora deve participar de uma audiência pública com os estudantes para discutir o tema. Negociação jurídica A reunião com os estudantes, realizada no prédio da Administração da Escola Politécnica, começou antes do meio-dia e se estendeu até pouco depois das cinco horas da tarde, quando a maior parte dos alunos saiu para se dirigir a uma assembléia em frente à Reitoria ocupada.
Alguns representantes permaneceram na Poli aguardando a chegada dos advogados do movimento. Depois de mais três horas de reunião, encerrada às oito e quinze da noite, os advogados dos estudantes, juntamente com integrantes da Consultoria Jurídica e da Reitoria da USP, concluíram a redação da proposta com o compromisso de não-punição aos alunos. Representaram a administração da USP a reitora Suely Vilela, o vice-reitor Franco Lajolo, o chefe de gabinete da Reitoria, Alberto Carlos Amadio, e o coordenador da Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf), João Cyro André.
O diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Gabriel Cohn, e o vice-diretor da Faculdade de Medicina, Tarcísio Eloy Pessoa de Barros, também participaram do encontro. Vinte e sete estudantes representaram os ocupantes do prédio.
Leia a seguir os principais pontos da entrevista exclusiva da reitora Suely Vilela sobre a reunião de negociação desta terça-feira:
Avaliação da reunião: A reunião foi muito produtiva, num nível excelente. Houve um diálogo muito bom, tanto na disposição da Reitoria quanto na dos alunos, em discutir as questões ali colocadas. Falamos de vários temas, mas focamos principalmente em cinco: moradia estudantil, decretos do governo estadual, contratações de docentes, debate no Co e reformas de infra-estrutura da FFLCH e da Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito). No Instituto de Matemática e Estatística (IME), o assunto já está bem encaminhado. Inclusive trouxemos o diretor da FFLCH e o vice-diretor da Faculdade de Medicina (à qual a Fofito é ligada) porque havia questões que escapavam do âmbito da Reitoria, e consideramos que seria importante a participação dos diretores dessas unidades no diálogo. Acolhemos algumas reivindicações e apresentamos propostas. Obviamente todas essas questões estão vinculadas à desocupação imediata do prédio da Reitoria.
Decretos: Os alunos reivindicam um posicionamento institucional, que posso fazer no momento em que tiver a posição do Co. Posição institucional é a posição do Conselho, que vai deliberar sobre a matéria. Eu inclusive vou participar de uma audiência pública, a ser marcada depois da desocupação, em que o próprio Co estará convidado para falar sobre esse tema.
Moradia estudantil: Propusemos a criação de 198 vagas para o campus Butantã, 68 para São Carlos e 68 para Ribeirão Preto, com construção de novas unidades. Também já está encaminhada a liberação de R$ 500 mil para a reforma das moradias existentes.
Punição: Nos comprometemos a não punir na questão disciplinar. Em termos de patrimônio, propusemos uma comissão que vai avaliar os danos ao patrimônio da Universidade. Será uma comissão paritária, com oito pessoas: quatro alunos e quatro professores, estes últimos indicados por mim. No momento da desocupação, essas pessoas fotografariam o local e depois apresentariam um relatório.
Avaliação do episódio: Esse episódio traz um momento de reflexão importante a respeito da intolerância. Uma universidade como a USP precisa pensar, em termos da formação, por que os nossos jovens têm esse comportamento de intolerância. É uma questão importante e temos que refletir a respeito dela, até porque temos especialistas nessa área, inclusive na própria FFLCH. Uma crise é sempre um processo de aprendizagem. No início da reunião, comecei dizendo exatamente que, mais do que apenas falar em diálogo e negociação, é preciso ter vontade política, é preciso querer fazer e é preciso partir de um princípio mínimo de confiança. Estar pronto para o diálogo envolve esses três aspectos.