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Há 25 anos, curso de redação e cidadania busca democratizar conhecimento na USP
Criado por estudantes de comunicação, Projeto Redigir amplia acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica à Universidade
O Projeto Redigir é um curso gratuito de comunicação e cidadania, cujas aulas são organizadas e ministradas por alunos da USP. Na próxima terça-feira, 21 de maio, o Projeto Redigir promoverá uma série de atividades que integram a Semana de Cultura e Extensão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O evento marca os 25 anos desde a criação do projeto, e contará com a presença de professores, educadores e educandos ligados ao Redigir.
“A nossa proposta é dar aulas para pessoas que gostariam de ter mais acesso tanto à USP quanto a aulas sobre redação, gramática, comunicação e cidadania. Queremos fazer com que as pessoas em vulnerabilidade socioeconômica que nos procuram consigam ter acesso a essa formação para poderem exercer plenamente a sua cidadania”, afirma Nicole Camargo, aluna do curso de Publicidade e Propaganda da ECA e voluntária no Redigir.
Nascido em 1999, o projeto deu seus primeiros passos com a organização de um grupo de alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “A nossa motivação foi ver as salas do departamento vazias, sobretudo na parte da tarde, o que acontece ainda hoje. A gente imaginou [o projeto] como uma possibilidade de ocupar esses lugares, trazendo um pouco também da função social da Universidade”, relembra Rodrigo Ratier, um dos doze estudantes fundadores do projeto.
Hoje, Ratier é docente no curso de Jornalismo no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE). Ele explica que o Redigir é um exemplo de prática extensionista, um dos três pilares das universidades, assim como o ensino e a pesquisa. As atividades de extensão são ações voltadas à comunidade externa que permitem a prática dos conhecimentos adquiridos pelos estudantes universitários e funcionam como uma ponte entre a academia e o público em geral.
Ontem e hoje
À época de sua criação, a articulação do Redigir com a Universidade era pequena. “O CJE cedeu as salas para a gente trabalhar. Conseguimos a colaboração de uma xerox. Para chegar ao público externo, fizemos uma divulgação na imprensa e fomos para escolas regulares e técnicas do entorno. Contamos também com a parceria do Centro Acadêmico [Lupe Cotrim]”, comenta Ratier.
O professor explica que o projeto Redigir passou por algumas transformações estruturais e pedagógicas ao longo dos anos: “No início, queríamos fazer um curso de redação para vestibulares, mas logo vimos que era algo muito difícil de fazer. Não dava para garantir que as pessoas passariam no vestibular só com aulas de redação, ainda mais com as nossas aulas, que não eram de super qualidade”.
Educação e integração
Taís Ilhéu é formada em Jornalismo pela USP. Durante seu segundo ano de graduação, em 2017, ela decidiu se voluntariar no Redigir, incentivada pelos relatos de amigos que já eram monitores no projeto.
Taís se tornou educadora nas noites de quarta-feira, ainda que o interesse pela área tivesse surgido muito antes. “Estudei em escola pública durante toda a minha vida. Essa experiência me fez ter um olhar diferenciado para a educação. Eu percebi como as desigualdades educacionais tornam difícil o acesso às universidades”, lembra.
Ela relata que a identificação com o sonho de ingressar em uma universidade pública a aproximou dos alunos. “Meus educandos eram pessoas de experiências muito diferentes, vindos de diversos lugares, mas que me lembravam também da minha própria história, da minha família e dos lugares de onde eu vim”, diz.
Os laços criados dentro da organização refletiram na vida acadêmica de Tais. Para o Trabalho de Conclusão de Curso, ela escreveu o livro-reportagem Sala de Sonhos, em que narra a história do Redigir. A jornalista diz que queria contar as histórias que permearam os anos de construção e de atividade do projeto, pois elas refletem o que ele é hoje. “O que mais me surpreendeu foi perceber a dimensão do Redigir e como ele realmente mudou a vida de muitos. Ver a capacidade de reinvenção do projeto e como a iniciativa das pessoas manteve o Redigir funcionando”.
Protagonismo estudantil
O desejo de entrar em uma faculdade pública também é compartilhado por Denalyn de Oliveira, vestibulanda de jornalismo e uma das educandas do Redigir no segundo semestre de 2023.
“O que mais me chamou a atenção foi o interesse deles em fazer com que os educandos tivessem uma experiência dentro da Universidade e que nós ocupássemos esse espaço”, afirma Denalyn.
“Eu sentia que todo mundo ficava confortável em ter esse espaço para aprender a se comunicar. Eles nos ensinaram sobre pontos de vista diferentes, fontes confiáveis e os conceitos-base da argumentação. Existia uma troca de confiança e de respeito pela opinião do próximo, de forma que todo mundo conseguia sair com uma bagagem nova depois de todas as aulas”
Denalyn de Oliveira
Educação para o futuro
Taís acredita que o projeto Redigir precisa de mais apoio. “Para um projeto sem institucionalização, é difícil conseguir dinheiro de editais ou mesmo angariar outras fontes de renda fora da Universidade. É uma dificuldade presente ao longo de todos esses anos e que precisa de atenção”, adverte.
O professor Ratier ressalta que as universidades vivem um processo de curricularização das atividades de extensão, o que permite o estreitamento das relações entre a instituição e a atividade estudantil.
“Fortalecer a extensão mostra a contribuição que os universitários podem dar com o seu conhecimento e, sobretudo, permite enxergar como eles estão abertos a ver esse curso coconstruído pela comunidade”, lembra o professor.
A fala de Ratier no evento de aniversário do Redigir abordará as transformações da educação e da comunicação e sua relação com a atividade do projeto.
“Os processos de digitalização trouxeram novas discussões, como as sobre redes sociais e fake news. Isso é algo que, lá no começo do Redigir, a gente intuía. Eu mesmo montei um curso dentro do projeto que teve vários nomes: ‘Como não ser enganado pela mídia?’, ‘Entendendo a mídia’ e ‘Comunicar para mudar o mundo’”, conta o professor.
“O que a gente pretende é trazer cada vez mais essa questão para as nossas aulas. Não importa qual o perfil, classe social, idade ou outra característica do educando que busca o projeto. Queremos fazer com que as pessoas sejam cidadãos também do mundo digital, mas tendo consciência de como participar de uma maneira efetiva”, acrescenta Nicole.
Serviço:
25 anos do Projeto Redigir
Data: 21/05
Horários: das 14 às 17 horas e das 19h30 às 22 horas
Local: Auditório Freitas Nobre da ECA
Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Prédio 2, Cidade Universitária
Evento aberto ao público, sem inscrição prévia. Para os alunos da USP, será oferecido certificado válido para horas complementares.
*Estagiária sob supervisão de Tabita Said
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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