Depois de um longo tempo fora dos palcos por causa da pandemia de covid-19, a Orquestra de Câmara (Ocam) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP retorna aos palcos em apresentação gratuita, neste sábado, dia 6, às 11 horas, na Sala São Paulo, integrando a série Concertos Matinais. Para o maestro titular da Ocam e professor da ECA Gil Jardim, é um momento de forte emoção, mas ainda de muita cautela. “Tem sido difícil vislumbrar mesmo o mais imediato futuro. A pandemia ainda não acabou e o perigo da contaminação ainda persiste. Temos perdido muitos de nossos amigos, alguns faróis no cenário da cultura brasileira e mundial”, lembra o maestro. “Dessa forma, valorizamos demais o fato de finalmente estarmos fazendo música presencialmente e em mesmo ambiente, olhando uns para os outros, mas sem nos abraçarmos, voltando a saber que somos um time procurando pelo que julgamos ser belo na arte dos sons, agora com paredes de acrílico, distanciamento protocolar, máscaras, álcool em gel etc. Enfim, estamos nos reinventando”, afirma Gil Jardim.
A orquestra – formada por jovens estudantes de música – vai abrir seu primeiro concerto presencial com a peça Ponteio e Dança (2004), de Ronaldo Miranda, sob a regência do maestro André Bachur. Na sequência, regida por Gil Jardim, a orquestra executa Concerto para Vibrafone e Orquestra (1998), de Edmundo Villani-Côrtes, com solo do músico convidado Carlos dos Santos (percussão), e a Sinfonia nº 5 Em Si Bemol Maior, D. 485 (1816), de Franz Schubert (1797-1828). Segundo Jardim, o programa traz peças “escolhidas com acuidade para esse retorno da orquestra, com obras, intérpretes e compositores que tornam esse reencontro tangível tecnicamente e possível de se fazer boa música”.
Ponteio e Dança, escrita para cordas, “é uma pérola do nosso querido Ronaldo Miranda, grande compositor brasileiro e ex-docente do Departamento de Música da ECA”, informa o maestro, acrescentando que a peça foi gravada por um pequeno grupo de cordas no vídeo-concerto Cantares, lançado recentemente pela Ocam, como o Jornal da USP registrou (assista aqui). “Quem a dirigiu foi André Bachur, historicamente ligado à orquestra e ao Departamento de Música da ECA, hoje pós-graduando e nosso regente adjunto. Agora essa linda peça será realizada com a seção de cordas completa da Ocam”, diz.
A segunda composição prevista, o Concerto para Vibrafone e Orquestra, de Villani-Cortes, terá como solista o “excelente Carlos dos Santos, também ‘prata da casa’ que, para além de ser um percussionista incrivelmente virtuose, é também um compositor vencedor de diversos prêmios de composição e cada vez mais frequentador das estantes das orquestras brasileiras com sua música sempre inteligente e provocadora”. Além disso, completa o maestro, o concerto de Villani-Cortes é uma obra virtuosística e instigante, encantadora e acessível para o público. “Ela traz a um só tempo o estilo generoso desse ícone da música brasileira que, de cima de seus 90 anos, abençoa o retorno da Ocam.”
A última peça, Sinfonia nº 5, de Schubert, foi composta quando o compositor tinha apenas 19 anos, como relata o maestro. “É transparente, leve, com clara ligação com a Sinfonia nº 40 de Mozart. Ela é bastante apropriada para o reencontro de nossos jovens músicos. Traz assuntos musicais e extramusicais que alimentam e estimulam os nossos primeiros ensaios presenciais neste momento da pandemia.”
Grandes realizações
Mesmo longe dos palcos, o ano de 2021 foi de grandes realizações para a Ocam, como conta Gil Jardim. Além de marcar presença no ambiente virtual, segundo ele, a orquestra participou de várias iniciativas: o clipe Inumeráveis, em parceria com o cantor Chico César, em que presta homenagem às vítimas da pandemia (assista aqui); o curta-metragem Olho da Rua, em conjunto com o Padre Júlio Lancellotti, poetas, slammers e MCs, com objetivo de fortalecer a arrecadação de fundos para as iniciativas de amparo às pessoas em situação de rua (assista aqui); e o vídeo-concerto Cantares. Além disso, estão previstos outros três concertos presenciais.
Para 2022, não se sabe ainda se a Ocam vai continuar a integrar a programação dos Concertos Matinais da Sala São Paulo, mas há boas perspectivas de atuação da orquestra, como o maestro revela. “Vale lembrar que o Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, foi reinaugurado e, portanto, o campus da USP está em condições de receber uma bela programação artística para nossa comunidade universitária, com toda a expressiva produção artística de nossos organismos culturais.”
Jardim destaca ainda outro concerto que será realizado neste ano, no dia 12 de novembro, no Teatro Ariano Suassuna, em Jacareí (SP), com o mesmo programa do concerto da Sala São Paulo, exceto pela substituição da obra Concerto de Vibrafone pelo Concerto para Viola Caipira e Orquestra, de Neymar Dias, tendo o próprio compositor como solista. “A troca dos concertos aconteceu tendo em vista a conexão com as atividades culturais desenvolvidas na região de Jacareí. Estamos todos bastante satisfeitos com essas decisões, que trazem novas cores, diversidade e interesse para a programação da Ocam”, conclui.
A Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP fará concerto neste sábado, dia 6, às 11 horas, na Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, 16, centro, São Paulo). Grátis. Os ingressos podem ser obtidas pela internet ou nos totens localizados no piso térreo da Sala São Paulo (limite de dois ingressos por pessoa). A entrada só será permitida com uso de máscara e apresentação do comprovante de vacinação (1ª dose). Lotação da sala com distanciamento: 480 lugares. Mais informações neste link. |