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A artista e professora da USP Giselle Beiguelman diante de uma das imagens da exposição Botannica Tirannica - Foto: Cecília Bastos
Giselle Beiguelman expõe um jardim decolonial
Judeu-errante e catinga-de-mulata, entre outras plantas com nomes racistas, estão em Botannica Tirannica
Judeu-errante, bunda-de-mulata, maria-sem-vergonha, catinga-de-mulata, orelha-de-judeu e chá-de-bugre são algumas das centenas de plantas com nomes racistas que Giselle Beiguelman mapeou no decorrer de um ano e meio. O resultado está em Botannica Tirannica, exposição que o Museu Judaico de São Paulo apresenta em seu propósito de discutir e refletir sobre temas contemporâneos como a estética do preconceito e o decolonialismo.
Artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Beiguelman reuniu espécies de plantas com nomes populares pejorativos, compondo um inusitado jardim que tem raízes colonialistas. São fotos e vídeos criados com recursos de Inteligência Artificial (IA).
“A botânica clássica antropomorfiza o mundo vegetal e faz das plantas um espelho do homem”, afirma Giselle Beiguelman. "Essa nomenclatura é o modo como se criam as divisões e os preconceitos e como se consolida o pensamento binário. É um ritual de apagamento.”
"Essa nomenclatura é o modo como se criam as divisões e os preconceitos", afirma Giselle Beiguelman – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A curadora Ilana Feldman - Foto: Reprodução/Facebook
A mostra surpreende por aliar arte, ciência, natureza e tecnologia. Beiguelman reuniu e organizou em cinco grupos sua pesquisa sobre os nomes de plantas: antissemitas, machistas, racistas, discriminatórios contra indígenas e contra ciganos. Para cada um desses grupos, foram criados vídeos produzidos por IA, além de um ensaio audiovisual de 15 minutos que passeia pelos processos de criação da artista, destacando desde o nascimento da botânica até o surgimento da Inteligência Artificial.
A curadora da mostra é a crítica de arte Ilana Feldman, que é doutora e pós-doutora pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Giselle Beiguelman é uma criadora de imagens dedicada a pensar as próprias imagens na contemporaneidade, transitando de maneira crítica, inventiva e imprevista entre estética e política, arte e tecnologia.”
Ilana Feldman - Foto: Reprodução/Daiane Oliveira
“Toda erva daninha é um ser rebelde. A nomenclatura é um ritual de apagamento. Mais clorofila, menos cloroquina.”
A mostra também apresenta um jardim circular montado no recinto expositivo. É o Jardim da Resiliência, cercado por três luminosos com estes dizeres: “Toda erva daninha é um ser rebelde. A nomenclatura é um ritual de apagamento. Mais clorofila, menos cloroquina”.
No espaço da mostra, Ricardo Van Steen marca presença com sete aquarelas inéditas criadas especialmente para Botannica Tirannica. O artista retrata jardins imaginários a partir de cada um dos grupos da pesquisa.
Enquanto percorre o espaço, o visitante ouve Paisagem Sonora, música criada especialmente para a exposição por Gabriel Francisco Lemos, pesquisador do Grupo de Arte e Inteligência Artificial (Gaia), localizado na Escola Politécnica da USP.
“A abordagem dessas temáticas pela produção artística contemporânea é um dos eixos basilares do nosso museu”, observa o diretor executivo do Museu Judaico de São Paulo, Felipe Arruda. “Nós partimos das questões judaicas para discutir temas contemporâneos. E a exposição de Giselle Beiguelman é o melhor exemplo disso.”
O diretor executivo do Museu Judaico de São Paulo, Felipe Arruda - Foto: Reprodução/LinkedIn
A exposição Botannica Tirannica, de Giselle Beiguelman, com curadoria de Ilana Feldman, está em cartaz até 18 de setembro, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas, no Museu Judaico de São Paulo (Rua Martinho Prado, 128, na Bela Vista, em São Paulo). Ingresso: R$ 20,00.
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