Ocorre neste sábado, dia 23 de junho, às 17 horas, a abertura da exposição Plano, Seco e Pontiagudo, da fotógrafa Mônica Zarattini, doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. As imagens retratam a região de Canudos, no sertão da Bahia, em dois momentos de sua história: 1989 e 2016. A inauguração acontece na Ocupação 9 de Julho, no bairro da Bela Vista, em São Paulo.
A ideia para a exposição surgiu a partir de uma viagem que Mônica fez na década de 80, quando era fotógrafa do jornal O Estado de S. Paulo. “Em 1989, fiz uma pauta para o jornal sobre os 80 anos da morte de Euclides da Cunha, em que nós seguimos a rota da quarta expedição, a última da Guerra de Canudos.” A experiência no local foi tão marcante que ela decidiu repetir. ”Eu voltei agora, 27 anos depois, e tentei refazer essa rota. Consegui inclusive reencontrar cinco pessoas que tinha fotografado.” Assim, a partir da análise dessas fotos, tiradas em momentos distintos, surgiu a ideia de fazer um fotolivro e logo depois uma exposição com o conteúdo das viagens.
Pouco mais de um quarto de século separam as duas expedições da fotógrafa. Além do preto e branco das fotos antigas e do colorido da câmera digital, a exposição possui uma terceira estética. “Em 2016, eu levei também filmes vencidos que tinha guardado. Eles estavam há mais de 25 anos na minha geladeira”, conta ela. O resultado é descrito como surreal. “Fica tudo meio diferente, causando um estranhamento.”
As mudanças não ficaram contidas apenas na evolução tecnológica das câmeras fotográficas. Mônica relata que o modo de vida no local também ficou diferente. ”Hoje em dia todo mundo tem luz e cisterna”, conta. Para a fotógrafa, um dos momentos mais especiais foi reencontrar as pessoas que tinham sido capturadas por suas lentes. ”Eu projetei as fotografias antigas nessas pessoas e elas se emocionaram. Um dos meninos nem sabia como era sua aparência aos seis anos de idade. Quando viu a foto, hoje com 33 anos, ele até chorou.”
O reencontro com a cidade também marcou pessoalmente a fotógrafa. “É uma coisa muito bacana você pegar o seu próprio arquivo de fotos e se debruçar sobre ele, com outro olhar, anos depois. Muita coisa mudou na minha vida e na minha experiência.” Um dos exemplos é a pessoalidade com que retratou cada momento. ”Percebe-se que em 2016 existe um olhar mais pessoal nessas fotos. Antes era um olhar mais direto, documental.”
Plano, Seco e Pontiagudo está em cartaz em diversos edifícios ocupados pelo movimento Frente de Luta por Moradia (FLM), no centro de São Paulo. As fotografias são ampliadas e colocadas nas fachadas dos prédios, em banners que variam de dois a sete metros. O objetivo é dialogar com as comunidades locais, que, assim como em Canudos, lutam pelo direito à moradia. ”Vou fazer projeções dentro das ocupações, mostrando todas as fotos e falando um pouco da guerra de Canudos. A arte é um estado de encontro, então estou tentando fazer com que através da fotografia eu possa ter esse encontro com a população das ocupações.”
Canudos, que entrou para a história do Brasil pela luta de uma comunidade, não esqueceu seu passado, destaca a fotógrafa. O mito Antônio Conselheiro ainda vive na cidade, mas de maneira diferente. ”Antes eram estátuas, hoje são grafites.”
Mais informações estão disponíveis na página do evento nas redes sociais.