Um estudo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP avaliou a resposta psicofisiológica de mulheres antes, durante e depois do exercício físico, ao longo do ciclo menstrual. A pesquisa analisou fatores como a percepção de esforço, prazer e ansiedade durante atividades, em diferentes intensidades. Os resultados mostram que as mulheres relatam respostas psicológicas piores no decorrer da fase lútea da menstruação, ou seja, no período pré-menstrual, que tem início após a ovulação.
O trabalho faz parte do mestrado do pesquisador Raul Cosme Ramos Prado, é pioneiro na área e foi orientado pelo professor Ricardo Yukio Asano. Para a análise, foram considerados dois pontos do ciclo menstrual: a fase lútea (pré-menstrual) e a folicular (período entre o primeiro dia da menstruação e a ovulação).
As 14 participantes do estudo foram submetidas a sessões de exercícios na esteira, por 15 minutos, com intensidades severa ou moderada. Cada sessão acontecia em um intervalo de 48 horas. Os resultados foram publicados no artigo The effect of menstrual cycle and exercise intensity on psychological and physiological responses in healthy eumenorrheic women na revista científica Physiology and Behavior.
Todas as mulheres eram maiores de idade, com ciclo menstrual regular — de 25 a 33 dias, aproximadamente — e praticavam exercícios regularmente. O pesquisador conta que fez cálculos de amostra, antes de iniciar a pesquisa, que indicaram que o número de participantes é o suficiente para estabelecer resultados confiáveis, para mulheres com essas características.
“As respostas psicofisiológicas têm uma forte relação com a permanência na prática de exercício por mais tempo. Nossos resultados sugerem que há a necessidade de os profissionais se atentarem ao monitoramento do ciclo menstrual e considerarem as autopercepções das mulheres e suas particularidades durante o programa de treinamento. Com isso, o condicionamento físico de cada uma poderá ser melhorado em virtude também de sua permanência por mais tempo no exercício.”
Ciclo menstrual
O ciclo menstrual tem como característica a flutuação de hormônios sexuais, tais como progesterona e estrogênio. Precisamente, a progesterona tem um efeito em sítios de ligação em receptores de regiões cerebrais responsáveis por emoções (amígdala) e tomada de decisão (córtex pré-frontal). Com o aumento da progesterona, a partir da segunda metade do ciclo, a atividade cerebral dessas regiões é afetada, de forma que a amígdala aumenta a liberação de sinais excitatórios e o córtex pré-frontal reduz a capacidade de bloquear os sinais vindos dela.
É importante ressaltar que outros eventos advindos do ciclo menstrual também podem influenciar respostas psicológicas. Por exemplo, no período ovulatório (metade do ciclo) há aumento da temperatura corporal com o objetivo de preparar o corpo da mulher para uma possível fecundação. Esse aumento da temperatura corporal acaba intensificando percepções vindas do exercício quando comparado à primeira metade do ciclo.
Os testes
Durante a fase folicular e lútea, as mulheres foram ao laboratório para fazer as sessões de exercícios, na esteira. Além disso, os pesquisadores deram um termômetro para as participantes, com o intuito de medir a temperatura basal, que varia durante o ciclo. “A temperatura oscila em um comportamento bem marcante. A partir da metade do ciclo, ela aumenta bastante em relação às casas decimais medidas, de 0,2 a 0,4”, explica Ramos Prado ao Jornal da USP. Assim, é possível saber quando a mulher chegou à metade do ciclo.
Adicionalmente, a pesquisa contava com os relatos das participantes. O pesquisador acompanhou três ciclos. Ele destaca que a maior dificuldade que enfrentou foi em relação à periodicidade do ciclo menstrual. “Às vezes, a mulher pode chegar ao ciclo antes do período esperado por conta de estresse ou de outros fatores”, explica.
As sessões de exercício ocorriam na janela de cinco dias antes e cinco dias depois da menstruação. Durante o exercício, a participante era monitorada com um analisador dos níveis de oxigênio e gás carbônico, para medir as respostas fisiológicas e com um questionário que mede a resposta psicológica das pessoas.
O questionário foi empregado com o objetivo de medir tensão, ansiedade e prazer relacionados ao exercício. As perguntas feitas para medir o prazer centravam-se em uma escala bipolar de 11 pontos, sendo 5 positivos e 5 negativos e o zero como valor neutro. Nessa escala, a participante relata o prazer que está sentindo durante a atividade.
Além disso, os pesquisadores mediram a percepção de esforço, durante a sessão. Foi medida em uma escala de 15 pontos, de 6 a 20, para apontar quanto esforço a pessoa estava sentindo que fazia, no momento.
“Resumindo, as participantes sentiam mais esforço e menos prazer fazendo o exercício quando estavam na fase lútea do ciclo menstrual, ou seja, a fase pré-menstrual.”
Os resultados
Mulheres na fase lútea apresentaram maior ansiedade, tensão, depressão, hostilidade e menor excitação, afeto e motivação antes do exercício. Ao relatar o prazer, durante as sessões, os pesquisadores notaram que, na intensidade severa, o prazer foi negativo na escala usada.
A percepção de esforço foi outra medida que elas sentiam mais na fase lútea. “Resumindo, as participantes sentiam mais esforço e menos prazer fazendo o exercício quando estavam na fase lútea do ciclo menstrual, ou seja, a fase pré-menstrual do ciclo”, diz o pesquisador ao Jornal da USP.
Ramos Prado notou também que as respostas fisiológicas, como esforço e reações químicas do corpo, não se alteraram entre as fases. Então, não houve maior esforço fisiológico no exercício, embora a percepção das participantes tenha apontado nesse sentido, na fase lútea. Ele explica que as respostas psicológicas podem estar promovendo essas alterações.
“As respostas psicofisiológicas têm uma forte relação com a permanência na prática de exercício por mais tempo. Nossos resultados sugerem que há a necessidade de os profissionais se atentarem ao monitoramento do ciclo menstrual e considerarem as autopercepções das mulheres e suas particularidades durante o programa de treinamento. Com isso, o condicionamento físico de cada uma poderá ser melhorado em virtude também de sua permanência por mais tempo no exercício”, destaca o pesquisador.
O trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o analisador do nível de gases foi comprado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Mais informações: e-mail pradorcr@gmail.com, com o pesquisador Raul Cosme Ramos Prado