Em entrevista ao Jornal da USP, a jovem B.L., de 19 anos, uma das voluntárias da pesquisa, ainda se emociona ao falar dos abusos e desrespeitos aos quais foi submetida em 2021. Na época, quando ainda estava na 37ª semana de gestação, precisou ir à maternidade por conta de um mal-estar e foi internada para dar à luz prematuramente a sua segunda filha, hoje com dois anos. Então com 17 anos, ela havia feito acompanhamento da gestação em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas estava muito insegura porque tinha sido diagnosticada com gravidez de alto risco por ter pressão baixa e anemia.
Olhando os acontecimentos em perspectiva, B. L. identifica que os abusos começaram logo ao chegar à maternidade, seguiram no trabalho de parto e foram até o recebimento da alta no hospital. “Em nenhum momento foi me dado conhecimento do que estava acontecendo comigo e com meu bebê e o que seria feito para amenizar o meu mal-estar. Solicitei a presença da minha cunhada, que havia me levado ao hospital e tinha ficado na recepção, e me foi negado. Estava aterrorizada. Me senti sozinha e desamparada”, diz.
B. L. disse que teve a filha prematuramente. Com isso, ficou sob cuidados médicos por vários dias, fato que lhe causou muita angústia e preocupação. Ela acredita que, ao dar entrada no hospital, se seu estado de saúde fosse estabilizado, o parto poderia ter sido adiado para as semanas seguintes, quando estaria no tempo gestacional mais adequado, entre 40 e 42 semanas, e sua filha teria tido mais tempo para desenvolver por completo os seus órgãos antes de nascer. Segundo Fonseca, bebê prematuro é aquele que nasce pré-termo, ou seja, antes de completar 37 semanas de gestação. “Em média, os bebês nascem com 40 semanas”, explica.
Durante o trabalho de parto, B. L. conta que sentiu muita dor e sofreu bastante. Ela recebeu ocitocina na veia, além de ter sido colocada, ao mesmo tempo, uma sonda urinária que a incomodava muito e que só foi retirada quando o bebê começou a nascer. Seu sentimento era de desamparo e solidão porque não tinha perto dela um acompanhante para lhe dar apoio e por não ter informação do que estava ocorrendo. “Meu marido foi três vezes ao hospital, mas não conseguiu autorização para acompanhar o parto e nem permanecer no quarto como acompanhante”, diz. “Tive alta e, um mês depois, comecei a ter crises de pânico e ansiedade, sintomas que ainda permanecem até hoje, diz.”
B. L. procurou atendimento psicológico, mas acabou abandonando porque, nessa época, ela recebeu a notícia de que seu filho mais velho é uma pessoa com transtorno do espectro autista e priorizou o atendimento psicológico dele. Ainda hoje, ao olhar para a filha e lembrar da violência obstétrica que sofreu, ainda se emociona.