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Pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur vão usar minicérebros e neurônios obtidos a partir de células-tronco como modelo de estudo – Foto: Colin Behrens/Pixabay
Pesquisa vai investigar os impactos da covid-19 no cérebro humano
Os experimentos serão feitos com uma técnica que possibilita reprogramar células adultas para retornarem ao estágio embrionário
11/08/2021
Por Agência Fapesp/Assessoria de Comunicação SPPU
Arte: Rebeca Alencar/Jornal da USP
Experimentos com organoides cerebrais, chamados popularmente de minicérebros, foram essenciais para a identificação do vírus zika como agente causador de microcefalia. Agora, esse mesmo modelo de estudo será usado por pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU, na sigla em inglês) para investigar os possíveis danos causados pelo coronavírus no cérebro. A Plataforma Científica Pasteur-USP é uma parceria entre a Rede Pasteur e a USP.
Além dos organoides cerebrais, também serão usados neurônios corticais, de uma região do cérebro conhecida como córtex, ambos produzidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSC, na sigla em inglês) – técnica que possibilita reprogramar uma célula adulta para que retorne a um estágio não diferenciado. “Ao ser manipulada em laboratório, a célula volta a ter comportamento embrionário e, assim, pode ser transformada em qualquer tipo de célula”, explica a pós-doutoranda Fabiele Baldino Russo, em entrevista à Assessoria de Comunicação da SPPU.
O procedimento descrito pela bióloga possibilita criar aglomerados celulares com a mesma estrutura e função de um cérebro. “Essas estruturas mimetizam muito bem o que ocorre nos tecidos humanos que enfrentam infecções”, acrescenta Fabiele.
Fabiele Balbino Russo – Foto: NeuroConecta
Os resultados da pesquisa deverão ajudar a compreender a patogenicidade e os mecanismos de infecção do sars-cov-2 no cérebro. Isso porque há cada vez mais relatos clínicos de pacientes com covid-19 com danos neurológicos, confusão mental, perda de paladar e olfato, convulsões, distúrbios motores e encefalite.
O material biológico necessário à pesquisa está sendo obtido com dentes de leite cedidos por voluntários. A partir das células-tronco extraídas da polpa dentária, são produzidos in vitro os neurônios, em 2D, e os organoides cerebrais, em 3D, que depois serão infectados com o sars-cov-2. Dessa forma, espera-se conseguir analisar os tipos celulares mais afetados pelo vírus, além de verificar se ocorre morte celular.
“A proposta é entender a ação do sars-cov-2 nas células do sistema nervoso. Investigar, por exemplo, se o vírus afeta as sinapses dos neurônios ou mesmo destrói essas células nervosas. Ou se os infectados serão mais propensos a ter a doença de Alzheimer no futuro, por exemplo”, comenta a pesquisadora, que prevê os primeiros resultados para 2022.
Na SPPU, a técnica iPSC também será usada para a triagem in vitro de drogas contra o vírus zika. Em paralelo, serão produzidos organoides cerebrais a partir de células-tronco pluripotentes de ovinos ou caprinos, o que possibilitará avançar nos estudos que investigam os mecanismos de comprometimento cerebral nesses animais por Trypanosoma vivax, o protozoário causador da tripanossomose, doença que causa diversos problemas de saúde e pode levar à morte. Esses estudos serão realizados pela biomédica Ethiane Segabinazi e pela bióloga Ana Paula Pessoa Vilela, ambas pós-doutorandas na SPPU e bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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