Margareth Artur/Revistas da USP
O conceito de saúde, além de abranger o bem-estar físico e social do indivíduo, não prescinde da saúde mental. O tratamento para quem sofre de transtornos mentais, sejam quais forem, requer mais do que a prescrição de medicamentos, pois é imprescindível oferecer um cuidado especializado, proporcionando ao paciente acolhimento, atenção, valorizando-o como um ser merecedor de boa qualidade de vida. Nesse cuidado, quem acompanha mais de perto a pessoa internada em hospital é o profissional de enfermagem. A profundidade emocional do cuidado de enfermagem vai além do corpo, “o cuidado deve oferecer uma perspectiva holística e ir além da visão reducionista à doença”.
Um artigo da SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas traz uma análise “sobre a realização de um treinamento em saúde mental com a utilização de metodologias ativas”, baseada no trabalho de cinco enfermeiras em um hospital geral de grande porte em leitos psiquiátricos.
A pesquisa com o pessoal de enfermagem contou com a realização de treinamento a partir de metodologias ativas, “com foco na aprendizagem baseada em problemas e problematização” e na avaliação desse treinamento. As autoras do artigo apontam a necessidade da formação de profissionais que inclua o cuidado humanizado ao paciente, com foco nas necessidades emocionais ou subjetivas e no estabelecimento de um vínculo de confiança entre enfermeiras(os) e doentes.
Metodologias ativas envolvem métodos de desenvolvimento e de estímulo de ações provenientes do pensamento crítico e reflexivo que podem auxiliar os profissionais de enfermagem a proporcionar melhoras significativas aos portadores de transtornos mentais. Essas novas metodologias se fundamentam em duas perspectivas: a aprendizagem baseada em problemas, procurando despertar “uma atitude ativa do aluno em busca do conhecimento”, e a problematização, em que os problemas são identificados pelo aluno(a)/enfermeiro(a) na prática da “ação – reflexão – ação”, ambas dedicadas a questões da realidade. Em relação à avaliação da reação ou da satisfação das metodologias, a pesquisa mostrou o resultado favorável do treinamento, comprovado o progresso “na assistência de enfermagem em saúde mental”.
A adoção de metodologias ativas revelou-se como processos vitais para a conquista de conhecimento em saúde mental, já que possibilitou a criação de recursos de comunicação e desenvolvimento do raciocínio crítico, “minimizando, assim, as dificuldades e tornando o profissional mais preparado para lidar com certas circunstâncias”. Observa-se também que o treinamento gerou transformações expressivas de comportamento dos profissionais, propiciando novos rumos em relação ao processo do cuidado, “tornando-se mais humanizado e integralizado”. Essa realização do processo educativo ligado à Educação Permanente em Saúde (EPS) difere muito do método tradicional. Neste último, os pacientes psiquiátricos são apáticos, e a EPS, ao contrário, viabiliza a participação ativa daqueles na tomada de decisões, junto das enfermeiras(os).
As autoras declaram a importância do olhar do profissional de enfermagem para com os doentes, ouvindo suas dores, aflições e conflitos, sem julgamentos ou preconceitos, destacando a relação necessária entre as enfermeiras(os) e os familiares de quem está hospitalizado, pois a equipe de enfermagem precisa “incentivar e integrar a participação da família no tratamento e reabilitação de pacientes com transtornos mentais”.
Finalizando, ressalta-se que o estudo favoreceu a elaboração de conhecimento no campo da saúde mental com o novo treinamento das metodologias ativas para pessoas com distúrbios mentais, ancorado tanto nas habilidades e novas atitudes adquiridas pelos profissionais de enfermagem quanto na “capacidade crítica no exercício cotidiano do trabalho nos hospitais psiquiátricos”.
Artigo
MACHADO, M. G. de O.; SAMPAIO, C. L. Treinamento em transtornos mentais comuns na enfermaria: uso de metodologias ativas na construção do cuidado. SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em português), São Paulo, v. 17, n. 1, p. 75-83, 2021. ISSN: 1806-6976. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2021.168134. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/smad/article/view/168134. Acesso em: 09 jun. 2021.
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