No Laboratório de Dinâmica e Instrumentação (Ladin), da Poli, Padovese reuniu mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos para estudarem e desenvolverem uma tecnologia nacional. Lá tem a câmara hidrostática, que permitiu, com testes de pressurização, levar os equipamentos a operarem a até 300 metros de profundidade, onde a pressão é de 30 Bar. “Atualmente, nos nossos campos no litoral, estamos operando em profundidades de 20 metros”, conta.
O equipamento autônomo de monitoramento acústico consiste em um cilindro estanque de 10 centímetros de diâmetro por 80 centímetros de comprimento, resistente à pressão da água, que contém um hidrofone, um microfone específico para uso embaixo da água, junto de seus componentes eletrônicos responsáveis pela gravação e armazenagem contínuas dos sons que ele registra.
Atualmente são usados cartões de memória comuns, que permitem até um terabyte de gravação. “Podemos gravar por praticamente um ano, dependendo do que está sendo pesquisado, sem ter de remover o equipamento do fundo do mar, o que é importante já que a logística para instalação desses equipamentos é complicada e cara”, explica. O sistema funciona atualmente usando 45 pilhas alcalinas ou de lithium, e pode ser expandido até o dobro disso.
Características:
Autonomia: 23 dias de gravação contínua de áudio, podendo ser expandida
Banda de Áudio: até dois hidrofones, 24 bits, 20Hz a 48kHz
Dimensões: diâmetro de 0,1m comprimento de 0,45m
Profundidade: 70m
Outro desafio para os pesquisadores foi desenvolver algoritmos de processamento de dados, e softwares, para analisar as informações gravadas. O que fazer com quatro meses de áudio gravados ininterruptamente, por exemplo? “Não podemos colocar uma pessoa para ouvir toda a gravação e é aqui que entra uma parte importante da pesquisa, a que trata do processamento de dados, e que é uma das especialidades do nosso laboratório”, destaca.
Os softwares fazem automaticamente a identificação dos eventos sonoros captados. “Boa parte do que foi gravado é o chamado ruído de fundo, e no meio disso aparecem os sons que interessam para cientistas e para quem faz o monitoramento, como a passagem de uma baleia, de um coro de peixes [coro é o som produzido por cardumes], a chegada de uma embarcação. Os softwares identificam esses momentos na gravação e informam o dia e horário da mesma”, detalha.
Dessa forma, eles traduzem a informação em algo que possa ser usado, como, por exemplo, saber quantas embarcações trafegaram numa área protegida entre 18 e 6 horas, quando, supostamente, não deveria haver ninguém lá. “Trata-se de uma informação relevante para os gestores de parques como a Laje de Santos e Alcatraz, que não têm estrutura para fazer vistorias presenciais permanentes. De posse desses dados, podem planejar esse tipo de fiscalização e encontrar os infratores”, ressalta.
O equipamento já foi usado em projetos anteriores, como o de monitoramento da migração de baleias jubartes na região de Ilhéus (BA), e de monitoramento de portos na Baía de Sepetiba (RJ), que avaliou o impacto do ruído da operação dos portos na população de botos cinzas que habita a área.
No momento, a equipe do laboratório pesquisa maneiras de aumentar ao máximo a autonomia do Oceanpod, reduzindo o consumo de energia ao mínimo necessário. Também estão trabalhando numa nova geração de outro equipamento, o Oceanbase, que terá um sistema para transmissão dos dados captados em tempo real. Há estudos ainda para usar essa tecnologia para ambientes terrestres, também com foco na preservação ambiental e apoio aos estudos científicos sobre biodiversidade.
Da Assessoria de Imprensa da Poli