Abricó-de-macaco e cambuci: novos conhecimentos sobre cultivo ajudam a preservar árvores da extinção

Pesquisadores da USP realizam estudos ligados ao crescimento e ao cultivo dessas espécies de grande valor comercial e cultural, mas com baixa taxa de proliferação e recuperação

 12/01/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 18/01/2022 às 18:57
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Fotomontagem com imagens de abricó-de-macaco e de cambuci, respectivamente – Fotos: Wikimedia e Flickr

 

Abricó-de-macaco e cambuci são espécies de árvores nativas que apresentam valor econômico e cultural, seja pela extração da madeira para fabricação de utensílios, pela confecção de doces ou pelo uso medicinal das plantas. Entretanto, por se tratarem de vegetais lenhosos, têm uma recuperação baixa e não acompanham o ritmo de consumo humano — o que as coloca em risco de extinção. Para entender sobre seus desenvolvimentos, pesquisadores da USP buscaram métodos de criação in vitro (em laboratório) para favorecer a proliferação de mudas.

 

Abricó-de-macaco (Couroupita guianensis)

Foto: Arquivo pessoal

Abricó-de-macaco (Couroupita guianensis), também conhecido popularmente por castanha-de-macaco, cuia-de-macaco, macacarecuia, maracarecuia, amêndoa-dos-andes, amendoeira-dos-andes e coco-da-índia é uma espécie florestal de origem amazônica, de importância no uso medicinal e ornamental. A árvore, que mede de 8 a 15 metros, é lembrada pelos frutos redondos que parecem castanhas e pendem em cachos, e também pela flor exótica. 

Apesar de nativa da região Norte, ela se adaptou ao clima do Sudeste brasileiro, inclusive na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, onde os pesquisadores se interessaram em estudar a espécie. O estudo foi liderado pelo professor Paulo Hercílio Viegas Rodrigues, do Laboratório de Cultivo de Tecidos de Plantas Ornamentais (LCTPO), e publicado na plataforma SciELO.

Segundo Viegas, a espécie está em extinção na Índia, pela extração da casca das árvores para infusão. O chá de abricó-de-macaco tem propriedades anti-inflamatórias, mas o uso indiscriminado colocou em risco a espécie. Por se tratar de um vegetal lenhoso, tem lento crescimento e recuperação — diferente de herbáceas, como a bananeira, que têm o desenvolvimento mais acelerado. 

Abricó-de-macaco – Foto: Wikimedia

Pensando nisso, o objetivo da pesquisa foi analisar a influência de diferentes espectros de luz na germinação das plantas, de modo a investigar seu crescimento. Foram colhidas sementes de frutos maduros 330 dias após a floração. Durante a coleta, os frutos foram abertos, e as sementes foram extraídas — no total, 48 foram selecionadas.

As mudas foram postas em meios de cultura, sem a adição de reguladores de crescimento. Esses meios foram expostos a quatro espectros de luz diferentes: a branca, a vermelha e a azul e uma combinação de 70% vermelha + 30% azul. Esses são espectros fotossinteticamente ativos, ou seja, são absorvíveis e usados pelos vegetais na fotossíntese. Em todos, houve 100% de germinação in vitro.

Os resultados mostraram que o espectro de luz vermelho favoreceu um maior desenvolvimento de raízes secundárias, o que privilegia a produção de mudas de qualidade maior in vitro, com mais chances de sobreviver às fases de germinação, e auxilia na proliferação da espécie. O efeito também pode ser útil no processo de enraizamento e aclimatização de mudas da planta. A pesquisa também busca utilizar estes conhecimentos para dar passos em direção ao entendimento da produção dos fitoquímicos responsáveis pelos indícios de propriedades medicinais.

 

Cambuci (Campomanesia phaea)

a) Uma planta madura de cambuci (C. phaea); b) Fruto (esquerda) e semente (direita); c) Plântula germinada in vitro após 91 dias; d) Tipos de explantes: a – segmento nodal, b – hipocótilo e c – raízes; e) sementes de cambuci (C. phaea): a – não germinaram e b – germinaram, após 63 dias; f) gradiente de germinação de sementes em diferentes meios, após 63 dias

O cambuci (Campomanesia phaea) é uma espécie natural da Mata Atlântica brasileira, conhecido pelo seu fruto usado desde a fabricação de bolos até sorvetes. Parente da pitanga, a fruta é ácida e azeda e tem alto valor econômico e cultural, mas o maior interesse na espécie está no uso da madeira da árvore, que mede de 3 a 5 metros de altura, como matéria-prima de ferramentas e utensílios básicos. Essa exploração, o desmatamento ligado à expansão urbana e a baixa taxa de propagação são responsáveis pelo risco de extinção da espécie — que está na lista vermelha da União Internacional Para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) de 2020.

“A importância imediata da pesquisa é a saída do cambuci da lista vermelha e esperamos, assim, ajudar a aprimorar a técnica para atender futuras demandas de mudas dessa espécie”, afirma o pesquisador.

Além do valor econômico e cultural, os frutos da espécie possuem propriedades nutracêuticas e medicinais. Para estudar as técnicas de cultura de tecidos vegetais na propagação da planta, os cientistas germinaram sementes in vitro usando diferentes meios, buscando métodos mais eficientes que os tradicionais para obtenção de boas mudas. “Adicionamos mais uma variável que foi o pH do meio de cultivo. Essa variável nos possibilitou entender aspectos culturais importantes do cambuci e que nos levou ao sucesso da obtenção do protocolo de propagação in vitro”, afirma Viegas.

O artigo intitulado Propagação in vitro de cambuci (Campomanesia phaea): uma fruta exótica e planta ornamental ameaçada de extinção da Mata Atlântica brasileira, que descreve o estudo, foi publicado dia 7 deste mês, na plataforma Springer.

Os dados mostraram que a espécie necessita de uma concentração reduzida de sais e pH ácido para seu desenvolvimento e as plantas com raízes regeneradas apresentaram uma taxa de sobrevivência de 94,4% após a aclimatação. “É muito difícil trabalhar com culturas ‘novas’. A descoberta do uso do pH de 4.5 no meio de cultivo foi fundamental para desenvolver o protocolo e termos mudas in vitro aptas ao plantio”, completa. 

Gradientes morfogenéticos cambuci (C. phaea) – As fotografias foram tiradas 49 dias após a inoculação do explante em meio de cultura

 

Mais informações: e-mail phrviegas@usp.br, com o professor Paulo Hercílio Viegas Rodrigues


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