O potencial de trabalho das pessoas com deficiência é subutilizado no Brasil, que não cumpre a própria determinação legal de contratação desses trabalhadores. A avaliação é de Luciana Romano Morilas, advogada e professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
Luciana comentou os resultados da pesquisa da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, realizada entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, mostrando que 65% delas passaram por sérias dificuldades ao ingressar no mercado de trabalho, incluindo descrédito profissional.
Persistência e coragem
É o caso da professora e presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto e região (Adevirp), Marlene Taveira Cintra, que diz ter enfrentado muitos obstáculos ao se tornar a primeira professora cega a atuar na rede pública de ensino de Ribeirão Preto. Marlene conta que sofreu descrédito no início de suas atividades no magistério da cidade, que só foi superado com persistência e coragem.
Para a professora da USP, mesmo garantidos por lei, muito ainda precisa ser feito pelos direitos das pessoas com deficiência. Segundo Luciana, o amparo legal não alcança a totalidade desses trabalhadores e ainda sofre com ausência de fiscalização; some-se a isso a falta de consciência dos empresários para a importância da inclusão social, e o resultado é uma realidade que persiste, apesar do País possuir legislação para a empregabilidade dos deficientes há mais de 30 anos.
Legislação
A Lei de Cotas para Deficientes 8.213/1991, por exemplo, prevê a obrigatoriedade das empresas com 100 ou mais funcionários empregarem entre 2% e 5% desses trabalhadores. No entanto, afirma Luciana, “para não contratar, as empresas alegam falta de acessibilidade, baixa qualificação dos profissionais com deficiência, dificuldade em estabelecer vagas exclusivas e resistência dos gestores”.
Resistência esta que pode ter base na falta de conhecimentos dos empresários quanto às facilidades da adaptação do local e ferramentas de trabalho para o deficiente. O pedagogo Guilherme Sandrin Parizi, deficiente visual e funcionário da Adevirp, adianta que a sensação de ingressar no mercado de trabalho é muito benéfica ao funcionário e também pode ser boa para o empregador. Parizi acredita que os empresários estão deixando de contratar por ignorar as facilidades e baixos investimentos da empresa nas adaptações. Às vezes, basta apenas “colocar um leitor de telas gratuito no computador da pessoa”, exemplifica.
Por: Léia Coelho e Rita Stella