Centros de Referência impulsionam o Brasil nos Jogos Paralímpicos

Os centros são responsáveis por incentivar a iniciação e o desenvolvimento de paratletas, tornando o País uma potência no desporto paralímpico

 Publicado: 18/06/2024     Atualizado: 24/06/2024 as 18:26

Texto: Analice Candioto*
Arte: Diego Facundini**

Atividades no Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto – Foto: Cedida pelo Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto EEFERP-USP

O Brasil se prepara para as competições paralímpicas que acontecem em Paris, França, a partir de 28 de agosto deste ano. O desempenho dos paratletas brasileiros tem sido cada vez melhor.

Para se ter uma ideia, nos últimos jogos que ocorreram em Tóquio, no Japão, em 2020, o Brasil bateu recorde de medalhas de ouro com 22 conquistas, mais do que a soma de todas as medalhas obtidas nos Jogos Olímpicos realizados um mês antes, também em Tóquio. No total foram 72 medalhas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze. Já nos Jogos Olímpicos, foram conquistadas 21 medalhas, sendo de sete ouro, seis de prata e oito de bronze.

Essa diferença no desempenho do desporto paralímpico pode estar diretamente ligada à existência de mais de 60 Centros de Referência Paralímpicos espalhados por todo o Brasil. Um deles em Ribeirão Preto, sediado na Escola de Educação Física e Esporte (EEFERP) da USP.

Priscilla Bittar, professora de natação do Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto e mestranda da EEFERP, diz que o resultado desse desempenho é consequência do investimento no esporte, principalmente pela criação dos centros. “Os Centros de Referência têm como foco principal a iniciação esportiva de jovens com deficiência, além disso, mais campeonatos foram distribuídos pelos Estados, levando o esporte de alto rendimento a todos os cantos do País.”

Outro motivo para as competições adaptadas terem crescido nos últimos anos é a visibilidade que as pessoas com deficiência têm alcançado na mídia e nas redes sociais, fruto da discussão sobre o capacitismo, segundo Priscilla. “O capacitismo é o preconceito e a discriminação sofridos pelas pessoas com deficiência, mas essas pessoas têm ganhado cada vez mais espaço e voz, tanto no esporte quanto em outras áreas”, destaca.

Priscilla Baruffaldi Bittar - Foto: Reprodução/RCPol

Foto: Cedida pelo Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto EEFERP-USP

Ribeirão Preto

O Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto foi criado em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB),  Secretaria Municipal de Esportes e a EEFERP, e está funcionando há mais de dois anos. Segundo o secretário de Esportes, Erik Ávila, que já foi dirigente do Centro de de Referência, nele são atendidas cerca de 140 pessoas, na faixa etária de 7 a 35 anos de idade, e desenvolvidas nove modalidades nas dependências da EEFERP e em vários espaços da cidade, em parceria com outras universidades, associações e Secretarias do município. 

Foto: Cedida pelo Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto EEFERP-USP

As modalidades desenvolvidas pela própria EEFERP são a natação e o atletismo. Já em parceria com outras universidades, o centro desenvolve o parabadminton (esporte jogado com raquete e peteca em formato paralímpico) e o rugby em cadeira de rodas (esporte de origem inglesa, jogado com bola de vôlei). Em parceria com a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) é realizado o esqui cross-country (esqui com rodas).

Com a Secretaria de Educação do município, em parceria com uma escola de educação especial, o centro desenvolve o vôlei sentado e a bocha paralímpica (esporte realizado em cadeira de rodas, que consiste em lançar bolas coloridas o mais próximo da bola branca). As modalidades voltadas para os deficientes visuais são realizadas em parceria com a Associação de Deficientes Visuais de Ribeirão Preto (Adevirp), como o goalball (futebol adaptado usando as mãos) e o futebol de cegos; em ambos as partidas são realizadas em lugares silenciosos e a bola utilizada no jogo possui um guizo, objeto que fica dentro da bola e produz um som ao ser agitado.

O centro não trabalha apenas com a iniciação de atletas, mas, também com os que já estão em desenvolvimento esportivo paralímpico. Para iniciar o treinamento no centro é necessário ter mais de 7 anos e ter deficiência física, visual e/ou intelectual. Para cada modalidade o atleta passará por uma avaliação realizada pelo professor responsável da área. Basta entrar em contato com o Centro de Referência Paralímpico pelo Instagram @crprp.sme.eeferp.usp ou com a Secretaria de Esportes de Ribeirão Preto pelo telefone (16) 3604-9900.

Salto para a vitória

Uma das atletas que usam a estrutura disponibilizada pelo Centro de Referência de Ribeirão Preto para se preparar para os Jogos Paralímpicos de Paris é a ribeirão-pretana Zileide Cassiano da Silva. Ela treina atualmente na pista de atletismo da Cava do Bosque, local vinculado à Secretaria Municipal de Esportes. A paratleta ganhou a medalha de ouro no salto em distância do Mundial de Atletismo Paralímpico, realizado em Kobe, no Japão, em maio deste ano. Zileide saltou 5,80 metros e, além do pódio mais alto no torneio, carimbou o passaporte para os Jogos Paralímpicos de Paris, resultado de muito foco e determinação, segundo a atleta. “Não vou negar, estou ansiosa, mas vejo uma possibilidade muito grande de estar fazendo boas marcas, estou treinando muito para tentar conseguir conquistar esse sonho que eu quero, que é fazer boa marca nessa competição, competir muito bem e carregar minha família comigo, que é a minha base”, comemora.

Zileide Cassiano - Foto: Reprodução/Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto

Foto: Cedida pelo Centro de Referência Paralímpico de Ribeirão Preto EEFERP-USP

Paris

A 17ª edição dos Jogos Paralímpicos começa no dia 28 de agosto e vai até o dia 8 de setembro deste ano, em Paris, França. O torneio conta com 12 dias de competição, reúne 185 Comitês Paralímpicos Nacionais com mais de 4 mil atletas de todo o mundo, sendo a maior edição. O Brasil, até o início de junho, tinha 163 paratletas confirmados na delegação que vai a Paris.

As competições acontecem a cada quatro anos, logo após a realização dos Jogos Olímpicos e, neste ano, contam com 22 esportes o que é, inclusive, um dos grandes diferenciais: muitas modalidades são distintas dos Jogos Olímpicos. 

A mestranda aponta que são aptos para participar dos Jogos Paralímpicos atletas que tenham deficiência física, visual ou intelectual. “Para que a competição seja justa e equilibrada,  todos os atletas passam por uma classificação em função das suas capacidades. Dessa forma, cada um deles terá uma classe funcional, e não vai ser a deficiência que vai determinar quem vence, e, sim, o próprio desempenho dos atletas.”

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone
**Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado

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