Será inaugurada hoje na Faculdade de Medicina da USP a exposição Surto – Epidemias em um mundo conectado, realizada em parceria com o Instituto de Saúde Global de Harvard. O Jornal da USP no Ar conversou com o curador da exposição, professor Aluísio Augusto Cotrim Segurado, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
A exposição coloca em foco a possibilidade de ocorrência de epidemias de doenças chamadas emergentes ou reemergentes em diferentes áreas do mundo, a partir das relações humanas que se estabelecem no mundo moderno. Segundo Segurado, situações como a urbanização crescente e desordenada, o impacto sobre o meio ambiente, o impacto sobre a saúde animal, o uso de antibióticos e as viagens áreas transcontinentais levam ao aumento da possibilidade de emergência de novos micróbios e de sua disseminação em diferentes lugares do mundo. A exposição vem para chamar a atenção a essas novas doenças e para isso se utiliza do centenário da gripe espanhola, a grande pandemia que determinou alta taxa de mortalidade no mundo entre 1918 e 1919.
A organização inicial da exposição foi do Instituto Smithsonian, em parceria com a Universidade de Harvard. O professor explica que algumas instituições no mundo foram convidadas a realizar exposições-satélite e a USP teve a honra de ser a única no Brasil a receber esse convite.
Além do material produzido pelo Smithsonian e pelo Instituto de Saúde Global de Harvard sobre o tema, a FM, com a curadoria do professor e historiador de medicina paulista, André Mota, adicionou à exposição uma seção sobre como se deu a epidemia de gripe espanhola no Brasil. Segurado acredita que isso permite ao público não só uma visão global, mas também de como a sociedade médica lidou com uma epidemia dessa magnitude, um século atrás.
O professor destaca que, apesar dos avanços, como o saneamento básico e a vacinação, é necessário que a vigilância seja contínua e sustentada. Recentemente no Brasil ocorreram importantes exemplos de reemergência de doenças que estavam controladas, como o sarampo e a febre amarela. Para Segurado, a exposição é importante também por trabalhar o paradigma da saúde única: a ideia de que a compreensão e o enfrentamento dessas epidemias exigem uma soma de saberes, que não se restringem apenas à saúde humana, mas incluem também especialista em saúde animal e ambiental, já que são os desequilíbrios nesses três setores que dão o pano de fundo para o ressurgimento desses tipos de doenças.
A exposição, que tem sua abertura no dia de hoje, ficará no saguão da FM, na Av. Dr. Arnaldo 455, por um período de dois meses e é gratuita.