Neste momento de crise sanitária, o Sistema Único de Saúde (SUS) se apresenta como uma forma de combate e prevenção ao coronavírus. Ricardo Rodrigues Teixeira, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina (FM) da USP, conta ao Jornal da USP no Ar como o sistema público tem funcionado, suas fragilidades e seus aproveitamentos.
O fato de no Brasil existir um sistema tão abrangente e universal como o SUS já indica, segundo ele, que o Brasil está à frente de muitos países. “O SUS envolve diversos níveis de atenção, mas também ações de caráter coletivo, como a vigilância epidemiológica”, explica Teixeira. “Não podemos ignorar que o sistema estava bastante fragilizado, mas estávamos potencialmente preparados para uma situação de pandemia. A Organização Mundial da Saúde decreta emergência em 30 de janeiro e, no dia três de fevereiro, o Brasil também decreta emergência sanitária. Isso demonstra prontidão nos nossos sistemas.”
Apesar de o SUS apresentar um sistema que contempla todos os níveis de assistência, há uma cultura, segundo o professor, de se associar a saúde imediatamente ao ambiente hospitalar e à alta tecnologia. “Esse quadro é importante, mas retrata apenas uma dimensão. O SUS dispõe também de uma rede ainda mais capilarizada e extensa que a nossa rede hospitalar, porque oferece atenção primária à saúde, o que identificamos nos postos de saúde. Estes são a porta de entrada principal do SUS”, explica.
Teixeira comenta sobre um possível colapso do sistema de saúde, um dos temores que se tinham. “A ideia de achatar a curva é justamente que não leve muitos casos se apresentando ao mesmo tempo, de forma que ele não dê conta”, aponta o especialista. Ele ainda critica o relaxamento do distanciamento social que se vê em São Paulo, dizendo que, “ao colocar a disponibilidade de leitos como critério para a flexibilização, é como se dissesse que, como não faltam leitos, as pessoas podem se infectar. Neste momento, a atenção primária passa a ter um ponto estratégico”.
O professor explica que ainda há o que fazer na esfera da prevenção, já que até mesmo o tratamento se insere em uma lógica de prevenção. “Neste momento”, ele aponta, “entra a atenção primária, com duas grandes estratégias de resposta: o distanciamento social, que diminui o contato entre pessoas e o contágio, e a vigilância epidemiológica, que é uma estratégia focada em indivíduos já infectados”. Nessa estratégia, segundo ele, a equipe de atenção primária procura identificar os contatos íntimos do paciente infectado para fazer o bloqueio da epidemia a partir dos casos identificados.
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