Retorno das aulas presenciais em São Paulo divide opiniões

Autoridades e sociedade discutem prós e contras da volta às aulas no Estado e a professora Bianca Corrêa teme piora nos índices da pandemia com o retorno

 12/02/2021 - Publicado há 3 anos
Por
Algumas regiões do Estado decidiram retomar as atividades presenciais nas salas de aula, enquanto outras preferiram adiar a volta para o mês de março –  Foto: August de Richelieu/Pexels CC
Logo da Rádio USP

Voltar ou não voltar? Eis a questão. A dúvida é compartilhada por milhares de alunos e seus familiares desde o início das aulas presenciais no Estado de São Paulo, no dia 8 de fevereiro. Enquanto algumas regiões retomaram as atividades presenciais, outras preferiram adiar a volta para o mês de março. 

As medidas de segurança, no entanto, parecem ser consenso entre todos e devem ser cumpridas para esse retorno presencial. As unidades escolares estão seguindo protocolos que exigem, no máximo, ocupação de 35% das salas de aula, com divisão de alunos em grupos. O distanciamento social, o uso de álcool em gel e máscaras faciais também são indispensáveis. 

As autoridades da educação e sanitárias trabalham com a ideia de que, ao longo do tempo, a capacidade de alunos aumente gradativamente, até que se tenha a presença de todos os estudantes em sala de aula. 

Volta às aulas é prejudicial ou não? 

Para Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEEESP), o que aconteceu no Brasil “é uma aberração”, por conta do tempo em que os alunos ficaram sem ter aulas presenciais. 

“O sindicato sempre foi a favor do retorno das aulas”, destaca Ribeiro, prevendo que “vai ser bastante difícil recuperar o que foi perdido por esses alunos”, mesmo com as aulas remotas. De qualquer forma, Ribeiro garante que “as escolas estão prontas” para a tarefa de recomeçar.

Já para a professora Bianca Corrêa, especialista em Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, “a situação vai muito além de ser contra ou favor” e envolve pensar nas condições necessárias para que o retorno aconteça de forma segura para alunos e funcionários. “Neste momento, em que morrem mil pessoas por dia no Brasil, nenhum protocolo, além do isolamento, é viável.” 

Embora a pandemia esteja instalada desde março do ano passado, argumenta Bianca, as escolas não foram adaptadas, o que pode fazer com que o retorno das atividades presenciais aumente a contaminação pelo vírus da covid-19. A professora acredita que o retorno às aulas presenciais “não vai ser uma solução, mas pode representar uma piora nos índices da pandemia”. 

Aulas híbridas 

Como nem todos se sentem seguros e confortáveis em voltar às atividades normais, as escolas terão que adotar um modelo híbrido de ensino, mesclando aulas presenciais e a distância. Dessa forma, a aula que está sendo dada em sala também pode ser acompanhada pelo aluno que está em casa. É o que defende Ribeiro.

“Seria muito importante que as aulas fossem todas presenciais”, afirma o presidente do SIEEESP. Mas não é uma realidade possível neste momento, já que não podemos “fazer muita aglomeração”. Contudo, Ribeiro entende que o retorno é ainda mais importante para crianças que não têm acesso à tecnologia para interação e para assistir às aulas. 

Por outro lado, a professora Bianca se preocupa com o que chama de “outros interesses” por trás desse novo formato de aula. “Esse modelo tem significado, entre outros prejuízos, a demissão em massa de professores, que estão sendo substituídos por robôs”, destaca. 

Bianca garante que é preciso problematizar esse tipo de ensino e não naturalizá-lo. Segundo a professora, formalizar essa situação pode trazer prejuízos no futuro, quando a pandemia chegar ao fim. 

Escolas preparadas? 

A região de Ribeirão Preto-SP foi uma das que optaram por retornar às aulas presenciais somente em março. Para o diretor regional da SIEEESP, João Alberto de Andrade Velloso, as escolas da região têm total condições de voltar às atividades presenciais neste momento, o que seria “o melhor para os alunos”. 

Velloso diz que o problema maior é o das crianças que ficaram distantes da escola. “Esse trauma, sim, vai afetar o resto da vida de cada um desses alunos que perderam este ano de estudos.” 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.