As decisões tomadas nos últimos meses pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, têm sido criticadas tanto por outros países quanto por membros da gestão do próprio governo. A preocupação com os impactos ambientais – resultantes da política de liberação de mais tipos de agrotóxicos, por exemplo – é relacionada às exportações, que já sentem as consequências. Recentemente, uma rede sueca de supermercados anunciou um boicote a todos os produtos brasileiros, e o temor do agronegócio é que essa iniciativa se expanda ainda mais.
O professor Pedro Luiz Côrtes, do programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, conversou com o Jornal da USP no Ar sobre o assunto. Para fundamentar essas preocupações, ele traz dados de um levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que revela que o desmatamento da Amazônia atingiu número recorde, aumentando 34% em relação ao ano passado. Isso equivale a dois campos de futebol por minuto. Além disso, o número de autuações feitas pelo Ibama vem diminuindo cada vez mais: “Do início deste ano até 15 de maio, o INPE enviou aos órgãos ambientais de fiscalização 3.860 alertas sobre desmatamento, mas a fiscalização do IBAMA realizou apenas 850 autuações”, conta o especialista.
Todas esses fatores geraram várias repercussões negativas. Em um evento organizado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP, sete ex-ministros do Meio Ambiente criticaram as ações de Ricardo Sales. Para Côrtes, “essa foi uma reunião inusitada, porque até então um grupo tão grande de ex-ministros nunca havia criticado tão fortemente a atual gestão de uma pasta”.
Os alertas em relação a possíveis prejuízos surgiram desde que houve a proposta de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, visando a transformá-lo em uma secretaria do Ministério da Agricultura. O próprio agronegócio se manifestou contra, fazendo pressão contra medidas que pudessem prejudicar a reputação brasileira. O principal motivo disso são as exportações: o boicote da rede sueca pode até ter sido uma iniciativa isolada, porém o temor é que esse tipo de movimento ganhe força na Europa e resulte em novas barreiras econômicas.
No entanto, segundo o professor, mesmo gerando tantos receios e discordâncias, o governo continua negligenciando a importância do Ministério do Meio Ambiente. “Os protestos têm se amplificado, seja por políticos, ex-ministros, ONGs ou organizações estrangeiras. Há vários setores da sociedade que vêm se mobilizando contra isso. Parece que o governo não dará a devida importância à pasta até o momento em que tenha um prejuízo real a nossas exportações. Se isso acontecer, não é algo que se possa reverter de imediato. Isso pode demorar, no mínimo, alguns meses”, explica Côrtes.
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