Índices da pré-hipertensão apresentam efeitos silenciosos e riscos à saúde

De acordo com Luiz Aparecido Bortolotto, aferir e controlar a pressão arterial sempre é fundamental para agir o mais precocemente possível e evitar o aparecimento de doenças graves

 Publicado: 24/10/2024 às 12:22

Texto: Redação

Arte: Simone Gomes

O apoio familiar e social é parte fundamental no processo saúde-doença e o fato de possuir companheiro pode ser um agente facilitador no processo de tratamento dos hipertensos Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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A pressão arterial é um tema de grande interesse e preocupação para muitas pessoas, devido à sua relação com diversas doenças graves, como infarto e AVC. Recentemente, a Sociedade Europeia de Cardiologia propôs uma nova diretriz que introduz uma zona intermediária entre os níveis de pressão arterial considerados normais e o diagnóstico de hipertensão.

Luiz Aparecido Bortolotto, professor do Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina (FM) e diretor da Unidade de Hipertensão Arterial do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC), ambos da Universidade de São Paulo, explicou que a nova diretriz europeia classifica o limite da pressão normal (12 por 8) como uma zona intermediária de risco. “No Brasil, chamamos de pré-hipertensão, que no meu ver é um nome mais adequado, porque você falar para as pessoas que essa faixa intermediária é pressão elevada e faz muita confusão com o próprio diagnóstico de hipertensão. Então a questão é a nomenclatura”, comenta.

O especialista destaca que os riscos para a saúde aumentam a partir de 115 mmHg na pressão sistólica, ou 75 mmHg de diastólica, mesmo antes de atingir os valores considerados hipertensivos. 

Luiz Aparecido Bortolotto - Foto: Cecilia Bastos / USP Imagens

“E aí precisa ficar atento, mudanças de estilo de vida saudável, dieta adequada, com pouco sal, peso, controlar peso e estresse, e atividade física, que serve para evitar hipertensão lá na frente.” Contudo, ele diz que a pressão da diastólica para fazer essa divisão (70 mmHg) é discutível.

Efeitos silenciosos

De acordo com Bortolotto, a hipertensão é conhecida como uma “doença silenciosa”, pois muitas vezes não apresenta sintomas claros. O professor alerta que, em 90% dos casos, as pessoas não sentem nada, mesmo com valores elevados (14 por 9). Sintomas como tontura, mal-estar, entre outros, podem acontecer com a elevação da pressão, mas não necessariamente indicam a hipertensão, já que podem ocorrer por outros problemas. “Quando é avançada, a pessoa vai ter falta de ar, que é um comprometimento do coração, prejuízo da visão, que fica embaçada. Então, o importante é aferir a pressão regularmente, a partir dos 18 anos de idade, pelo menos uma vez por ano, mesmo sendo assintomático”, complementa.

Fatores de risco, como histórico familiar, excesso de peso, sedentarismo e colesterol alto, aumentam a necessidade de monitoramento frequente. Para aqueles que se enquadram nessas categorias, a aferição deve ser feita de forma mais regular: “Por isso que a gente recomenda, em qualquer consulta médica, que a pessoa faça a medida da pressão. Dermatologista, ginecologista, ortopedista, por mais que não seja especialidade, tem lá um cantinho para medir a pressão”.

Como tratar?

Em relação ao tratamento, Bortolotto explica que na maioria dos casos de hipertensão (incluindo a pré-hipertensão, entre 12 por 8 e 14 por 9) é recomendado a adoção de hábitos saudáveis, com alimentação baseada em menos sódio e sal, e atividades físicas regulares, além do controle de peso e estresse. No entanto, para casos de hipertensos maiores (maior ou igual a 14 por 9), ele informa: “90% ou mais vai ter que tomar medicação. A medicação controla bem e evita as complicações, e é para o resto da vida”.

O docente complementa: “Maior ou igual a 14 por 9, que é hipertensão, é 30% da população atual. Entre 12 por 8 e 14 por 9, valor de pré-hipertensão, a gente não tem uma ideia grande, mas é um número muito maior de pessoas, que não precisam necessariamente tomar remédio nessa faixa intermediária”.

Com mais de 30% da população adulta mundial sofrendo de hipertensão, a importância de monitorar a pressão arterial é clara. O professor Bortolotto reforça o alerta: não basta esperar por sintomas ou atribuir a elevação da pressão a situações momentâneas de estresse. O acompanhamento regular e as mudanças no estilo de vida são essenciais para manter a saúde cardiovascular em dia e prevenir complicações a longo prazo.

Bortolotto afirma que, na maioria dos tratamentos de hipertensão, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes não passam por cardiologistas, e sim no clínico geral. “O fato de encaminhar para cardiologistas, nefrologistas e outras especialidades que acompanham mais de perto, é em casos em que a pressão fica mais difícil de controlar, quando começa a ter uma repercussão no coração, quando o rim já começa a trazer prejuízo.”

Se não tratada, a longo prazo, a hipertensão pode causar insuficiência cardíaca, AVC, problemas visuais, ou falência do coração e dos rins. “Junto com diabete é uma das principais causas de necessidade de diálise. Então tem que controlar e aferir a pressão sempre, para agir o mais precocemente possível”, conclui.


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