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Índices da pré-hipertensão apresentam efeitos silenciosos e riscos à saúde
De acordo com Luiz Aparecido Bortolotto, aferir e controlar a pressão arterial sempre é fundamental para agir o mais precocemente possível e evitar o aparecimento de doenças graves
A pressão arterial é um tema de grande interesse e preocupação para muitas pessoas, devido à sua relação com diversas doenças graves, como infarto e AVC. Recentemente, a Sociedade Europeia de Cardiologia propôs uma nova diretriz que introduz uma zona intermediária entre os níveis de pressão arterial considerados normais e o diagnóstico de hipertensão.
Luiz Aparecido Bortolotto, professor do Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina (FM) e diretor da Unidade de Hipertensão Arterial do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC), ambos da Universidade de São Paulo, explicou que a nova diretriz europeia classifica o limite da pressão normal (12 por 8) como uma zona intermediária de risco. “No Brasil, chamamos de pré-hipertensão, que no meu ver é um nome mais adequado, porque você falar para as pessoas que essa faixa intermediária é pressão elevada e faz muita confusão com o próprio diagnóstico de hipertensão. Então a questão é a nomenclatura”, comenta.
O especialista destaca que os riscos para a saúde aumentam a partir de 115 mmHg na pressão sistólica, ou 75 mmHg de diastólica, mesmo antes de atingir os valores considerados hipertensivos.
“E aí precisa ficar atento, mudanças de estilo de vida saudável, dieta adequada, com pouco sal, peso, controlar peso e estresse, e atividade física, que serve para evitar hipertensão lá na frente.” Contudo, ele diz que a pressão da diastólica para fazer essa divisão (70 mmHg) é discutível.
Efeitos silenciosos
De acordo com Bortolotto, a hipertensão é conhecida como uma “doença silenciosa”, pois muitas vezes não apresenta sintomas claros. O professor alerta que, em 90% dos casos, as pessoas não sentem nada, mesmo com valores elevados (14 por 9). Sintomas como tontura, mal-estar, entre outros, podem acontecer com a elevação da pressão, mas não necessariamente indicam a hipertensão, já que podem ocorrer por outros problemas. “Quando é avançada, a pessoa vai ter falta de ar, que é um comprometimento do coração, prejuízo da visão, que fica embaçada. Então, o importante é aferir a pressão regularmente, a partir dos 18 anos de idade, pelo menos uma vez por ano, mesmo sendo assintomático”, complementa.
Fatores de risco, como histórico familiar, excesso de peso, sedentarismo e colesterol alto, aumentam a necessidade de monitoramento frequente. Para aqueles que se enquadram nessas categorias, a aferição deve ser feita de forma mais regular: “Por isso que a gente recomenda, em qualquer consulta médica, que a pessoa faça a medida da pressão. Dermatologista, ginecologista, ortopedista, por mais que não seja especialidade, tem lá um cantinho para medir a pressão”.
Como tratar?
Em relação ao tratamento, Bortolotto explica que na maioria dos casos de hipertensão (incluindo a pré-hipertensão, entre 12 por 8 e 14 por 9) é recomendado a adoção de hábitos saudáveis, com alimentação baseada em menos sódio e sal, e atividades físicas regulares, além do controle de peso e estresse. No entanto, para casos de hipertensos maiores (maior ou igual a 14 por 9), ele informa: “90% ou mais vai ter que tomar medicação. A medicação controla bem e evita as complicações, e é para o resto da vida”.
O docente complementa: “Maior ou igual a 14 por 9, que é hipertensão, é 30% da população atual. Entre 12 por 8 e 14 por 9, valor de pré-hipertensão, a gente não tem uma ideia grande, mas é um número muito maior de pessoas, que não precisam necessariamente tomar remédio nessa faixa intermediária”.
Com mais de 30% da população adulta mundial sofrendo de hipertensão, a importância de monitorar a pressão arterial é clara. O professor Bortolotto reforça o alerta: não basta esperar por sintomas ou atribuir a elevação da pressão a situações momentâneas de estresse. O acompanhamento regular e as mudanças no estilo de vida são essenciais para manter a saúde cardiovascular em dia e prevenir complicações a longo prazo.
Bortolotto afirma que, na maioria dos tratamentos de hipertensão, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes não passam por cardiologistas, e sim no clínico geral. “O fato de encaminhar para cardiologistas, nefrologistas e outras especialidades que acompanham mais de perto, é em casos em que a pressão fica mais difícil de controlar, quando começa a ter uma repercussão no coração, quando o rim já começa a trazer prejuízo.”
Se não tratada, a longo prazo, a hipertensão pode causar insuficiência cardíaca, AVC, problemas visuais, ou falência do coração e dos rins. “Junto com diabete é uma das principais causas de necessidade de diálise. Então tem que controlar e aferir a pressão sempre, para agir o mais precocemente possível”, conclui.
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