Novas espécies de vírus foram identificadas em pacientes que apresentavam sintomas da dengue. Um dos microrganismos pertence ao gênero Ambidensovirus e foi encontrado em amostra coletada no Amapá. O outro, presente em amostra do Tocantins, pertence ao gênero Chapparvovirus. Antonio Charlys da Costa, pós-doutorando da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores do estudo, compartilha que essas espécies nunca foram encontradas antes em humanos e foi possível identificá-las através da técnica de metagenômica viral.
Embora tenham sido encontrados em pacientes com sintomas de dengue, ainda não é conclusivo que os novos vírus tenham desencadeado esses sintomas ou se oferecem de fato risco para a população, mas a descoberta de novos microrganismos pode ser um alerta para a importância de se estudar e analisar novos vírus que podem, por exemplo, ajudar na identificação de doenças não reconhecíveis, como afirma o pesquisador: “Essa descoberta pode trazer alguma luz para os diagnósticos não resolvidos, ou seja, para aqueles pacientes que tinham alguma suspeita de alguma arbovirose e os testes deram negativos. Você tem mais opção de buscar causadores de doenças, entendeu, isso também daria mais força para pessoas procurarem mais vírus diferentes aqui no nosso país”.
Em um período em que estamos enfrentando a ameaça mundial do coronavírus, o Brasil, país com histórico de epidemias virais, precisa estar sempre atento com os novos e também com os antigos vírus, como, por exemplo, o da dengue, uma das arboviroses que podem ser invisibilizadas pela pandemia, como explica o professor Expedito Luna, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Medicina Tropical: “Ela [a pandemia] veio acompanhada com um quadro de extrema gravidade, com uma letalidade que não é desprezível e é natural que o mundo inteiro desenvolva esforços no sentido de controlar essa doença. Um problema que acontece é que, simultaneamente à ocorrência da covid-19, outras doenças continuam ocorrendo, dentre elas, a dengue”.
Nas primeiras dez semanas deste ano, o Brasil registrou ao menos 332.397 casos de dengue, segundo dados do último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde até o dia 7 de março. Em 2020, a atenção deve ser redobrada porque o pico da doença coincidirá com o da covid-19 e o da gripe influenza, previstos para maio, como explica o professor: “O pico de ocorrência de dengue no Brasil costuma ser no mês de maio, então, até a semana do dia 12, ou seja, que é mais ou menos o meio do mês de março, o Ministério da Saúde já nos informava 450 mil casos prováveis de dengue no Brasil, ou seja, caminhamos para mais um ano epidêmico”.