Acompanhe a entrevista da repórter Marcia Avanza com o professor Renato Janine Ribeiro, colunista da Rádio USP:
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Repercute, principalmente no meio político, a prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ocorrida nesta quarta-feira (19), em Brasília. A Polícia Federal informou que sua prisão aconteceu em decorrência da Operação Lata Jato, enquanto nota divulgada pelo Ministério Público Federal alega existir “risco à instrução do processo, à ordem pública, como também a possibilidade concreta de fuga, em virtude da disponibilidade de recursos ocultos no exterior, além da dupla nacionalidade”. O deputado cassado – e agora preso – é acusado de desvio de recursos públicos e de manter contas no exterior.
Em entrevista à repórter Marcia Avanza, o professor Renato Janine Ribeiro da Universidade de São Paulo revela que a prisão de Cunha tem um valor simbólico, uma vez que o ex-presidente da Câmara, independente de ser ou não culpado das acusações que lhe são imputadas, é visto como alguém que cometeu atos ilegais e corruptos. Nesse sentido, observa o colunista da Rádio USP, sua prisão torna claro que a sociedade brasileira não compactua com atos dessa natureza.
No entanto, ele admite sentir um certo ceticismo, uma vez que já se assistiu a esse filme antes, mais precisamente em 1992, quando do processo que culminou no processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, então presidente da República, afastado também por atos de corrupção. “Naquela ocasião, houve uma série de ações que indicavam que o Brasil ia ser passado a limpo, expressão muito utilizada na época.” Tudo indicava que o Brasil havia, finalmente, mudado de rumo, o que absolutamente não ocorreu.
Um quarto de século após Collor ter deixado a presidência do Brasil, as mesmas preocupações voltam a afligir a sociedade brasileira. “O tempo passou e não tivemos nenhum salto qualitativo”, diz Janine Ribeiro. “É importante nós garantirmos que tudo isso não seja apenas uma noite de verão, que seja possível modificar tudo o que está aí e, ao mesmo tempo, preservar a estabilidade democrática e o Estado de direito.”
De um ponto de vista ético, a sensibilidade da sociedade parece revelar pessimismo, desalento e desânimo, o que, segundo o professor, tornou-se claro no alto número de votos nulos, brancos e de abstenções nas últimas eleições. “Nós temos que recuperar a fé no País, e um dos passos para isso é assegurar que a política se faça de maneira honesta.”