Segundo o Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) do Centro de Meteorologia de Bauru/Unesp, a tempestade de areia formou-se a partir de uma frente fria que adentrou o Estado de São Paulo pelo Paraná, atingindo as cidades de Presidente Prudente, Palmital, Gália, Candido Mota, até chegar às cidades de Sorocaba e Itapetininga.
A mesma frente fria foi responsável pela formação de um tornado no interior do Estado de Santa Catarina, impactando as cidades de Tangará, Água Doce, Lacerdópolis, Catanduvas e Ibicaré, tendo afetado mais de 700 residências na região de Água Doce, conforme relatado pela Defesa Civil da cidade.
No caso da tempestade de areia no interior paulista, foi observada a formação de uma densa nuvem, seguida de chuva e ventania com poeira e areia. Foram afetados posteamento e iluminação pública, ruas, vegetação pública, praças, moradias, veículos e serviços locais.
Tempestades de areia atingem com maior força zonas urbanas com escassa vegetação, sendo mais comuns em zonas áridas, como as grandes planícies norte-americanas ou as regiões do norte da China. Em julho de 2011, por exemplo, uma forte tempestade de areia atingiu a cidade de Phoenix, capital do Estado do Arizona no Oeste dos Estados Unidos, com velocidade dos ventos acima de 100 km/h, resultando em redução de visibilidade em distintos graus, fechamento de aeroporto e corte de fornecimento de energia elétrica.
A ocorrência de tempestades de areia no território brasileiro evidencia a necessidade de enfrentamento de processos de desertificação, deflagrados pela associação entre as alterações globais do clima, com aumentos de temperatura e redução hídrica, e os impactos das intervenções antrópicas sobre os biomas, sobretudo desmatamento e avanço de atividades agropastoris.
A desertificação é um processo que destrói o equilíbrio do solo, da vegetação e da água em áreas sujeitas a uma natureza edáfica e/ou climática e que se instala em função da associação de fatores econômicos, naturais e sociais (Silva, 2019). Seu enfrentamento demanda, portanto, o desenvolvimento de políticas, ações e estratégias de caráter multidisciplinar e intersetorial.
Focos de desertificação já podem ser observados no semiárido nordestino, em razão da acelerada degradação da caatinga, e em algumas regiões de cerrado, nos estados do Tocantins, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
O combate à desertificação no Brasil é objeto do Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-Brasil), estruturado no âmbito do Ministério do Meio Ambiente (MMA) no ano de 2005.
O PAN-Brasil contempla o estabelecimento de macroobjetivos e define cinco eixos temáticos para orientação do combate à desertificação: a) combate à pobreza e à desigualdade; b) ampliação sustentável da capacidade produtiva; c) preservação, conservação e manejo sustentável de recursos naturais; d) gestão democrática; e) fortalecimento institucional.
O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), de 2016, também contempla ações voltadas ao enfrentamento da desertificação nos setores estratégicos de agricultura, biodiversidade e ecossistemas, gestão de riscos e desastres, povos e populações vulneráveis, e segurança alimentar e nutricional.
Não obstante, é preciso avançar na estruturação e na implementação de políticas, ações e estratégias intersetoriais voltadas à prevenção e mitigação de processos de desertificação no território brasileiro, em âmbito urbano e rural.