“Slow Reading”: o que pode mudar em sua vida lendo devagar

Por José Roberto Cardoso, professor da Escola Politécnica da USP

 Publicado: 19/07/2024
José Roberto Cardoso – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

 

 

O título me chamou atenção, pois sugere um comportamento que não pratico. Sempre que me deparo com um livro novo, fico ansioso em ler seu final, que me dá prazer indescritível, mas, no entanto, este anseio me faz lê-lo muito rápido e me faz perder detalhes que algumas vezes percebo ao conversar com quem o leu.

O livro Slow Reading, de John Miedema, não é um livro novo, seu lançamento vem de 2009 e tem pouco menos de 100 páginas. Livros como este costumava lê-lo no aeroporto, enquanto esperava pelo embarque, mas seu conteúdo me fez refletir justamente sobre o porquê ler rápido.

A fluência do texto é leve, mas o conceito apresentado é profundo. Suas lições me incentivaram e reler vários livros que passaram pelas minhas mãos, que na ânsia de vê-los terminado — não pelo fato de não gostar do relato e sim pelo prazer de ler um texto bem elaborado e com um encadeamento fascinante que nos prende em suas páginas — devo ter perdido passagens ricas que exigiriam uma maior reflexão, que com certeza me levaria a um prazer maior na leitura.

Miedema destaca que a leitura lenta não é simplesmente ler mais devagar, ao contrário é exercício adequado para você encontrar a sua velocidade de leitura. O leitor lento aprecia seu livro como aprecia uma boa comida, reforçando a ideia mestra do movimento “Slow” que começou com o “Slow Food” criado por Carlo Petrini na Itália dos anos de 1980. Ressalta ainda que devemos apreciar a leitura e não ser viciado nela, pois ambos, livros e comida são elementos essenciais para uma vida saudável.

Critica a leitura no formato digital, sobretudo aquelas realizadas através de notebooks e iPads, não pela tecnologia em si, mas pelo fato de deixá-lo permanentemente conectado e interromper sua concentração a todo instante com a chegada de novas mensagens.

Toca também na questão ecológica, que joga a favor da leitura digital, mas não deixa de apontar que a tecnologia digital não minimizou o uso do papel, pois todo computador está conectado a uma impressora que é utilizada sempre que um texto mais longo nos é enviado.

A leitura exige total dedicação, não ter por perto celulares é mandatório. Isto não é nada novo, pois a leitura do primeiro veículo de leitura, a Bíblia, exige dedicação plena para absorver seus ensinamentos.

O autor afirma que o hábito da leitura lenta é uma herança que deve ser passada aos jovens, pois a concentração que deve ser a ela dedicada facilitará muito a compreensão de textos, indo ao encontro de melhor desempenho escolar. Destaca ainda o papel da bibliotecária no bem-estar psicológico da comunidade. Sua orientação ao leitor em como e o que ler é a nova habilidade exigida da profissão de bibliotecário para valorizar o prazer da leitura.

A criança pratica a “leitura lenta” e, por esta razão, sua imaginação é levada ao ambiente da narrativa. Ela se imagina personagem ativa dos acontecimentos. Por que na idade adulta perdemos esta capacidade? É uma pergunta que devemos fazer sempre que nos defrontamos com uma obra atraente.

Por fim, o autor afirma que o “ser” leitor consegue ler algo em torno de 500 livros em sua vida, o que é pouco, de modo que devemos selecionar muito bem o que ler, absorver completamente seu conteúdo como se fosse uma pérola e entender que esta biblioteca será uma representação única do nosso caráter.

Meu nome é José Roberto Cardoso, minha vida inteira passei na academia, e o livro é parte integrante de minha atividade profissional e do meu lazer. Pena não ter lido este livro antes.

A ideia de “Slow Reading” (Leitura Lenta) apresentada por John Miedema é fascinante e contrapõe o ritmo frenético com que muitos de nós lemos hoje em dia. Esse comportamento de leitura acelerada, frequentemente motivado pela ansiedade em descobrir o desfecho da narrativa, pode levar à perda de detalhes importantes e ao comprometimento da experiência literária completa.

Ao refletir sobre suas próprias práticas de leitura, você destacou várias ideias essenciais do livro, que, ao serem consideradas, podem transformar nossa relação com a leitura.

Pontos Principais do “Slow Reading”

Apreciação da Leitura:

Leitura como Prazer: Miedema argumenta que a leitura lenta não se trata apenas de ler devagar, mas de encontrar a velocidade adequada para apreciar o texto, semelhante ao movimento “Slow Food”. Apreciar cada palavra e reflexão, como se fosse uma refeição gourmet, pode aumentar significativamente o prazer de ler.

Prazer vs. Pressa: Apressar-se para terminar um livro pode privar o leitor de uma experiência rica e reflexiva. Relendo livros com essa nova perspectiva pode-se descobrir passagens e detalhes anteriormente negligenciados.

Impacto da Tecnologia:

Distrações Digitais: A leitura em dispositivos digitais, como notebooks e iPads, pode ser prejudicada pelas constantes interrupções de mensagens e notificações, diminuindo a capacidade de concentração profunda necessária para a leitura lenta.

Aspecto Ecológico: Embora a leitura digital seja ecologicamente vantajosa, a tecnologia não eliminou o uso de papel, já que a impressão de textos longos ainda é comum.

Educação e Herança Cultural:

Formação de Jovens Leitores: Miedema enfatiza a importância de passar o hábito da leitura lenta para os jovens, argumentando que isso pode melhorar a compreensão de textos e o desempenho escolar.

Papel dos Bibliotecários: A nova habilidade dos bibliotecários deve incluir orientar os leitores sobre como e o que ler para maximizar o prazer e os benefícios da leitura.

Conexão Imaginativa:

Imersão Infantil: As crianças naturalmente praticam a leitura lenta, imaginando-se ativamente nas narrativas. Recuperar essa capacidade na idade adulta pode enriquecer a experiência de leitura.

Seleção de Livros:

Leitura Seletiva: Com uma média de 500 livros lidos ao longo da vida, escolher cuidadosamente o que ler e absorver profundamente cada obra é crucial. Cada livro lido contribui para a formação do caráter e do conhecimento do leitor.

Reflexão Pessoal:

Você, José Roberto Cardoso, destaca a importância do livro em sua vida acadêmica e pessoal, lamentando não ter lido “Slow Reading” antes. Esse reconhecimento sugere que adotar uma abordagem mais lenta e reflexiva pode trazer benefícios significativos, não apenas no consumo de textos, mas na forma como absorvemos e aplicamos o conhecimento adquirido.

Adotar a leitura lenta pode não ser uma mudança fácil, especialmente em uma cultura que valoriza a rapidez e a produtividade. No entanto, os benefícios apresentados por Miedema fazem dessa prática uma consideração valiosa para qualquer leitor que deseja aprofundar sua compreensão e apreciação literária.

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