“Somos a nação do progresso humano, e quem irá impor limites à nossa marcha adiante?”
(United States Magazine and Democratic Review, 1839)
Os Estados Unidos demoraram demasiadamente para perceber o tamanho do desafio chinês. Foi tão somente neste século que começaram a despertar, tardiamente, para o elefante na sala.
Foi só no governo Obama/Biden que se intenta uma reformulação na política externa americana, para priorizar não mais o Médio Oriente, entrementes o “desafio asiático”. A China, naquele momento, era um desafio evidente como sol do meio-dia. O então presidente democrata formulou, assim, o “pivô para Ásia” e a “Aliança para o Pacífico” (TPP). Ambos fracassos retumbantes. O pivô asiático não saiu do papel porque os Estados Unidos não conseguiram sair do Oriente Médio. As “Guerras Gêmeas”, no Afeganistão e Iraque, se tornaram infinitas. Posteriormente, veio a “Guerra na Líbia”, o Iraque da Hilary. E ainda a “Guerra na Síria”, humilhante para o governo Obama. Além do surgimento do grupo terrorista Isis. Tudo isso, no contexto da Primavera Árabe. Já o TPP (Trans-Pacific Partnership), o tratado de livre-comércio que reuniria os EUA e as principais economias da Ásia e do Pacífico, numa tentativa clara de isolar a China, foi implodido pelo governo Trump.
A política externa de Trump foi marcada por um isolacionismo arrogante. Com o desprezo às “organizações multilaterais” e até mesmo a aliados tradicionais dos EUA, como Alemanha e França. No entanto, foi na administração Trump que se iniciou a nominada “Guerra Comercial à China”. A partir da eleição de Trump, em 2016, formou-se um consenso no Departamento de Estado dos EUA, sejam democratas, sejam republicanos, militares, políticos, congressistas de alto e baixo escalão, secretários de Estado, diplomatas, think tanks, diversas universidades e grupos de pesquisa, intelectuais a serviço do Estado, jornalistas e a mídia em geral etc., de que o grande desafio dos EUA não é mais o “terror” ou “terrorismo” e, sim, a China, e que é preciso contê-la tenazmente.
O governo Biden/Harris, após a desastrosa retirada dos EUA do Afeganistão, começou finalmente a realizar o outrora esboçado pivô para o Pacífico, a fim de conter a expansão da China. Biden passou a movimentar as peças no tabuleiro geopolítico. Criou o QUAD (Parceria Quadrilateral sobre Segurança entre Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão) e, posteriormente, a AUKUS: uma aliança de cooperação tecnológica e militar, envolvendo Estados Unidos em conjunto com Reino Unido e Austrália. Ambos, uma evidente estratégia de contenção da China no Indo-Pacífico.
Um ponto decisivo na reorganização da geopolítica do poder, que está ocorrendo no sistema-mundo, é o envolvimento umbilical dos EUA na guerra da Ucrânia. O enfrentamento à Rússia alcançou proporções sistêmicas, implicando as grandes potências globais, o que desencadeou o estreitamento de uma “aliança sem limites” sino-russa – que completou um ano no mês de fevereiro –, segundo Henry Kissinger, o pior dos cenários para a política externa americana.
Os dois países anunciaram uma aliança de nível superior e sem precedentes na história do sistema-mundo: “As novas relações interestatais entre Rússia e China são superiores às alianças políticas e militares da época da Guerra Fria. A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação”, diz o documento.
O governo Biden deu passo decisivo na contenção ao poder chinês. A “guerra tecnológica” contra a China. Biden divulgou um amplo conjunto de controles de exportação que proíbem as empresas chinesas de comprar chips avançados. As recentes sanções dos EUA contra a China são sem precedentes nos tempos modernos. Autoridades dos EUA falaram sobre a medida como um ato a fim de proteger os interesses de segurança nacional. Os chips que os Estados Unidos tentam controlar são semicondutores, os processadores que movem celulares, carros autônomos, computação avançada, drones, equipamentos militares – e se tornaram essenciais para a disputa tecnológica desta década.
Em síntese, a gestão Biden não só continuou a “guerra econômica” com a China, iniciada por Trump, como a elevou a uma “guerra tecnológica” e ainda a uma “guerra humanitária”, bem ao estilo dos democratas. Trata-se de um caminho sem volta.
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