Nesta terça-feira, dia 17, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP promove o evento de lançamento da edição brasileira de O livro africano sem título – Cosmologia dos Bantu-Kongo, escrito pelo educador congolês Bunseki Fu-Kiau. Originalmente escrito em inglês, o livro foi publicado nos Estados Unidos em 1980. Porém, apenas neste ano foi publicado em português pela editora Cobogó.
Para o evento foram convidados Tiganá Santana, músico e tradutor do livro; Mestra Janja, capoeirista e historiadora; Álvaro Faleiros, professor de literatura francesa da USP; e Tata Katuvanjesi, jornalista de formação e representante das religiões afro-brasileiras.
Kimbwandende Kia Bunseki Fu-Kiau nasceu no Zaire, atual República Democrática do Congo, e foi um importante pesquisador da antropologia cultural, educação, biblioteconomia e desenvolvimento comunitário. Autor de diversos livros, Fu-Kiau foi sacerdote em tradições dos povos Bantu-Kongo. Representante da cosmologia africana, o pesquisador faleceu em setembro de 2013.
O livro africano sem título — Cosmologia dos Bantu-Kongo trata de um conjunto de investigações e palestras em que Fu-Kiau condensa os princípios da cosmologia dos Bantu-Kongo, grupo étnico que habita as margens africanas do Oceano Atlântico. É o primeiro livro do autor a ser traduzido para o português. O processo de tradução foi feito como parte da pesquisa de doutorado de Tiganá Santana, apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em 2019. Tiganá, além de professor de pós-graduação no IEB, é docente da Universidade Federal da Bahia.
Sobre o processo de tradução, Tiganá comenta: “Foi preciso entrar num repertório de saberes, um repertório epistemológico que me permitisse traduzir a obra dentro daquilo que eu julguei eticamente melhor. Como trazer esse modo de pensar para a recepção brasileira? Essa foi minha grande questão”.
O título é importante pois estuda a cosmologia de um povo que habitava localidades de onde muitos escravizados foram trazidos para o Brasil. Dessa forma, o livro de Fu-Kiau ajuda a entender como aspectos da cultura Bantu foram incorporadas à cultura brasileira.
“Isso que chamamos de cultura brasileira, a grosso modo, vem em grande parte das presenças africanas. O próprio léxico corrente no Brasil é constituído também por línguas africanas, notadamente do tronco linguístico Bantu. E o Fu-Kiau apresenta uma esfera completa de pensamento a partir dos Bacongo, que é presente na construção das Umbandas no Brasil, por exemplo, no Candomblé de linhagem Congo-Angola, no Jumbo, nos Maracatus, entre outros. Então é algo que de fato diz respeito à cultura brasileira diretamente”, enfatiza Tiganá Santana.
“A gente precisa, no Brasil, recuperar esse repertório epistemológico do qual conscientemente nos distanciamos por força da colonialidade e do racismo.”
“Para o IEB é muito importante se manter como um espaço de discussão interdisciplinar. Ver reunidos Tiganá Santana, Álvaro Faleiros, Tata Katuvanjesi e Mestra Janja, participar desse diálogo em torno do lançamento do livro e da cosmologia Bantu-Kongo, é uma oportunidade única para os que compartilham de nosso ambiente acadêmico”, aponta Luciana Galvão, vice-diretora do IEB e uma das organizadoras do evento.
O evento acontece no Institutos de Estudos Brasileiros (Av. Prof. Luciano Gualberto, 78 – Butantã – São Paulo) e terá início às 18h30.
*Estagiário sob supervisão de Silvana Salles