A eleição presidencial nos Estados Unidos torna-se um marco na história mundial. A colunista Giselle Beiguelman faz, no entanto, uma análise comentando e refletindo sobre as eleições além dos seus resultados.
“À primeira vista, até se poderia pensar que o “trumpismo” gerou uma onda de mea-culpa, em que as instituições começaram a tentar parecer mais igualitárias, a fim de reparar danos históricos. Contudo, o que aconteceu foi o contrário”, afirma. “Paradoxalmente, penso que este foi o momento de uma reviravolta institucional que ganhou o mundo, levando adiante pautas que os movimentos sociais vêm pressionando pelo menos desde os anos 1980, expandindo as reivindicações dos anos 1960 para contextos mais amplos como as lutas pela igualdade de gênero, entre outras.”
Na avaliação da colunista, o que se consolida mais recentemente, ao longo dos anos 2000, é o viés da politização da cultura. “Esse é um âmbito em que as disputas narrativas contra o colonialismo institucional são o eixo mais importante. Essas linhas de ação são tributárias também de governos democráticos que abriram espaço para o reconhecimento dessa multiplicidade de vozes.”
A professora explica que o governo Trump é marcado pela tomada do poder por grupos antagônicos a essas transformações que operam na mão contrária de uma série de conquistas, acirrando as disputas narrativas que já redesenharam o mapa das políticas culturais forçando as instituições a repensarem seu projetos, acervos, curadorias etc. “Os principais legados desse período nas artes e na cultura são as iniciativas que mostraram a capacidade da arte e cultura de fazer frente ao conservadorismo de forma inovadora e crítica. Nesse contexto, chamo a atenção para movimento Decolonize This Place, por um lado, e a explosão dos memes, que transformaram a internet em uma deliciosa e perversa Memeflix planetária.”
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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