Armas tendem a agravar violência urbana, dizem especialistas

Em muitas circunstâncias, cidadão armado corre mais risco de morrer (e matar) do que desarmado. Regulamentação do acesso a armas de fogo no Brasil foi tema do USP Talks; assista aos vídeos

 31/05/2019 - Publicado há 5 anos
Por
MauricioDieter (esq.) e Bruno Manso (dir.) – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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Se você está pensando em comprar uma arma de fogo para se proteger de criminosos, leve em consideração o seguinte: as chances de essa arma causar a sua própria morte ou de alguém que você ama são bem maiores do que a probabilidade de você utilizá-la de forma efetiva, algum dia, para se defender de um bandido. Pelo menos, é o que mostram as estatísticas de mortes envolvendo o uso de armas de fogo legalizadas, segundo os especialistas Bruno Paes Manso e Maurício Dieter, da Universidade de São Paulo (USP).

Eles foram os palestrantes do último evento da série USP Talks, que discutiu a regulamentação da posse e do porte de armas de fogo no Brasil. Os vídeos do evento, realizado no dia 28, estão disponíveis abaixo.

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Manso lembrou que mesmo policiais militares, ao reagirem a uma tentativa de assalto fora de serviço, morrem com muito mais frequência quando estão armados do que desarmados. “Mesmo quando você é treinado para isso, você tem contra você o fato do elemento surpresa do ladrão; então a tentativa de reação muitas vezes acaba resultando na própria morte”, ressaltou. “A maior parte dos latrocínios (roubo seguido de morte) acontece quando a pessoa está armada.”

Segundo ele, a flexibilização do acesso a armas de fogo, defendida pelo governo federal, tende a agravar o problema da violência urbana no Brasil, que já é o país com a maior taxa de homicídios no mundo. Foram cerca de 64 mil homicídios em 2017; 70% deles provocados por arma de fogo. “Estão jogando gasolina nessa fogueira que já está queimando”, disse Manso.

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O direito individual à autodefesa é inquestionável, mas está sujeito à regulamentação pelo Estado, assim como qualquer outro direito, e não implica necessariamente um direito ao uso de armas de fogo, segundo Dieter, que é professor de Criminologia e Direito Penal da Faculdade de Direito da USP.

Em muitas circunstâncias, destacou ele, a presença da arma aumenta o risco de morte das pessoas — inclusive em situações cotidianas de conflito social, como brigas de trânsito ou brigas domésticas. Cerca de 70% das pessoas mortas por armas lícitas nos Estados Unidos, por exemplo, “são pessoas que você conhece, ama ou respeita”. E na maioria desses casos, a motivação para o crime está ligada a questões afetivas ou relacionadas a dinheiro, brigas domésticas e coisas do tipo, segundo Dieter.

“Ou seja, o círculo de pessoas que acabam sendo mortas por armas que foram legalmente comercializadas são membros da família, amigos e conhecidos”, destacou Dieter. “Então, você vai matar alguém que você conhece, respeita ou ama por um motivo fútil. Isso vai te transformar de um cidadão de bem em um homicida qualificado, que é um crime hediondo.”

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Assista também ao debate entre os dois pesquisadores:

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Os vídeos de todos os eventos do USP Talks estão disponíveis no YouTube. O próximo encontro será no dia 25 de junho, com os professores Marcos Buckeridge e Alicia Kowaltowski discutindo o papel da ciência e das universidades públicas no desenvolvimento do País.

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