Nova espécie de titanossauro permite a descoberta de novidades evolutivas

Com diferenças ósseas em relação a outros titanossauros de espécies aparentadas, o “Titanomachya gimenezi” também é muito menor do que diversos outros saurópodes

 Publicado: 25/06/2024
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Fotomontagem Jornal da USP feita sobre imagem de Luiz Anelli (Projeto Trilha dos Dinossauros) e fotos do Guia Completo dos Dinossauros do Brasil
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Em Jurassic Park, a curiosidade da humanidade em conhecer mais sobre os dinossauros a fez recriar, através do DNA preservado em âmbares antigos, diferentes espécies do animal. Fora da ficção, podemos descobrir um pouco mais sobre esses animais pré-históricos, extintos há mais de 65 milhões de anos, através da paleontologia e seus estudos.

Recentemente, o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet) descobriu uma nova espécie de titanossauro, o Titanomachya gimenezi, que teria vivido na região da Patagônia durante o final do período Cretáceo. De acordo com Julian Cristian da Silva Junior, doutor pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, os titanossauros, que possuem diversas espécies descritas no mundo todo, são o grupo que representa a maior variação de tamanho dentro dos saurópodes, do qual fazem parte. Diferente dos braquiossauros, outro importante ramo dos saurópodes, os titanossauros se diversificaram mais na região sul do planeta, quando os continentes ainda eram ligados — a Gondwana.

“Nós temos os menores até indivíduos gigantescos, que também são do grupo dos titanossauros. O fato é que, dentro dos titanossauros, existe uma linhagem que nós chamamos de Saltasauridae, conhecido por ter tamanhos menores. Inclusive, ele tem um representante no Brasil, há pouco tempo foi descoberta uma nova espécie no interior do Estado de São Paulo chamada de Ibirania”, afirma. Segundo Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP e autor da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) em livros sobre dinossauros, diferente do nanismo, que é uma síndrome genética, as espécies nanicas de dinossauros apenas sofreram processos evolutivos que as deixaram menores, característica que não serve como validade taxonômica.

Luiz Eduardo Anelli – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Características do Titanomachya

Para distinguir uma espécie de outra, Silva Junior explica que os paleontólogos utilizam características anatômicas únicas. “O Titanomachya tem algumas características no esqueleto dele que são diferentes de todos os outros titanossauros. Mas o que chamou atenção na mídia foi por conta do tamanho dele, com uma estimativa de peso de cerca de sete toneladas, mais ou menos o mesmo peso de um elefante africano adulto”, acrescenta. Além do peso, considerado pequeno, o dinossauro tinha, aproximadamente, apenas oito metros de comprimento, como conta Anelli.

Ele afirma que um dos ossos que diferenciam a espécie de outras é o astrágalo, um osso do tornozelo para o reforço das patas, que no Titanomachya é muito reforçado e tem características distintas dos grupos próximos dele na Argentina. “Esse astrágalo robusto, com sucos, pode ser uma característica antiga, mas que ainda não encontraram nas espécies anteriores, que tinham esse mesmo astrágalo, ou pode ser uma novidade”, diz.

O docente ainda confirma que, apesar das diferenças, o Titanomachya tem espécies aparentadas, algo muito comum durante a história evolutiva. Ele conclui: “No final do Cretáceo, os animais estavam se diversificando, cada um ocupando o seu nicho, e eles guardam parentesco. É a evolução que preserva a vida, porque os ambientes mudam e as vidas de 1 milhão de anos atrás não servem para este momento”.

Patagônia e paleontologia

Conforme Silva Junior, a Patagônia é uma região bastante importante para a paleontologia: “É uma região com uma abundância muito grande de fósseis e, por ser uma região mais árida, com pouca vegetação, facilita a escavação, porque uma coisa é fazer uma escavação em um deserto, outra coisa é fazer a escavação em uma floresta amazônica, por exemplo. Então tem muitos dinossauros que saíram dali”.

Julian Cristian da Silva Júnior – Foto: Currículo Lattes

O especialista explica que esses estudos servem para tentar preencher lacunas na história evolutiva da Terra, já que os animais e plantas que nós temos hoje representam uma fração muito pequena de tudo que já existiu no planeta. “Para saber como nós chegamos onde estamos hoje, evolutivamente, é importante revisar esse histórico, que está nos fósseis. Você consegue acompanhar a evolução desses grupos, desde grupos viventes, como aves, mamíferos, répteis, até grupos totalmente extintos, como foram esses grandes dinossauros”, complementa.

Para Anelli, a Argentina é um grande exemplo da importância dos estudos paleontológicos, já que o clima no período Cretáceo favoreceu muito o desenvolvimento de florestas e, consequentemente, de diversos saurópodes e outros dinossauros na região. Além disso, há uma grande valorização da paleontologia no país, como explica o professor: “Os argentinos têm isso a nos ensinar, eles exploram a pré-história deles com centenas de livros, documentários, museus, exploram o turismo, e tudo isso é um conhecimento sofisticado. A qualidade de vida das pessoas é multiplicada dezenas de vezes por conta desse conhecimento maravilhoso”.

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*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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