Tom festivo predomina na cobertura da imprensa brasileira sobre a Olimpíada

Veículos de comunicação celebram a nomeação do Rio de Janeiro como sede dos jogos olímpicos e deixam de discutir os custos do evento, destaca professor

 29/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 20/06/2018 às 10:50
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Foto: Reprodução / Revista USP n.108
Foto: Reprodução / Revista USP n.108

A maneira como a Olimpíada do Rio de Janeiro tem sido noticiada pela imprensa nacional, desde que a cidade foi anunciada como sede do evento, em 2 de outubro de 2009, é analisada pelo professor José Carlos Marques, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no artigo ‘Tá tranquilo, tá favorável’: a cobertura brasileira dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.

A referência ao sucesso do funkeiro MC Bin Laden no título do artigo reflete o ânimo que o professor enxerga – e mostra, através de fotos, dados e um quadro de manchetes – na cobertura dos veículos de mídia há cerca de sete anos. De início, Marques apresenta em números porcentuais quais foram as imagens que tiveram maior destaque nas capas dos jornais que analisou, indicando também algumas manchetes e anúncios publicitários. A grande maioria deles tem tom festivo, de celebração e orgulho pela “conquista” da nomeação para sediar os jogos olímpicos. A partir daí, o professor tece uma crítica à imprensa e ao papel desempenhado por ela em tempos de megaeventos como a Olimpíada.

“Nesse clima de ‘tá tranquilo, tá favorável’, poucos veículos se lembraram de colocar em discussão em suas primeiras páginas o fato de que os custos para organizar os jogos olímpicos atingiriam uma cifra próxima dos R$ 30 bilhões, ao câmbio da época. Quando o fizeram, esses jornais diluíram a informação em meio às imagens dos festejos populares ou das celebrações oficiais na reunião de Copenhague (onde ocorreu a escolha da sede olímpica)”, analisa Marques.

Além disso, o professor explicita a relação mercadológica desenvolvida pela cobertura televisiva em relação a esse tipo de evento. “Dificilmente a televisão assumirá o papel de problematizar e colocar em diferentes perspectivas a mediação dos jogos olímpicos, tendo em vista o fato de ser partícipe e consorciada do mesmo evento”, escreve. “A informação, a análise e a entrevista aprofundada cedem espaço ao puro divertimento.”

Essas observações corroboram previsões feitas entre os anos 1960 e 1970 por dois pensadores franceses citados por Marques, Jean-Marie Brohm (1940) e Pierre Bourdieu (1930-2002), que acreditavam que as características do esporte moderno refletiriam as da sociedade global capitalista e que a pressão pela audiência nos meios de comunicação (especialmente TV e rádio) se tornaria tão grande quanto aquela imposta aos atletas para que consigam medalhas. Esse fenômeno tornaria o conteúdo jornalístico menos informativo e crítico e mais comercial e alienante. Diante desse cenário, o professor lamenta o fato de que “poucas coisas parecem ser capazes de perturbar o clima de ‘tá tranquilo, tá favorável’ que cerca a organização atual dos Jogos Olímpicos do Rio.”

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