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Foto: Divulgação / Projeto O-SI
Ônibus se transforma em clínica para ajudar no combate à covid-19
Primeira unidade já está em operação e pode atuar na vacinação, testagem e atendimentos de baixa complexidade; projeto tem capacidade de atender mais de 4 mil pacientes por mês
22/02/2021
David Ferrari
No final de dezembro, começou a funcionar a primeira unidade da plataforma O-SI para colaborar no combate ao coronavírus. O Ônibus de Saúde Imediata tem capacidade para realizar vacinações e testagem de pacientes, além de atendimentos de baixa complexidade, como diagnóstico, medicação intravenosa e exame de sangue. A clínica móvel foi idealizada por Andre Zanolla, estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em parceria com profissionais da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Financiada por empresas e instituições de diversos segmentos, como escritório de arquitetura, indústrias químicas e farmacêuticas e do setor de saúde, a estimativa é de que a plataforma atenda cerca de 4 mil pacientes mensalmente em cada unidade. O primeiro O-SI, já em circulação, tem atuado apenas com o setor privado, levando atendimentos de saúde a funcionários de empresas contratantes da região metropolitana de São Paulo. Outros dez veículos já estão em processo de adaptação para se tornarem uma clínica móvel.
Segundo Andre Zanolla, que está no quinto ano da FAU, o objetivo é oferecer os serviços da plataforma também ao Sistema Único de Saúde (SUS). Alguns municípios e Estados das regiões Norte e Sudeste, ainda mantidos em sigilo, mostraram interesse no projeto e estão em fase de negociações para que seja disponibilizado no sistema público.
A clínica móvel é feita a partir de adaptações na estrutura de ônibus que saíram de circulação do transporte público. Na maioria das cidades, podem circular apenas veículos de até 10 anos. Conforme observado por Zanolla, boa parte da frota aposentada torna-se sucata devido à baixa demanda, sendo que muitos são destinados a desmanches. “A ideia da plataforma é reaproveitar essa infraestrutura preexistente e torná-la um equipamento de saúde complementar de longa duração”, explica.
O custo de cada unidade equipada é em torno de R$ 200 mil, excluindo-se impostos e equipamentos hospitalares.
Andre Zanolla, aluno do quinto ano da FAU-USP que idealizou o projeto O-SI, Ônibus de Saúde Imediata - Foto: Divulgação / A´Design Award
A plataforma O-SI recebeu o primeiro prêmio no A’Design Awards, categoria War on Virus , que buscava identificar as melhores iniciativas de combate à covid-19 em escala mundial. Além disso, recebeu em 2020 menção honrosa no 58o. Prêmio Anual do IAB-RJ (Instituto de Arquitetos do Brasil) na categoria Reúso e Transformação de Estruturas.
O O-SI é equipado por um sistema de câmaras de refrigeração médica de 2 a 8 graus (ºC) certificado para conservação de vacinas como CoronaVac e AstraZeneca/Oxford. Ele tem capacidade para armazenar até 6 mil doses simultaneamente.
O veículo possui estrutura para a testagem de pacientes para o coronavírus, como RT-PCR, testes rápidos de antígeno e testagem sorológica IgG e IgM. Ele pode atuar tanto nos testes em massa quanto no inteligente, este último restrito a determinados grupos populacionais.
Para melhorar a acessibilidade dos espaços, o projeto conta com a adaptação dos espaços, como com corrimãos, piso podo-tátil (marcações no chão para deficientes visuais) e linguagem visual objetiva e com contraste de cores. Isso permite que sejam atendidos pacientes como Pessoas com Deficiências (PCDs), idosos e pessoas com baixa visão.
Fotos: Divulgação / Projeto O-SI
Preocupação com a saúde dos usuários
Os integrantes do O-SI identificaram por meio de pesquisas que parte da população deixou de ir a hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) devido ao medo do contágio pela covid-19. Buscando atender essa parcela e preocupados com a segurança dos pacientes e profissionais de saúde, os idealizadores desenvolveram o projeto do ônibus.
Por se tratar de uma estrutura móvel, a clínica consegue estar em locais estratégicos, principalmente em regiões que não possuem hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS). Para Andre, a descentralização dos atendimentos hospitalares é uma forma de garantir o acesso universal à saúde.
Como a questão da biossegurança tornou-se imprescindível para a viabilidade do projeto, o O-SI teve uma consultoria médica prestada por docentes da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. O responsável pela criação e revisão dos protocolos de segurança é o médico Sun Rei Lin, professor e coordenador do Pronto-Socorro de Cirurgia do Hospital São Paulo.
Para reduzir as chances de contágio, as unidades possuem um sistema de insuflamento de ar com filtragem que reduz de maneira eficiente odores, fumaça e carga microbiológica no ambiente. Isso faz com que sejam capazes de inativar 98% da carga viral de Sars-Cov-2 (coronavírus) presente no ar em pouco mais de três horas. Há também um sistema de recirculação de ar com filtragem que elimina até 99% dos vírus e 99,99% das bactérias.
Uma vez ao dia, entre turnos de atendimento, as unidades são sanitizadas com tecnologia que produz nanopartículas que aderem a superfícies. De acordo com os criadores do projeto, essa técnica previne o risco de contaminação cruzada entre pacientes e profissionais da saúde, tornando o ambiente biosseguro.
As paredes da clínica móvel possuem também um material que garante baixa porosidade, diminuindo o acúmulo de partículas sólidas e que facilita os processos de higienização da unidade. Além disso, as divisórias hospitalares possuem fibras com efeito antimicrobiano, que impede o crescimento de populações de bactérias e fungos na superfície.
Projeto recebeu o prêmio no A’Design Awards que buscava identificar as melhores iniciativas de combate à covid-19 - Fotos: Divulgação / Projeto O-SI
Plataforma de uso para além da covid
Apesar de existir uma preocupação em especial com a covid-19, Andre vê o O-SI como um “projeto-legado”, ou seja, uma estrutura permanente de longo prazo. “Além das vacinas para combate à covid-19, podemos armazenar, distribuir e aplicar outros diversos tipos de vacinas do calendário de imunização nacional”, afirma.
A plataforma O-SI foi projetada para que contemplasse processos convencionalmente realizados em uma Unidade Básica de Saúde Tipo I, que inclui atendimento médico, processos clínico-diagnósticos não invasivos, infusões de medicamentos, atendimento médico com especialista por telemedicina, coletas laboratoriais, testagens e vacinação.
Para os idealizadores, o projeto pode se tornar uma ferramenta para atendimento médico descentralizado capaz de reduzir as filas de espera para consultas e exames, principalmente para a população mais vulnerável.
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Mais informações: e-mail andre.zanolla@usp.br, com Andre Zanolla