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Crianças "revisam" artigos científicos em projeto com participação de pesquisadores da USP

Artigo de pesquisadoras do Instituto de Biociências da USP sobre “tubarões urbanos” passou por revisores de 8 a 15 anos na revista científica para crianças Frontiers for Young Minds

 13/06/2023 - Publicado há 1 ano

“É comum ver alguns animais silvestres no ambiente urbano, como esquilos e guaxinins, mas já pensou em tubarões na cidade?” Segundo artigo publicado na revista Frontiers for Young Minds, os tubarões vivem mais perto das pessoas do que se imagina, e embora viver em cidades costeiras possa trazer muitos benefícios, como alimentação abundante e proteção contra grandes predadores, os chamados “tubarões urbanos” são afetados negativamente pela poluição e pesca.

O artigo foi publicado pelas biólogas Renata Guimarães Moreira e Bianca de Sousa Rangel, respectivamente, professora e pós-doutoranda no Instituto de Biociências (IB) da USP, ao lado do ecologista norte-americano Neil Hammerschlag, professor da Universidade de Miami e co-orientador de Bianca durante o doutorado. Eles estudaram os tubarões-de-pontas-negras que vivem perto da cidade de Miami, na Flórida, Estados Unidos. O resultado da pesquisa, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é apresentado no artigo A Vida urbana afeta a nutrição dos tubarões (Urban Living Affects the Nutrition of Sharks). 

Uma publicação deste tipo seria considerada corriqueira na vida de um cientista não fosse por um detalhe: foi publicada numa revista científica voltada para crianças e “revisada” por crianças. Na Frontiers for Young Minds, cientistas de renome são convidados a escrever sobre suas descobertas em uma linguagem acessível para jovens leitores, cabendo às próprias crianças – com ajuda de um mentor científico – “revisar” as matérias. Ou seja, os editores acreditam que a melhor maneira de tornar as descobertas científicas de ponta disponíveis para o público mais jovem é permitir que jovens e cientistas trabalhem juntos para criar artigos de alta qualidade e empolgantes. 

As pesquisadoras Beatriz de Sousa Rangel e Renata Guimarães Moreira, do Instituto de Biociências da USP – Foto: Divulgação/FFYM

“Procuramos conectar mentes curiosas aos especialistas e fornecer informações que os motivarão a fazer perguntas e críticas sobre a ciência real ao longo de suas vidas. Ao trabalhar diretamente com cientistas, garantimos que nosso conteúdo seja da mais alta qualidade. Ao trabalhar diretamente com as crianças, ajudamos a fomentar a curiosidade dentro e fora da sala de aula e a envolver a próxima geração de cidadãos e cientistas”, explicam os editores no site da revista, que é reconhecido como um dos melhores sites para crianças de 2014 pela American Library Association. 

A bióloga Bianca Rangel, em entrevista para a Agência Fapesp, destaca que foi muito interessante e enriquecedor passar pela experiência de um processo de revisão por pares em que os revisores são crianças. “Um grande desafio foi conseguir comunicar de forma clara e objetiva a ciência que fazemos no campo e no laboratório para esse público”, disse a pesquisadora.

Bianca também ressaltou que um dos objetivos dos pesquisadores envolvidos no artigo sobre “tubarões urbanos”  foi alcançar um público mais amplo para o trabalho realizado. “Ao adquirir conhecimento ainda no começo da vida sobre a importância dos tubarões, talvez esses jovens possam influenciar os pais e tomar melhores decisões no futuro para que esses animais não sejam extintos”, conclui.

Página da publicação científica Frontiers for Young Minds e o artigo das pesquisadoras brasileiras – Foto: Reprodução/FFYM

Os revisores dos artigos são crianças que têm entre 8 e 15 anos, que leem e recomendam alterações que facilitem a compreensão do texto para o público jovem. Logo no início eles se apresentam, no caso do artigo sobre tubarões urbanos, como Alice, 12 anos, que tem como hobbies ouvir música, praticar esportes e aprender química na escola: “Quando eu crescer, quero me tornar um químico de alimentos e defender problemas como o racismo”; e Yu, de 14 anos, que gosta de nadar, brincar com animais e é apaixonado pela agroecologia e conservação da biodiversidade, desde a infância: “Sou um membro ativo do clube de Proteção Ambiental do Clima. Eu gosto de pegar lixo plástico e colocá-lo em seu lugar reservado”.

Apresentação das crianças que revisaram o artigo de pesquisadoras do Instituto de Biociências da USP – Foto: Reprodução/FFYM

Tubarões em risco

Na estudo que deu origem ao artigo publicado na revista científica para crianças, os pesquisadores queriam avaliar se a vida urbana afetava as dietas e saúde dos tubarões, e descobriram que eles eram mais gordos do que os tubarões que vivem em áreas conservadas.

“Em comparação com o oceano aberto, as áreas costeiras geralmente têm mais comida para os tubarões, o que torna essas áreas atraentes para eles. Tubarões jovens costumam usar águas rasas, que são protegidas de predadores, como berçários durante seus primeiros anos de vida, antes de se mudarem para águas mais profundas quando adultos. Áreas rasas perto da costa também tendem a ser mais quentes, o que ajuda a acelerar o crescimento de tubarões jovens. No entanto, os tubarões que utilizam as águas costeiras também estão expostos a inúmeras ameaças humanas, principalmente próximo às grandes cidades. Essas ameaças incluem pesca, tráfego de barcos e poluição. Por exemplo, a poluição luminosa das cidades pode alterar o comportamento dos tubarões e suas presas”, escrevem os autores do artigo.

“Os tubarões são extremamente importantes para o equilíbrio dos oceanos e até do clima do planeta. Ações precisam ser tomadas já para diminuir a sobrepesca e garantir um futuro melhor para nossas crianças”, completa Renata Guimarães Moreira, coordenadora da pesquisa, também em entrevista para a Agência Fapesp. 

Leia o artigo A Vida urbana afeta a nutrição dos tubarões (Urban Living Affects the Nutrition of Sharks) na íntegra neste link.

Os resultados da pesquisa também foram publicados na revista Science of the Total Environment

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Com informações do jornalista André Julião, da Agência Fapesp


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