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Arte sobre foto/PRCEU, Freepik
Aids em tempos de covid-19: repositório da USP informa e ajuda a combater estigma
Na semana que celebra o Dia Mundial de Luta contra a Aids, números e informações do Repositório de Educação em HIV/Aids do programa USP Diversidade oferecem um panorama mundial e orientam sobre redução da discriminação
02/12/2020
Redação
A pandemia de covid-19 trouxe uma preocupação referente a outra pandemia, 40 anos mais antiga: a de que o fechamento de fronteiras e as medidas para combater o coronavírus afetem negativamente a meta de extinguir a epidemia de HIV até 2030. Nos últimos dez anos, o número de novas infecções pelo HIV caiu 23% e as mortes relacionadas à Aids recuaram 39%. O mundo alcançou um número recorde de 26 milhões de pessoas em tratamento com medicamentos antirretrovirais. Ainda assim, estima-se que ocorrem por ano 1,7 milhão de novas infecções pelo HIV.
Durante a pandemia de covid-19, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) tem reforçado a mensagem para que os países façam investimentos e adotem medidas ousadas para reduzir o número de infecções. Mas as políticas de confinamento e o fechamento das fronteiras afetaram a produção e a distribuição de medicamentos – o que, segundo uma análise do Unaids, poderia gerar aumento de custos dos remédios e problemas de abastecimento.
“Todas as pessoas têm direito à saúde e a pandemia da covid-19 demonstrou que para algumas pessoas o acesso é ainda mais difícil. É necessário que a comunidade acadêmica, governos, sociedade civil e o sistema de saúde trabalhem não só o aspecto dos medicamentos, mas também como esses medicamentos vão chegar às pessoas que precisam”, afirma Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids no Brasil.
De fato, em julho deste ano, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que a covid-19 havia colocado em risco os estoques de medicamentos antirretrovirais em 73 países. De lá para cá, a situação melhorou e apenas nove países continuam enfrentando rupturas nos serviços de atendimento para o HIV. Muitos adotaram medidas inovadoras durante a emergência da covid-19, incluindo aconselhamento por telemedicina, testes de HIV que podem ser feitos em casa e a utilização da infraestrutura dos laboratórios de HIB e tuberculose também para a covid-19.
Na semana que celebra o Dia Mundial de Luta contra a Aids, o Jornal da USP reuniu alguns dados sobre o HIV e a Aids que podem ser acessados no Repositório de educação em HIV/Aids, Sexualidade e Diversidade, iniciativa do Programa USP Diversidade em conjunto com o Unaids. Os conteúdos foram sugeridos por Ana Paula Morais Fernandes, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP e coordenadora do USP Diversidade.
Ana Paula Morais Fernandes, coordenadora do USP Diversidade - Foto: Arquivo Pessoal
O vírus em números
38 milhões
é o número de pessoas que viviam com HIV em 2019, em todo o mundo
1,8 milhão eram crianças
CERCA DE
7,1 milhões
não sabiam que vivem com HIV
40%
foi a queda no número de novas infecções desde o pico da epidemia, em 1998
Os novos casos caíram de 2,8 milhões naquele ano para o patamar de 1,7 milhão em 2019
52%
Foi a queda de novas infecções por HIV em crianças desde 2010
HIV não é o mesmo que Aids
Muitas pessoas que vivem com o vírus HIV passam anos sem desenvolver a doença
60%
foi a queda nos casos de mortes relacionadas à Aids desde o pico alcançado em 2004
Combatendo o estigma
Segundo um documento de referência do Secretariado do UNAIDS, a presença de estigma específico a certas condições de saúde foi observada na pandemia do HIV, nos surtos de ebola e zika e também na atual pandemia de covid-19.
O documento alerta que, em vários países, as pessoas vivendo com HIV relataram terem sido obrigadas a revelar seu estado sorológico quando procuraram serviços de tratamento, testagem e prevenção para o HIV durante o lockdown. Isso ocorreu principalmente com adolescentes, mulheres e pessoas trans.
Para o Unaids, situações relacionadas ao estigma podem interferir na prevenção, testagem e adesão ao tratamento.
Uma ferramenta utilizada mundialmente para detectar e medir tendências em relação à discriminação pelo HIV é o Índice de Estigma. Em 2019, o índice foi aplicado pela primeira vez no Brasil.
Os entrevistados formavam um grupo com escolaridade maior que a média nacional de pessoas vivendo com o HIV. No entanto, esse dado não reflete as condições de vida dos entrevistados.
30,6%
estavam desempregados
13,3%
tinham muitos problemas para suprir suas necessidades básicas na maior parte do tempo
Art. 1º - Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente:
(..)
V - divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;
Lei Federal nº 12.984, de 2 de junho de 2014
Diferentes formas de estigma e discriminação
"O HIV me fez perder o emprego, devido ao estigma. Fui testado sem meu consentimento em minha empresa, além de zombarem de mim"
"Se faço um teste para covid-19, devo dizer a eles que vivo com HIV?"
Segundo um guia do Unaids editado para responder dúvidas de jovens e adolescentes, ninguém pode ser obrigado a revelar esta informação. Cabe somente à pessoa que faz o teste a decisão de informar sobre seu estado sorológico para o HIV. No entanto, informar à equipe da unidade de saúde sobre esta ou qualquer outra condição pode ajudar a assegurar o melhor cuidado possível.